TOIRADA - igual a uma manada de touros; boiada; espetáculo em terreno cercado, no qual se enfrentam touros bravos – ou nem por isso, como o caso da “Achega” dos touros lá para o norte - fig. Barulheira; tumulto, chacota, confusão.
Na consulta a um dicionário, ao calhar, entre os disponíveis na minha estante particular, encontrei a definição de toirada tal como a reconheço desde que me foi permitido o esmerar de aprendizagem daquelas coisas do ler, escrever e consequentemente do saber.
De facto, aquele secular e histórico termo sempre pretendeu definir a palavra toiro e o que a ela se concerne todavia, nada na vida é efetivo e, com o decorrer dos anos sempre terá sido notória a constante variedade de comportamentos, mobilidade de termos, géneros e genes – a terra gira e nós giramos com ela e assim, nada é efetivo e como consequência tudo está sujeito a transformação; havendo alguma relação análoga entre TOIRADA e CORRIDA DE TOIROS; iremos então considerar para o assunto em causa, o último termo, e deixemo-nos de toiradas – neste caso, à portuguesa – por não me agradarem em nada as barulheiras, tumultos, chacotas e confusões, mesmo que seja figuradamente! Como é o caso.
A utilidade do bovino silvestre, ainda em tempo dos Uros quiçá, lá para inícios da monarquia na península Ibérica, havia necessidade de adestramento de guerra para os fidalgos cavaleiros e assim, em período de cio eram levadas manadas de vacas selvagens para as copiosas florestas do norte afim dos machos que ali tinham o seu habitat, ciosos se interessarem e misturarem com as mandarinas – nome como então se reconheciam as úteis traiçoeiras. Nas bases eram armadas paliçadas para aonde todos os animais eram guiados e encurralados e, depois, apartados conforme o sexo e o número conveniente para cada ato de exercício físico, quer para os ginetes guerreiros, quer para as montadas, quer ainda para a procriação. Os pobres machos, coitados, acabavam só cheirando… e já gozavam!
Os hábitos criam o monge – o mesmo que benzia todas as operações e os intervenientes,incluindo a chusma que armada com chuços colaborava enquanto peões em todas a azáfama.
Aqui se deve o abono fundamental, a basilar geração e princípios da promoção de procriação seletiva. Terá sido deste modo que mui basilarmente se criou a primitiva ideia do apuramento de raça em relação ao gado, ainda selvagem. Esta já terá sido uma nobre invenção muito embora, tudo fosse muito primário e sem efeitos notórios de considerável aproveitamento senão, para aquela prática de exercício de guerra! Curiosamente, ainda na atualidade, na bonita e alentejaníssima região da vila de Sousel, o público chamava madrinhas às reses fêmeas que então serviam para o natural encabrestamento do gado bravo – compreenda-se, mandarinas (termo (arc.), versos madrinas (esp.) e madrinhas (port.).
Para quê tanta toirada à volta disto, se todos nós reconhecemos que para alguma menoríssima parte da população aquele termo enseja, de um modo malévolo, carga absolutamente negativa para a festa dos touros… corrida de touros à portuguesa ou, integral à espanhola e pronto, assim deverá ficar para todos os seres.
Hoje, também ouço por aí mais que muita vez: «As chocas trabalharam bem; as guias eram foleiras; vamos pegar o boi; eles pegaram os bois todos, etc.» Reconheço o entusiasmo de quem profere semelhantes citações, embora muito populares e de facto com coerência etogénica mas, incrivelmente deslocadas no tempo, razão, evolução de causa, fundamental progresso, e até respeito por um espetáculo que ao longo dos tempos veio sofrendo constantes transformações de base.
Bois, são o resultado de uma vulgar raça doméstica ruminante da família dos Bóvidas muito utilizada em trabalhos pesados agrícolas, carga e na alimentação; boi, poderá ser um bovino castrado; boi, é um animal de raça menor e, naturalmente, sendo-lhe dado o derradeiro destino ao atingir o final do seu aproveitamento e ciclo de vida; boi, será eternamente destinado a ser abatido por aí, num matadouro qualquer às mãos de um magarefe e Infelizmente, acabando num final absolutamente desvalorizado… o mesmo direi ao fim dos touros bravos em Portugal após uma tão gloriosa existência!
Como afirmei, desde os meus tempos de franca crueza de imberbe pedagogia taurina que venho assistindo à desistência das poucas ganadarias de sangue português que ainda por ventura me foram dadas a conhecer desde os tempos da minha impúbere existência; português, de sangue absolutamente cá deste retângulo pouco mais ou menos (des)plantado, conquanto ainda fazendo jus à originalidade, vem-me à ideia a antiga ganadaria que ostenta, ainda com algum orgulho, a divisa de Vaz Monteiro.
Ao que parece, ainda resta na bela e cativante ilha Terceira, nos Açores, alguma pontinha de vacas de igual caraterística – no ano de 1966 ainda me foi proporcionado ali atuar, pegando então, num final de semana, de caras seis touros de sangue absolutamente nacional, distintos morfológica e fisiologicamente, apresentando estes caraterísticas comportamentais bem distintas ao tipo continental; a natureza do género biológico seria absolutamente influenciada pela caraterística geográfica, geóloga e ambiental: touros de porte médio-baixo, sem carnes excessivas, gravemente musculados, bem armados, membros menos extensos longitudinalmente e muito fortes, primando deste modo em robustez no seu todo, como exemplo: nas serras por onde pastavam as cabras, não muito distante seria comum ver-se os touros ocupados com a mesma função – mesmo no nosso Continente, ainda tive a oportunidade de enfrentar de caras muitos touros com esta curiosa caraterística! Não sendo nada fáceis de enfrentar pela dúbia regularidade de investida e reunião poderei, todavia, vangloriar-me pelos resultados por adquiridos, pois então.
Os touros bravos são de apurada casta espanhola e ou, sangue português, isso sim, já se estará a falar bem! Pelo menos terá sido assim que sempre aprendi mas, será que estou bem, pelo menos sinto-me baralhado – por falar em bravos, será bom dar a primazia aos que geneticamente, ao longo de muitas dezenas de anos, vieram sendo manipulados por meio de esquisitas e cientificas técnicas seletivas até chegar a uma raça absolutamente pré-definida o que, será igual a touros encastados, distanciando-se estes, naturalmente, dos silvestres Uros e dos Bóvidas.
Porém, já há alguns anos que os nossos entendidos consideram ter havido alguns encastes nacionais e assim, hoje atribuírem esse conceito por conveniências bem objetivas - não sei, não - como no caso atual, os ferros Vaz Monteiro e o recentemente expirado, ferro Norberto Pedroso! Cada coisa no seu lugar!..
É este ponto que mais me preocupa por considerar ser um caso mais fecundo do que facundo, ao que eu saiba, na atualidade, a existência de touros com 100% de sangue nacional, infelizmente, somente reconheço os efetivos daquela referida ganadaria – dizer-se casta portuguesa, como está a pretender-se entrar em moda, já não me parece tão bem, conquanto estimo a segunda mais virada para um cruzamento de sangues ou mesmo, um sub-encaste com “Saltillo”. Poderá haver, isso sim, cruzamentos com mais ou menos sangue português mas, vamos considerar que todas as outras nossas originais ganadarias têm, de algum modo, alguma percentagem de cruzamentos.
Mas vamos lá a ver: não deixarei de modo algum de considerar e respeitar os engenheiros destas coisas da genética – alguns bem Amigos. Isto que fique bem assente.
O certo, no meio de tudo isto, é que os touros encastados pela lógica, e à partida, são mais bravos que os de sangue puramente nacional, estes, no entanto, nunca deverão ser confundidos em termos comportamentais com os primeiros por se apresentarem num género de bate-e-foge, queixosos quando os castigos, investidas algo confusas; pouco expertos, com muita mobilidade e, muito interessante por divertirem muito, têm público e, são de facto uma joia nacional. Acabar com eles é que nunca!
Voltar a este tema numa próxima oportunidade de um modo mais específico, será um prazer quer pela curiosidade que a sua história sustenta, graça, resultados, recursos que exigem para os enfrentar, etc.
Deverei, naturalmente, proceder com a maior equidade pelo respeito que devo a todo aquele que faz pelo touro e pela festa mais propriamente, nestas coisas de matéria tão técnica e de complexidade de elevada condição ao serem abordadas obrigam a descrições de considerável pormenor o que, de facto, por vezes confronta-se com leitores menos ciosos por este género de trabalho, menos atentos ao pormenor, tão pouco interessados na informação técnica, muito embora de notória presunção: falam… falam… falam… e não dizem nada! São feitios. Quiçá, eu não entenda isto muito bem, o que me terá puxado para abordar o tema!
A tecnicidade aplicada no exposto artigo poderá não ser tão apelativo para alguns dos interessados e fieis leitores dos meus escritos, compreendo, mas reconheçamos que os conceitos surgem como abertura de quem trabalha, o que significa a organização como um sentido procedente de conjugações e critérios circunstâncias com que pretendo valorizar o tema, exprimir narrativas de pensamentos concretos existenciais, realidades empíricas na forma da feliz vivência - quem não gostar tanto, não haverá crise alguma, eu vou escrevendo e emitindo mais pareceres por aí…
(Prosa trabalhada segundo o novo acordo ortográfico.)