O uso de metáforas e analogias é muito comum nos meus escritos, tenho por princípio trabalhar com disposição para alegrar a proposição.
Mas não será o caso deste meu sentido reconhecimento, porque falar, pensar ou escrever sobre quem estimamos e respeitamos extremosamente, torna-se quão difícil como descontínuo fica o deslisar da pena, o cérebro passa a dar mostras de pouco esclarecimento e a vocação aburra-se. É mau, o querer e não poder… como se de repente entrasse numa conversação tríade, composta por um surdo, um mudo e um parvo, os quais protagonizando uma cena, ao que eu, supostamente representaria o atoleimado falando, falando, falando mas… nada esclarecido para os seus entendimentos! Nessa medida, sendo-lhes impossível a clarividência do meu discurso, os fictícios companheiros, contrariamente, sem me compreender não me toleravam e assim, coniventes, o mais certo seria retirarem-se de braço dado e deixarem a minha imaginária figura a falar sozinha!
Não, não é nada fácil querer discorrer algo sobre tão significante exemplo e ditosa personalidade ribatejana que, não estando há muito entre nós, ainda hoje, só de pensar comprime-me o coração…
Ainda assim, algo há-de sair, vamos lá:
Celestino Graça, O Comendador, regente agrícola de formação, proeminente em Agricultura, Turismo, Enologia e Folclore o qual, cumpriria no decorrer natural do calendário, um século de vida no passado dia 9 de janeiro. Por desventura, ter-nos-á deixado em 24 de outubro de 1975… Para as gerações modernas já serão muitos anos!
Prezo saber, ser Ludgero Mendes outro querido e comum Amigo escalabitano, sapiente em usos e tradições regionais, tais como folclore e tauromaquia a encabeçar uma meritória homenagem póstuma pelo Centenário do nascimento do referenciado ilustre ribatejano, credor das maiores honrarias, as quais, dignificam e recordam a sua virtuosa memória.
Terá sido logo no início dos anos 60 a que eu tivera a afortunada felicidade de conhecer aquele ilustre, distinto e empreendedor cavalheiro, seria então um chavalo quiçá de 18 anitos quando amiúde já frequentava a histórica capital ribatejana para me juntar ao “Grupo de Forcados Académicos de Santarém”, com o qual atuava.
Dissera então, a preclara grata personalidade ao meu cabo de forcados «o moço além de ser um grande forcado, mais que tudo é muito educado e só por isso eu gosto dele».
Claro que eu vim a tomar conhecimento disso só depois e, talvez por esta razão, sempre que se proporcionava a oportunidade lá estava eu junto àquela galharda e altiva figura - que sempre fazia a sua presença raiar com extrema simpatia.
É certo que partiu mas, não sem antes deixar um fantástico rol de obra feita: A dar força à sua especialidade profissional, terá sido aquele erudito em agricultura o responsável pela introdução da cultura do cânhamo em Portugal; “Associação Académica de Santarém” foi por Ele fundada em 1931; seguiu-se a “Orquestra Típica Scalabitana” em 1946, um ano depois juntou-se-lhe o Orfeão, ambas instituições de âmbito cultural foram orientadas pelo Maestro fundador, o carismático António Gavino, igualmente meu saudoso Amigo, (amizade de Lourenço Marques); seguiram-se com fantástica criatividade, a famosa “Feira Agrícola Internacional do Ribatejo”, esta em 1954; a “Monumental Praça de Touros” a que, honrosamente sustenta o seu nome e, mais ainda, terão sidos diversos ranchos folclóricos de sua criação assim como, o mais internacional Festival Internacional e, para arrematar, dentro do que tenho conhecimento, revelou completa erudição enquanto conferencista em etnografia e ainda, como curiosidade, deixo dois pormenores que considero com assaz pertinência: o facto de ter sido em jovem, um fiel guarda-redes da baliza do “Clube de Futebol da Associação Académica de Santarém” e, a meu pedido, satisfeito a inclusão em um dos cartéis na monumental “Praça de Touros de Santarém”, no ano de 1975, do matador de touros José Júlio.
Era um fraternal Amigo e bem-haja à memória de quem nos avanços de correntes de uma feliz existência veio praticando bondade desta maneira. Foi uma lição de vida. Seja com for, eu queria-Lhe muito, confesso.
Celestino Graça deixou muitos créditos Sociais, Económicos e Culturais de enorme valia, resultando estes em impulsivo, flagrante e definitivo incremento para a histórica capital de província, para o Turismo, para o Ribatejo particularmente e até, para Portugal mais propriamente!
Quando regressei definitivamente das terras africanas, 7 de setembro de 1974, a uma segunda-feira e, logo na quinta-feira seguinte juntei-me ao “Grupo “Os Almoçaristas” de Vila Franca de Xira o qual, em termos de fundação teria pouco mais de um par de anos, creio. Por essa razão, aquele extraordinário convívio de puros Amigos fazia parte ainda das minhas virgindades e, para surpresa lá estava o querido, percetível e notável Amigo Celestino Graça. Foi uma alegria imensa aquele inesperado encontro. Juro.
A referida e simpática reunião de confrades ainda hoje existe porém, o encontro já se dá quinzenalmente, somente! - Curioso, é que não tenho ideia nenhuma de ver algum dos atuais elementos presentes aquando aquele desflorado encontro e primaz dia!
Após o falecimento do mentor e organizador do Grupo, Joaquim de Almeida Vieira (Quim da Suzana), desencadeou-se uma inesperada corrida a um sistema do tipo presencialista – talvez levados pela convulsiva e eufórica democracia, penso! O que modificou inteiramente a humilde originalidade, carisma e ideais do Grupo – com muita pena minha, diga-se.
Mas, embora já de resto, continuemos com o raciocínio preferencial pretendido: claro, que haveria muito mais para descrever sobre tão preeminente cidadão mas, Ludgero Mendes, tenho absoluta certeza que saberá desenvolver esse importante trabalho com maior clarividência e merecedora exaltação.
A Celestino Graça, António Gavino e Joaquim de Almeida Vieira que Deus os tenha em Glória e permita que as suas almas irmãs descansem na mais eterna paz; aos “Almoçaristas”, per si, os votos de confortáveis concretizações, segundo os seus anseios; a Ludgero Mendes, os desejos de um forte abraço num breve encontro, em jeito de reunião, bem à nossa maneira – quem sabe se à mesa da “Taberna do Quinzena”. Será?.. Vamos nisso.
(Este texto está escrito com o necessário rigor exigido, segundo o novo “AO”.)