Há horrores que desafiam quaisquer explicações. Estando eu no conforto do meu lar, embrenhado nos meus escritos e meditações quando, inesperadamente, recebi um “sms” «morreu Juliano Louceiro.» Assim, sem mais nem menos, de chofre, verdade nua e crua. Fiquei consternado!
Perante tão estupeficada notícia dei por mim envolto em pensamentos de infernal condição. Embora eu recebesse a triste notícia logo em cima do acontecimento, não escrevi nada sobre o caso, o meu ego ficara muito dolorido para me pôr a alinhavar frases bonitas para algo tão feio. Devo confessar que ainda ensaiei qualquer coisa sobre o assunto mas, logo desisti. Preferi fechar-me em copas unicamente, meditei muito sim, recordei passagens nobres tidas com Ele, muita maluqueira também, coisas bem ridículas por vezes, outras cretinas até! Não estranhem, meus queridos, queridas e, fieis leitores, nós também fomos novos e naturalmente, fizemos muitas borradas mas, é importante destacar que nunca faltamos ao respeito a ninguém, eram unicamente umas borradas sem cheiro!
Ninguém pense que este meu trabalho pretende noticiar três muito infelizes acontecimentos, tem antes o propósito de homenagear as memórias de Três Amigos e, forcados de nota alta e com reconhecidos méritos prestados à modalidade como também, à tauromaquia nacional.
O primeiro, já atrás me referira a Ele, foi o desaparecimento do Juliano, o grande e querido Amigo, já saudoso, o que nascera antes de mim 8 meses ou, mais precisamente a 20 de outubro de 1941, em Sousel. Era primo direito de um outro enorme e igualmente saudoso e Amigo, o extraordinário calção, equitador e fantástico cavaleiro tauromáquico de craveira mundial, Pedro Louceiro.
Eu não preciso de sair de casa ou, contatar alguém para saber algo sobre a bem aventurosa carreira de forcado que o Juliano logrou ser.
Embora o meu funesto homenageado tivesse nascido antes de mim, eu era mais velho na arte do que Ele isto, porque começara somente com catorze anitos.
Não há muita gente a saber isto mas, Juliano Louceiro estreou-se quiçá, com menos de 19 anos no “Grupo de Forcados Profissionais de Lisboa” então, chefiado por Adelino de Carvalho. Transitou posteriormente para o “Grupo de Montemor”, de seguida fundou o “Grupo do Alentejo”, pegou com o “Grupo de Xinavane de Lourenço Marques” enquanto a sua comissão militar e depois, seria o Grupo de Nuno Salvação Barreto, os “Amadores de Lisboa” onde atuara e, por fim, chefiou o “Grupo Amadores do Ribatejo”.
O meu referenciado, terá sido de facto um extraordinário forcado, um exemplo para a forcadagem da modernidade. Não seria - não me custa afirmar - o mais ortodoxo no que diz às regras dessa coisa de pegar touros porquanto, penso que mais ninguém o faria, pegar um novilho de bom porte com uma filhota ao colo. Quem não conhecia o meu Juliano, ficará deveras apreensivo com esta maluqueira mas, ponho-me logo a rir só de pensar nisso! Só Dele…
Por último, o seu hobby era cantar flamenco, dava espetáculos com as suas bailarinas, chegou a faze-lo no “Casino Estoril”, era mesmo diabólico, o meu querido Amigo! Quando lhe dava a tonteria tinha mesmo o que fazer, fosse o que fosse!...
Despediu-se de forcado tardiamente, já não pegava há muito, fê-lo na praça de Arruda dos Vinhos no dia 5 de Março de 2005, terá sido o “Grupo de forcados do Ribatejo” que o ajudou e, com pompa e circunstância decorreu um faustoso e concorrido jantar no pavilhão gimnodesportivo da localidade!
Este evento, terá sido testemunhado por mim pois, enquanto crítico taurino fizera a crónica do acontecimento.
Agora, passado o choque da má notícia, cada vez que penso no Juliano Louceiro, só me dá para rir… não se preocupem queridos leitores, era assim que ele gostava que se lembrassem Dele, tenho a certeza.
Já não sei bem mas, se calhar, um par de dias depois, recebi um novo “sms” a dar-me conta do perecimento de um outro grande forcado e, igualmente Amigo, António Lapa. Assim, deste mesmo modo, sem justificação aparente, inesperadamente «morreu António Lapa!». Mas o que é isto? Morrem deste modo as pessoas, sem mais nem menos? Ainda não recomposto de uma, já estava a levar com outra deplorável notícia…
Do mesmo modo deixei passar mas, sempre apreensivo, quer num caso quer noutro.
Era mais novo o Lapa do que nós porém, acompanhei com afinco a sua gloriosa carreira.
Forcado de caras de eleição, estóico a impressionar, primeiro-ajuda de primaz condição e, Amigo do seu Amigo.
- O “Grupo de Forcados Amadores de Lisboa”, onde militou anos a fio com destemida validade, terá sido o seu emblema de eleição.
- Foi ao México com o “Grupo de Forcados Lusitanos” e, pegou touros, a impressionar a afición do lado de lá do Atlântico.
- Reativou o “Grupo de Salvaterra” e ainda passou pelos grupos de Coruche e Tomar.
- Honrou igualmente a jaqueta de ramagens do “Grupo de Forcados Amadores do Ribatejo. É obra!...
No dia 13 de Março, quarta-feira, foi encaminhado e muito acompanhado até à derradeira morada, o nosso querido Amigo.
Por desgraça, eram 14 horas quando levei outro coice nos meus sentimentos quando recebi uma comunicação telefónica em que me participaram o falecimento de mais outro Amigo, igualmente forcado com provas mais que dadas e, logo do “Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca”. José Manuel Teles afirmou-se alguns anos a fio no destinto agrupamento da sua terra natal, iniciara-se na escola do grupo e, destacou-se enquanto cernelheiro até sentir que chegara o momento de dar por finalizada a atividade – o que já tinha sido feito há muitos anos também, embora fosse ainda mais novo.
Tinha dado entada com urgência no “Hospital Reynaldo dos Santos” havia menos de uma semana na terra que o viu nascer, Vila Franca de Xira. O seu coração, igualmente e inesperadamente, dera sinais de fraqueza para, no decorrido daquela manhã finar a sua existência!
Àqueles três grandes Amigos, desejo, do fundo do coração, que Deus lhes permita que as suas almas descansem eternamente em paz. Aos familiares, transmito o meu mais profundo pesar. Aos Amigos, uma única frase de conforto: há que conformar.
*Alegadamente, algum ordenado
(Prosa escrita em concordância com o novo acordo ortográfico)