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Capuchino, o Último Carrasco de Pamplona

A história do Jandilla que matou Daniel Jimeno nas "calles" de Pamplona
25 de Setembro de 2011 - 18:05h Pensamento por: - Fonte: - Visto: 2798
Capuchino, o Último Carrasco de Pamplona

       No ano de 2005 nasceu em Cadiz um toiro da ganadaria de Jandilla que se viria a tornar bastante conhecido. Dito desta forma, muitos dos aficionados pensarão que será um toiro que tenha proporcionado uma grande faena ou mesmo que tivesse sido indultado, mas a verdade é que não foi nada disso, foi sim o último carrasco de Pamplona. De seu nome Capuchino, nasceu com pelagem colorada e com o passar dos anos viria a revelar-se um dos “cabeça de camada” da ganadaria. E como acontece a todos os “cabeça de camada” das ganadarias que lidam em Pamplona, também Capuchino teria como destino final a feira de San Fermin.

       Com uma córnea verdadeiramente impressionante, este Jandilla marcado com o número 106, chegou a “las calles” de Pamplona no dia 11 de Julho de 2009 para sair, junto aos seus irmão, no 4º encerro da feira de San Fermin. Por estas alturas este toiro não passava ainda do Jandilla nº 106, mas estaria muito próximo de escrever mais uma horrorosa história nas festas de Pamplona e passar a ser conhecido pelo seu nome: Capuchino. E eis que, depois dos “moços” cantarem pela ultima vez ao santo patriota da terra pedindo-lhe protecção no encerro, soa nas alturas o estrondo do foguete que anuncia a abertura dos currais e o inicio do encerro.

       Capuchino saiu por detrás da manada, mas rapidamente a sua condição de bravo o vez arrancar um galope veloz e encabeçar o grupo. Mas o galope de Capuchino era de tal maneira desenfreado que não consegue contornar a primeira curva e choca de frente contra as protecções colocadas nas ruas, fazendo aí as suas primeiras vitimas do encerro. Devido a este choque e consequente queda, o animal fica apartado do resto da manada que seguiu para diante e chegou rapidamente e sem percalços à praça de toiros. Uma vez para trás, Capuchino recusava-se a seguir em direcção à praça e investia em tudo o que lhe aparecia por diante, provocando um grande número de vítimas e semeando o pânico nas “calles” de Pamplona.

       Entre as vítimas encontra-se um madrilenho, de 27 anos de idade e que não ficou entre nós para contar a História. Chamava-se Daniel Jimeno e uma infeliz cornada no pescoço fê-lo morrer pouco mais de uma hora depois de ser colhido. Era corredor habitual nos encerros de San Fermin, mas nem a sua experiencia lhe possibilitou escapar à impiedosa cornada de Capuchino.

       O cartel dessa tarde estava composto por “El fandi”, Matías Tejela e Rubén Pinar. À hora do sorteio já todos sabiam que o toiro nº 106 tinha colhido mortalmente Daniel Jimeno e será fácil de adivinhar que nenhum dos toureiros tivesse vontade de o lidar. Mas não havia retorno, o sorteio deu-se e Capuchino calhou em sorte (ou em azar) a “El fandi”. Imagine-se como terá sido a tarde do Matador granadino, sabendo que iria abrir praça com um carrasco por diante, com um Jandilla que tinha acabado de matar um inocente aficionado e sabendo que não havia volta a dar, que teria de o fazer como o faz todas as tardes, caso contrario estaria a defraudar o público, o ganadeiro e o próprio Daniel. Quantas voltas à cabeça terá dado “El fandi” até ver sair pela porta dos toriles Capuchino? O difícil que será pensar que se tem de apresentar a muleta a um toiro que acaba de matar uma pessoa? É nestes exemplos que se vê a grandeza dos toureiros!

       Pamplona é sinónimo de festa, de cânticos e de “burracheras” mas nessa tarde, o que se via na praça eram rostos lavados em lágrimas, corações apertados e dos tendidos a única coisa que se ouvia era um silêncio sepulcral. Sentia-se o cheiro a luto, o ambiente era bastante pesado, todos tinham na mente a morte de Daniel que parecia que se tinha arrastado no tempo porque o carrasco ainda aguardava ser lidado. Depois do doloroso paseillo, estava programado um minuto de silêncio que na realidade foram dois ou três. Matadores e bandarilheiros com a montera na mão em sinal de respeito, sol e sombra em pé olhando para o infinito e ao som de “El Silencio” de Roy Etzel, assim se celebraram estes agoniantes instantes antes de começar a corrida. Não se pode começar de forma mais triste uma corrida de toiros. Foi um acontecimento que relembrou a todos os aficionados que frente a um toiro o perigo está sempre eminente, que a tragédia pode acontecer a qualquer momento e que lidar um toiro supõe um perigo que nem todos têm a capacidade de superar.

       E finalmente se fazem entoar “las cornetas y timbales” para a saída ao ruedo de Capuchino. Inconscientemente se faz ouvir também uma monumental assobiadela, a afición de Pamplona estava descontente com aquele exemplar de Jandilla, mas este não tinha culpa de nada, foi um animal irracional que frente ao perigo investiu, mas o ser Humano tem sempre de procurar um culpado…

       No ruedo, Capuchino foi um bom toiro, sobretudo pelo lado esquerdo. “El fandi” melhor que ninguém, frio como uma rocha e firme como uma barra de ferro, toureou-o como se de outro qualquer toiro se tratasse. Cravou três vibrantes pares de bandarilhas, brindou aos céus e desenhou uma faena ao seu estilo que culminou com uma estocada inteira e efectiva. Cortou uma orelha e deu uma calorosa volta ao reudo. Para Capuchino, silêncio no arraste. Uma faena de “El fandi” como tantas outras ou não tivesse todo este entorno trágico a rodeá-la.   

       Para recordar, Daniel Jimeno que desejamos que descanse em paz, “El fandi” que frente a um carrasco esteve igual a tantas outras tardes e Capuchino, que esperamos que não seja lembrado como o “mau da fita”, já que fez o que se pede a um toiro de lide: ser bravo.    

 

Imagem retirada de:   http://newshopper.sulekha.com/capuchino_photo_890590.htm

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