(1ª parte)
TOIRADA - igual a uma manada de touros; Boiada; espetáculo em terreno cercado, no qual se enfrentam touros bravos, ou pastejam; “achega” dos bois (lá para o Norte) - fig. Barulheira; tumulto, chacota, confusão.
Na consulta a um dicionário, ao calhar, entre os disponíveis na minha estante particular, encontrei a definição de Toirada tal como a reconheço desde que me foi permitido o esmerar de aprendizagem daquelas coisas do ler, escrever e consequentemente do saber.
De facto, aquele secular e histórico termo sempre pretendeu definir a palavra toiro e o que a ele se concerne todavia, nada na vida é efetivo e, com o decorrer dos anos sempre terá sido notória a constante variedade de comportamentos, mobilidade de termos, géneros e genes; a terra gira e nós giramos com ela e assim, nada é efetivo e como consequência tudo está sujeito a transformação; havendo, no entanto, alguma analogia entre TOIRADA e CORRIDA DE TOIROS!
Que ninguém pense ou adormeça perante a vivacidade e internacionalização da palavra Toirada – sendo no entanto esta, a palavra generante da própria festaporém, a sua sustentação na atualidade está mais aproveitada pelos detratores da festa – como se comprova nas manifestações que se deixam ver no Campo Pequeno, em Viana do Castelo ou mesmo, ultimamente em Estarreja, tendo sido os protagonistas de tamanha arruaça ao ponto de terem sido notificados pela G:N:R., três dezenas de gatos-pingados, chuca pitos, fundamentalistas, extremistas perante uma praça de touros repleta de povo encantado com a beleza do espetáculo enfim, afinal isso vem acontecendo um pouco por todo lado e até, fora das nossas fronteiras, como no caso das festas de “San Fermín” em Pamplona, embora, de facto, o secular termo ainda tenha algum crédito regionalmente falando, incluindo os Açores. E a ser assim, mesmo respeitando nós estes regionalismos, é a Toirada que continua na moda para aqueloutros, os zoilos!
Iremos então considerar para o assunto em causa, o último termo dos dois referidos e deixemo-nos de toiradas – neste caso, à portuguesa – por não me agradarem em nada as barulheiras, tumultos, chacotas e confusões, mesmo que seja figuradamente! Como é o caso, quando assistimos às arruaças, como nos esclarecem as coleções alfabetadas dos vocábulos disponíveis na língua portuguesa, mesmo sendo em sentido figurado!
A utilidade do bovino silvestre, ainda em tempo dos Uros – bos taurus taurus - os que foram provenientes dos Auroques - Bos primigenius -, chegando estes a atingir uma tonelada; osprimeiros porém, mais comedidos em peso absoluto terão sido dotados de vida quiçá, até ao primeiro trissecular da nossa monarquia, sendo que antes ainda, havia necessidade de adestramento de guerra para os fidalgos cavaleiros e assim, em período de cio eram levadas manadas de fêmeas selvagens para as copiosas florestas do norte afim dos machos que ali tinham o seu habitat ciosos se interessarem e misturarem com as mandarinas – nome como então se reconheciam as úteis traiçoeiras. Nas bases eram armadas paliçadas para aonde todos os animais eram guiados, encurralados e depois, apartados conforme o sexo e o número conveniente para cada ato de exercício físico quer para os ginetes guerreiros ou montadas, quer ainda para a procriação. Os pobres machos, coitados, acabavam só cheirando… e já gozavam!
Os hábitos criam o monge – o mesmo que benzia todas as operações e os intervenientes,incluindo a chusma que armada com chuços colaborava enquanto peões em todas a azáfama.
Aqui se deve o abono fundamental, a basilar geração e princípios da promoção de procriação seletiva. Terá sido deste modo que mui basilarmente se criou a primitiva ideia do apuramento de raça em relação ao gado, ainda selvagem – seria então, uma forma seletiva muito ténue.
Mesmo assim já terá sido um nobre princípio muito embora, tudo fosse muito primário e sem efeitos notórios de considerável aproveitamento senão, para aquela prática de exercício de guerra, agrícola e consumo da carne! Curiosamente, ainda na atualidade, na bonita e alentejaníssima região da vila de Sousel, ainda no meu tempo de forcado, o público chamava madrinhas às reses fêmeas que então, serviam para o natural encabrestamento do gado bravo – compreenda-se, mandarinas (termo (arc.), versos madrinas (cast.) e madrinhas (port.).
Para quê tanta toirada à volta disto, se todos nós reconhecemos que para alguma menoríssima parte da população aquele termo enseja, de um modo malévolo, carga absolutamente negativa para a festa dos touros… corrida de touros à portuguesa, mista ou integral à espanhola e pronto, assim deverá ficar para todos os seres.
Hoje, também ouço por aí mais que muita vez: «As chocas trabalharam bem; as guias eram foleiras; vamos pegar o boi; eles pegaram os bois todos, etc.» Reconheço o entusiasmo de quem profere semelhantes citações, embora muito populares e de facto com coerência etogénica mas, incrivelmente deslocadas no tempo, de duvidosa parcimónia, notória ausência evolucionista, de fundamental progresso e até, desrespeito por um espetáculo que ao longo dos tempos veio sofrendo esmeradas e constantes transformações de base e, sempre procurando respeitar a excelência da raça.
Bois, são o resultado de uma vulgar raça doméstica ruminante da família dos Bóvidas muito utilizada em trabalhos pesados agrícolas, carga e na alimentação; bois, poderão ser bovinos castrados; bois, são animais de raça menor e, naturalmente, sendo-lhes dado o derradeiro destino ao atingirem o final do seu aproveitamento e ciclo de vida; bois, serão eternamente destinado a ser abatidos por aí em quaisquer matadouros às mãos de um magarefe sem escolha e, Infelizmente, não fora o aproveitamento da carne teriam um final absolutamente insignificantemente desvalorizado, qual musaranhos! Quase o mesmo direi ao fim do ciclo dos touros bravos em Portugal que, após tão gloriosa existência têm exatamente o mesmo fim! Como fora um valoroso guerreiro no meio do combate, morrer mordido por uma dentada de um escravelho infetado! O que não provém glória alguma ou, proveito! Que desgosto. (Continua na próxima semana…)
(Artigo escrito segundo as regras do novo A.O.)