O anúncio de um espectáculo taurino que contenha a menção a ganadaria de créditos firmados despoleta a deslocação e presença de aficionados de solera, revendo-se em produtos de tal origem quanto à seriedade que sempre se almeja num combate sui generis como é o da luta ancestral do Homem com o toiro.
Nos últimos anos, por mais que uma vez, tivemos breves trocas de impressões com o ganadeiro da herdade do Pedrógão, sempre dele recebendo a garantia da fidelidade a uma concepção de toiro de lide que leva a emoção às bancadas, desde logo, em termos de apresentação, depois e fundamentalmente, no que tange ao comportamento.
Neste particular, saliente-se que, na Palha Blanco, os Teixeiras, na generalidade, tinham que tourear, com os artistas a ficar aquém do exigível, atentas as características dos hastados.
Concretizando, muitas das vezes em que os cavaleiros se mostraram aos oponentes, que é coisa diferente da observância do cite, estes dispuseram-se à luta, preparando e até iniciando o arranque. Todavia, tal lhes não foi permitido, em nome da comodidade reinante, que esperar para reunir, ainda que mais meritório, porque genuíno, é coisa bem distinta do que atacar, o que sempre aconteceu, rumo à concretização das sortes.
João Salgueiro referiu há dias ser pedagógico lembrar ao público as suas prerrogativas, em matéria de concessões de prémios aos toureiros, no final das actuações.
Vinda de quem veio, em nada nos espantou essa tomada de posição, que, em Valada do Ribatejo, há valores sempre invariavelmente observados ao longo já de várias gerações, por parte de uma Família com cultura taurina incontroversa.
Navegando nas mesmas águas, será oportuno referir, uma vez mais, na hora crepuscular, em termos de conhecimentos tauromáquicos, que nos é dado viver, que a prioridade de partida proporcionada ao adversário, havendo condições para tal (não sendo aquele, por exemplo, tardo) é regra de oiro da especialidade, logo conferindo aos seus cultores pontuação que irá desiquilibrar a seu favor o resultado final, no cotejo com os que o não são …
E o respeito que é devido a um curro Veiga Teixeira ajuda a explicar a razão pela qual figuras do toureio chegaram a divorciar-se de tal divisa, desse modo recusando o encontro que lhes era oferecido…
Uma palavra é devida também à Tauroleve, que leva já há anos a mítica praça, com o aplauso de aficionados e demais espectadores; aqueles, pela nota alta que conferem à gestão; estes, pela afirmação a retirar da sua presença, num tempo de crise e de falta de recursos como o de agora, valendo como exemplo o final da época transacta, em que a encerrona de António Telles devolveu a Vila Franca o ambiente de outros tempos, tal a afluência de público verificada.
Empresa essa que, de resto, discreta, mas eficientemente, tem subido a pulso a escada do êxito, levando já outros tauródromos e apoderando vários artistas, tudo fruto da implantação grangeada no mundillo, por sua vez, natural consequência do bom nome alcançado no mercado.
Quanto à corrida propriamente dita, o cartel era atractivo em qualquer das suas composições em jogo.
Para o nosso gosto, ficamos com Ana Batista, de novo, bem, com um cavalo de bandarilhas que empresta às reuniões um brilho peculiar, na espera subtil com que valoriza o labor da artista de Salvaterra, aguardando-se oportunidade de a rever, agora integrada em terna, para, com lote de dois toiros, aquilatarmos das potencialidades da quadra para as exigências de toda a temporada.
O mesmo se diga de Jacobo Botero, ainda noutro estatuto, competindo com os profissionais e que, sem o auxílio da quadrilha, recolhida por sua determinação, teve o valor suficiente para se colocar nos médios à espera do toiro mais pesado e difícil da corrida e que saiu para o comer, consumando numa gaiola, para, depois, aguentar sem mácula impetuosa recarga.
Na verdade, o mérito desse ferro teve a ver com o posicionamento do conjunto no centro da arena, dando todas as vantagens ao cornúpeto, que, à saída dos curros, não teve que perder tempo nem cercear ímpetos para se inteirar da nova realidade em que estava inserido, com o adversário ali à frente, em linha recta e bem visível.
Coisa distinta e de menor valia tem lugar se o cavaleiro, na mesma sorte, estiver colocado nos tércios, por definição, não imediatamente perceptível, de igual maneira, pelo morlaco.
E, sem essa perda de tempo, a investida pôde ser rápida e imediata, com o mérito correspondente para quem a recebeu de forma tão verdadeira.
Tarde de toiros agradável, esta, de Vila Franca, a abrir já o apetite para o Colete Encarnado, mesmo que, para tal, a aficion tenha que fazer dieta na área, no intervalo de menos de dois meses que a separa de tais festejos…