Um espectáculo público, ainda por cima, pago, exige dos seus agentes um compromisso de verdade para com os destinatários, que, por sua vez, devem corresponder a esse esforço, pontuando-o em conformidade.
Está dito e redito que, em termos taurinos, é regra de oiro o respeito pelo toiro e pela assistência.
Quanto ao primeiro, em nome da sua irracionalidade, o adversário deve assumir uma postura anti-vantagista, dificultando ao máximo o seu próprio labor para disponibilizar àquele condições que valorizem q.b. o confronto respectivo.
Exemplificando, na primeira parte do nosso percurso de aficionado, era impensável o artista iniciar uma sorte a partir da querença natural, mormente quando o oponente manseava, pela facilidade com que, dessa forma, se lograva a investida. Daí ser ponto de honra o posicionamento do conjunto contra aquela, custoso como era assim suscitar a colaboração do oponente.
No que tange à segunda, durante muito tempo, justamente epitetada de respeitável, uma tal manifestação passava por tourear de acordo com as regras constantes dos tratados da especialidade,de que não estava ausente o elemento toiro, matéria-prima a cuidar sobremaneira, quer no campo, à espera do detalhe da lide, quer na praça, uma vez chegado o momento daquela.
Mudando agora de posicionamento, refira-se que, dos aficionados, era e é exigível saber corresponder a essa dupla manifestação para com eles e demais espectadores, consistindo tal em premiar o labor dos toureiros, durante as sortes, primeiro, no final delas, depois, assim aquecendo as mãos, sendo caso disso.
Vem isto a talhe de foice a propósito da corrida da passada semana no Campo Pequeno, praça centenária que ainda não queremos ver convertida em Centro de Lazer e das actuações a solo de Joaquim Bastinhas e seu filho, Marcos.
É que o valoroso ginete alentejano, antes do remate com o tradicional par, fez questão de lembrar que o seu rico reportório vai muito para além disso, entrando de frente no ferro que o precedeu e as sortes frontais são o supra-sumo do toureio.
Quanto a Marcos Tenório, hoje por hoje, um diamante lapidado, cravou dois ferros compridos de estarrecer, com o Passanha a acudir, em reuniões de tal modo cingidas que perpassou pela praça a sensação de colhida, mas com o talentoso intérprete a sair incólume de tão difíceis, exigentes e perigosas reuniões, em clara manifestação de auto-domínio e de total controle da montada.
Mas o certo é que, tanto num caso como noutro, o conclave foi escasso na retribuição proporcionada, desse modo vestindo pelo sempre desagradável figurino da injustiça…
Concluímos, pois, com o engenheiro Fernando Sommer de Andrade no pensamento e com as suas judiciosas considerações acerca da cultura tauromáquica de muitos daqueles que se sentam nos sectores, o que, pela sua importância e actualidade, será objecto de tratamento autónomo em próxima oportunidade.