O “cartel” anunciado para a corrida do dia 3 de Junho de 1951 na Praça de Toiros do Campo Pequeno, prometia.
Foram anunciados os cavaleiros Simao da Veiga e Rosa Rodrigues e os matadores Luís Miguel “Dominguín” e Manuel dos Santos. Esperava-se um “duelo” entre estes dois grandes vultos do toureio a pé, e, como é habitual, uma forte afluência de público aos “tendidos”.
Tudo parecia encaminhar-se para uma grande tarde de toiros e, assim o foi.
Os cavaleiros tauromáquicos presentes, estiveram ao seu melhor nível nas lides do curro da Ganadaria Assunçao Coimbra, arrancando constantes aplausos do entusiasmado público que enchia a Monumental de Lisboa.
Na lide do quarto toiro, Manuel dos Santos efectuou uma “tremenda” lide, quer com o capote quer com a muleta. O seu toureio templado, arrojado e sabedor, levou a que o público presente delirasse e apoiasse efusivamente o matador da Golega.
Para espanto de todos, chegada a hora de matar, Manuel dos Santos usa a sua espada e numa estocada fulminante mata o toiro “ribatejano”, colocando em delirio toda a praça que com lenços brancos, pediu ao director de corrida Sr. Justiniano Gouveia, também ele antigo cavaleiro, o prémio merecido para esta lide.
Recebeu “Manolo de los Santos”, como os espanhóis gostavam de lhe chamar, as duas orelhas e o rabo, dando em seguida quatro voltas à arena aos ombros de aficionados em autêntico delirio.
Acabada a lide Manuel dos Santos foi chamado à enfermaria onde, na presença do ganadero e do director de corrida, foi presente ao Coronel Mário Cunha, Comandante Geral da Policia, Major Carmo e Tenente Carvalho Branco e Araújo que lhe deram ordem de detençao, nao podendo sequer continuar a corrida.
Luis Miguel “Dominguín” que pese embora já nao falasse com o matador português à cerca de 3 anos, dada a amizade que dos Santos tinha com Carlos Arruza, grande rival de Luis Miguel, solidarizou-se com Manuel dos Santos, afirmando que se assim fosse, também ele nao lidaria mais nessa tarde, o que levou os responsáveis a permitir que a corrida continuasse, tendo mesmo o toureiro da Golega lidado mais um exemplar.
“Dominguín” brindou-lhe públicamente a lide do seu toiro, com as seguintes palavras:
“Manolo, te brindo la faena deste toro, porque me parece que has conseguido una cosa que nadie, aquí, hasta ahora, ha conseguido “
Manuel dos Santos foi encaminhado para o Governo Civil de Lisboa, sempre com a presença do seu advogado Dr. Bustorff Silva, onde terá pernoitado num quarto particular e, mais tarde, levado à Policia Judiciària de Lisboa para interregatórios.
Acabou em liberdade depois de ter pago a fiança de 30.000 escudos.
Manuel dos Santos voltou a torear nos anos seguintes numerosas corridas no México e Espanha, retirando-se anos mais tarde para se dedicar à sua carreira de empresário.
Fonte: Pepe Luiz- Manuel dos Santos, toureiro de casta (BNP)