Já há três pares de meses, em junho último, aos fins-de-semana quando terá sido organizado uma série novilhadas promovidas pela “Escola José Falcão” a exemplo dos anteriores anos e por sinal, fundamentadas com valiosa capacidade, cumprindo assim, a escola o acordo que a liga à “Asociación Internacional de Escuelas de Tauromaquia”, a mesma que José Manuel Rainho é seu Vice-Presidente.
Estou a referir-me ao Cabo da Lezíria, como também ao velhinho mas, bem cuidado tentadero disponível para o efeito – aqui, não me custa destacar, o esforço aplicado pelo fiel responsável pela sua conservação, no caso, refiro-me a Vítor (Judeu).
Não haverá em Portugal, penso eu, um circo tauromáquico rustico mais abrangente e de vantajosa prestabilidade, por ventura, ao alcance visual desde Vila Franca a soberba imagem transtagana insere-se em plena Lezíria mostrando um transcendente quadro ribatejano,a ponte Marechal Carmona além de lhe servir de acesso enobrece-o ao ladeá-lo no seu final de curso já meridional e claro, na base terrena. De lá, a vista para a nobre Sede do Concelho deslumbra-nos quando nos deparamos com o sobe e desce do curso de água de cor turquesada do rio Tejo, por vezes agitadas outras bem mansinhas todavia, o aprazível cenário panorâmico que alcançamos é a majestosa e franca capital das Terras de Cira, todinha mesmo, os montes lá no alto tornam-se colossais, o céu especialmente quando cerúleo completa um envolvente e extraordinário cenário… meu Deus que painel paradisíaco!
Ali mesmo, à sombra de uma árvore-da-borracha de enorme porte, a avaliadíssima escola de toureio vila-franquense, na pessoa do seu diretor, o sempre José M. Raínho e com a presença do Presidente António José Inácio, gentilmente, honraram com convites quer um queridoAmigo comum, José Ribeiros dos Santos quer a mim próprio, a acompanhar um grupo de elevada condição taurina em horário próprio e clima a condizer com um soberbo repasto a fim de dar abertura aos eventos anunciados todavia, com informal condição, lá estavam reunidos diversos matadores de touros - alguns portugueses e outros professores dos alunos das Escolas Taurinas espanholas que ali iam atuar: bandarilheiros, apoderados, moços-de-espada, críticos taurinos, singelos aficionados e muita fé, além da fortíssima crença tauromáquica mas todos, todinhos mesmo, muito bem predispostos a cumprir estoicamente o exercício de mastigação de uma molhata de sardinhas confecionada por um aficionado e sócio do “Clube Taurino Vilafranquense” de seu nome, José Pereira - parabéns Zé, não fora as duas nódoas na camisa e teria saído tudo na perfeição!
Com as digestões já cumpridas, houve lugar à primeira da série de novilhadas anunciadas até ao final dos fins-de-semana seguintes, com enormes sucessos diga-se, todavia, não terá sido para entrar neste tema, propriamente, que me levou a desenvolver este artigo e, deste modo,sem entrar em mais pormenores valho-me da velhinha e dissimulada escorrência. Já fui…
Estou de volta… dirigindo-me a vós, minhas queridas e queridos leitores, fiéis como são aos escritos que sempre me apraz desenvolver, resta-me pedir-vos licença para regressar à mesa e, dar-lhes conta do tema bem comum, próprio e consensualmente exposto naturalmentepor bem apelativo a gente escrupulosamente dada a razões de hereditariedade cultural, de valência tradicional e prodigiosamente histórica como sendo a tauromaquia, como é compreensível.
Devo confessar que já há alguns anos que tenho determinada relutância em falar de touros, não é que não goste, mas não é nada fácil fazê-lo com gerações de circunstância já de si menos juventas na era marcelista e, logo em cima a abrilada bem ajeitada com a florescente cravelina que lhes terá ido ao encontro, assinalando-os com o registo de asserção do “eu” pouco comum e que, os terá marcado para todas a vida!
Quanto a este assunto, parece-me vantajoso ficar por aqui por bem dos princípios de amizade, respeito e acrescentíssima consideração quer por quem luta pelos mesmos ideais, quer pela velhas amizades ou ainda, porque de facto, como referi atrás, deveria era estar calado mas, mal está é que não o fiz e, como tenho felizmente um convinhável sentido de oportunidade de análise, cá vai…
Mesmo ao meu lado, dois Amigos concertavam uma agradável conversação taurina independente da levada pela mesa em geral conquanto, a determinada altura falava-se na validade do matador de touros José Luís Gonçalves - antes ainda do infeliz e trágico acontecimento, para lembrar. Não sei o que me deu para meter o bedelho naquela conversa; mas nada demais porém, terá sido um simples à parte, uma mera opinião e até, em apoio ao tema… e não é que me dei mal!..
Eu só exaltara a plasticidade toureira do matador em referência, não disse nada de mais, nem fora das opiniões apresentadas, nem deslocado no sentido, nem irracionalmente oportuno mas, não gostaram, pronto!.. Com ironia e sorrisos maliciosos ouvi de imediato algo pouco abonatório, de um lado e logo do outro. Curiosamente, o meu plástico não entrara bem na conversação! Paciência, eu não retiro uma palavra, não peço desculpa pela oportunidade opinativa nem por a exposta conversa supostamente pretender restringir alguma noção de espaçosa comunicação ao tema central – tauromaquia de todos para todos – e claro, fazendo jus à doutrina do domínio ou uso de quantos se prezem em comungar os mesmos interesses - caso contrário não me atreveria.
Em bicos dos pés, cá para o meu gosto, só admito bailarinos, sobretudo de ballet ou, então, de bandarilheiros enquanto as suas funções, desde que haja boa execução, como é bom de ver. Pois é, no que diz respeito a educação, ao que se saiba, não devo nada a ninguém, por outro lado, nenhum dos amigos tem tanto tempo dedicado ao estudo da matéria quanto eu – passando uma vida a virar páginas -, para mais atendendo à minha distinguida idade… nem dentro das arenas… nem tão-pouco me parece haver alguma aproximação ao longo tempo que logrei agarrado aos touros e, com provas dadas… muito menos creio haver por aí mais paixão a tudo o que diga respeito à festa do que o autor destas bem-intencionadas linhas.
Vamos a considerações sobre as palavras plástica e plasticidade proferida por reconhecidos eruditos taurinos:
«Nos touros entram vários elementos que fazem esta festa sobremaneira estimulante, fascinadora, de modo inebriante. Uns, de ordem sensual e estético; a luz, o calor, o movimento, a plástica das atitudes, a galhardia dos lances, a musicalidade do conjunto. E outros, os mais importantes, de ordem mais elementar da humanidade: o entusiasmo, a angustia, o terror, a morte, em suma, os carateres de uma tragédia de verdade.
Perez de Ayala
No touro, os artistas plásticos hão encontrado inspiração na festa. Eu recriei-me com a plástica no toureio.
Picasso
«Estética y Plástica del Toureio», foi o título da enciclopédia ”Colección de Tauromaquia” editado pela “Espasa Calpe” e, assina o autor,
José Ramón Gómez Nazábal
(…) É uma estética formidável em conceitos essenciais e de tamanha especificidade que há podido tentar sistematicamente pintores e escultores. E aí está a independência dessa estética, que é ao menos, plástica, a plasticidade existente em um espetáculo, como é o taurino.
Idem
(…) É de toureiros com expressão plástica a que me refiro, como Ordõnez, Camino, Romero e, toda a toureiria gitana a começar por Paula, quando estes se encontram com os grandes momentos (…)
José Bergamin
(Tradução do autor)
(…) A Arte de tourear foi sempre, por natureza, contingente e arriscada. Mas hoje, na idade de ouro da tauromaquia, mercê da grande extensão e variedade da lide, dos terrenos inverosímeis de onde se desenrola e do grau de beleza plástica que atingiu, além de contingente e arriscada,a arte de tourear é por excelência complexa e difícil. (…)
Do livro, “O Touro e a Arte de Tourear”, assina,
José Cunha da Silveira
(…) A tauromaquia nas artes plásticas, ou, ainda, de outra maneira: A expressão figurativa da arte de tourear através da sua evolução.
Do livro “ A TAUROMAQUIA” - E a sua expressão nas artes plásticas, assina,
Mário Carmona
Dos grandes mestres do século XVII até Goya, cuja forte influência se deu na pintura francesa primeiro do que em Espanha. (…) Não há nessas produções artísticas uma criação pura, no sentido conjetural, mas sim uma exaltação do significado e beleza da festa de touros, proporcionadamente, para que o toureio, na transposição da sua arte, não sofra uma inversão dos valores plásticos que lhe são próprios (…)
Idem
Com a abolição do touro corrido é que surgiu a verdadeira arte de pegar. (…) Onde antes só houvera músculo, peso e força, passou a haver donaire, expressão estética e plasticidade – Arte!
Discurso em Santarém – 1965. Por,
Leopoldo Nunes
(…) José Luís Gonçalves: Os toureiros são feitos de algo divino… Levam Arte no corpo e na alma. José Luís Gonçalves tinha esse dom especial de estética e de plástica, criando momentos eternos (…)
Correio da Manhã,
Maurício do Vale
Meus queridos Amigos, eu só falei em plástico… mas não no derivado do petróleo quiçá, daí a vossa confusão ou, será que não se identificam com a particularidade do matador de touros José Luís Gonçalves com a sua reconhecida estética, aquela doutrina que faz consistir na finalidade da vida a quem crê na filosofia do belo e, da própria Arte? Ou, no vosso entender a reconhecida figura do toureio nacional não merecia tão elogiosa plasticidade!
Eis uma pura e nobre razão de eu não ter por hábito vulgarizar nomes enquanto os meus escritos em forma de avisos, reparos e chamadas de atenção pelo menos sempre que possa conservar os valores de respeito que me valorizam perante o próximo.
(A tradução da língua castelhana para a portuguesa foi executada pelo autor.)
(Texto escrito em harmonia com o acordo ortográfico vigente.)