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Tristezas e Alegrias

"Tristezas e alegrias/podem ser assinaladas/conforme se puxa a corda/o sino dá badaladas".
18 de Agosto de 2014 - 12:49h Pensamento por: - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 2420
Tristezas e Alegrias

Tristezas e alegrias/podem ser assinaladas/conforme se puxa a corda/o sino dá badaladas”. Estes incisivos versos, deste modo aproveitados parcialmente para epitetar as considerações que se seguem, chegaram até nós, há várias dezenas de anos, pela voz inconfundível de Vicente da Câmara, na música do fado Dois Tons, justamente tido por um dos clássicos da especialidade.

De facto, alegrias, muitas, houve-as em Tomar, na semana transacta, na corrida em que se homenageou Rui Salvador, com fortes ligações familiares à cidade, pelos seus trinta anos de alternativa.

Na verdade, uma tão longa permanência no activo de um intérprete que sempre primou pela inserção e permanência nos lugares cimeiros de tão complexa e desgastante profissão, criou uma empatia recíproca com as bancadas, bem patente na excelência da moldura humana que ostentavam, os espectadores a atestar pela sua presença o júbilo sentido com a efeméride, assim se revendo nas sucessivas prestações de tão dilatado período de tempo em que o nome da cidade nabantina foi levado pelo País fora por esse seu filho adoptivo, a quem só faltou, para uma completa e total integração, não ter nascido no Alto do Pina…

Mas a corrida não foi apenas presenciada pelo leigo, ainda que lhe pertencesse, de forma habitual, a maior parte do preenchimento dos sectores. Com efeito, à chamada respectiva compareceram também muitos dos amigos do homenageado, de que se destacam aficionados de solera, desse modo assinalando o apreço sentido por uma brilhante carreira e pela efeméride que assim e ali se comemorava.

Ao longo dos tempos, fazer amigos nunca foi tarefa ao alcance de qualquer um, o que dá um valor acrescido ao amplo círculo das relações do ginete nabantino, que sentiu naquela hora o calor humano decorrente do número e qualidade de todos quantos, da aludida etiologia, o estimam e o admiram.

Alegrias houve ainda pela exibição do jovem Bernardo, pelos terrenos em se posicionou e que percorreu no desenvolvimento das sortes, tudo testemunhado por Carlos Amorim, taurino à maneira antiga e, como tal, comungando – e de que maneira!- do percurso vitorioso do toureiro que leva de forma brilhante há tanto tempo, que nada teria sido como foi –e é! – sem a sua colaboração dedicada e eficiente.

Quanto a tristezas, o início desta semana foi marcado pela recordação da jornada fatal de Barcelona, onde o Cuchareto pôs fim à carreira e à vida de José Falcão, que havíamos visto oito dias antes na Figueira da Foz.

Toureiro de valor às carradas, outro galo lhe poderia ter cantado se acaso tivesse conseguido o apoio de importante casa empresarial. Mas, porque assim não sucedeu, o desafortunado matador vila-franquense pagou bem caro pela sua honradez.

Quarenta anos antes, havia tombado igualmente Ignácio Sanchez-Mejías, facto esse que, pela sua vetustez, cada vez mais está presente apenas no conhecimento dos estudiosos da História da Tauromaquia.

E, na base de tamanha tragédia, esteve o seu regresso, uma vez consumada a retirada.

São vários os motivos que levam alguns artistas a ponderar e materializar o retorno às arenas, cedo ou tarde no confronto com a hora do adeus primitivo, tantas vezes, tragicamente, tornado único.

Mas o tema, com pano para mangas, é próprio do defeso e aí fará a sua natural aparição…

Por isso, aqui ficam as alegrias e tristezas fruto do entrelaçamento do Presente com o Passado, ou seja, as duas faces da moeda taurina, que o sortilégio da Festa passa também pela produção de arte na convivência com a perigosa vizinhança da Morte, o que confere ao ancestral combate a mais-valia decorrente do imprevisto, do aleatório, do incerto.

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