O Conceito de fenómeno basicamente define algo que sucede poucas vezes e que de certa forma nos desperta a atenção por algum motivo. Tendo como base esta definição por vezes, para aqueles que presenciam certos momentos do nosso panorama taurino, identificam-se alguns destes acontecimentos que ultrapassam a compreensão.
Na passada semana estive presente na final do primeiro ciclo de novilhadas no Campo Pequeno e dei comigo no decorrer do espectáculo, enquanto fotografava, a tentar fazer um pouco de futurologia, findas as lides a pé, estava a tentar adivinhar quem seria o vendedor e pensei que, com base no que vira, era claro para mim qual dos ainda miúdos seria o vencedor na categoria do toureio a pé.
E porque é que para mim isso era claro? Bom, embora os três participantes fizessem denotar um futuro bastante promissor enquanto toureiros, uma das actuações destacou-se claramente e, em vários sentidos, primeiro pelo à-vontade que perdurou no decorrer de toda a lide, pela forma e postura taurina não forçada, transmitindo um sentimento natural de toureiro, pela técnica, e mais que tudo, a forma como chegou com facilidade às bancadas. Nesta posição só esteve o jovem Diogo Peseiro.
Não é que as lides tivessem corrido mal a João Rodrigues e muito menos a Pedro Noronha, mas quem realmente se destacou na passada quinta-feira no campo pequeno foi o Diogo Peseiro. Findo o espectáculo eis que são anunciados os vencedores e estranhamente as minhas contas estavam erradas, fiquei um pouco desapontado comigo mesmo por ter falhado tão redondamente. Estava mesmo convencido que havia um “sentido de voto” claro, muito embora, repito, todos tivessem estado à altura do momento.
Enganei-me, alguma coisa no meu raciocínio não estava correcto e o júri (aqueles senhores com a responsabilidade de atribuir a distinção para a melhor actuação), tinha uma opinião diferente da minha. Bom verdade seja dita, mas eu não sou certamente o aficionado mais habilitado nestas matérias, muito menos quando todos os elementos do júri são ou foram matadores de renome.
Bem sei que a “instrução taurina” não é uma das características mais vincadas das bancadas em Portugal, mas neste tipo de espectáculo, tipicamente com a assistência nutre ainda alguma paixão verdadeira pelo toureio (estou a referir ao toureio a pé) onde quem diz que gosta, tipicamente são aqueles que não assistem a corridas de toiros (neste caso uma novilhada) apenas pelo status ou por ser chique ou até estar na moda.
No final do espectáculo houve duas situações que me chamaram à atenção de uma forma muito especial, uma foi o tom de desilusão que Diogo Peseiro levava nas lagrimas que lhe corriam no rosto, e a segunda situação foi que afinal, tal como eu, havia mais (o resto dos presentes, tanto nas bancadas como nas trincheiras) a cometer os mesmos erros de cálculo que eu, ao tentar adivinhar o vencedor das lides a pé,…
Caso eu possa não estar totalmente errado, faço um apelo claro ao sentido de responsabilidade, daqueles que produzem este tipo de fenómenos, um jovem tão promissor, tão claramente um toureiro dos tempos que ai vêm, não precisa de ser amachucado desta forma. Tenha-se a noção que estes jovens precisam que alguém lhes abra as portas, e não que lhes as fechem por puro lóbismo, que se tenha em mente que se queremos ter toureiros amanhã, temos de os deixar nascer, e não lhes retirar a essência daquilo que os fará figuras.
Provavelmente estou enganado e estou só para aqui a escrever asneiras, mas pronto pareceu-me a mim que o justo vencedor do primeiro ciclo de novilhadas do campo pequeno teria sido o jovem novilheiro Diogo Peseiro.
Registo só uma frase que ouvi de alguém que comentava : «… É assim que está a tauromaquia em Portugal…»