O engano…..
O engano è sem dúvida o apetrecho mais importante para um toureiro, quer seja a muleta ou o capote ou mesmo o baile do próprio corpo.
Ao outro actor, armado com a sua casta e o seu instinto, estupefacto, admirado e confuso, todos os pequenos gestos o fazem desviar-se da sua trajectória, correndo ao principio sem destino, perdido, mas logo e em breve, se dá conta de que algo de raro se irá passar, desfazendo em minutos a sua crença natural e pondo o seu instinto de sobreaviso.
Também noutras arenas da vida existem outros enganos, tal como a palavra, sendo este mais difícil de contornar, de articular também, mas sendo efectivamente mais eficiente e eficaz que como devemos saber, são coisas parecidas mas diferentes ou não se tratasse de uma palavra que faz jus àquilo que acabamos de dizer.
Assistimos, nos últimos tempos, a uma primeira “faena” perpetrada por uma das principais e importantes figuras do nosso país que um único passe, adornado, aconselhado por um seu subalterno, mas que sonha um dia vir a ser "matador e maestro", no recato do "callejon" e em voz baixa, deixou fora de combate aquele que se deixou tourear.
Percebo agora, mais do que nunca, aqueles que afirmam que as corridas de toiros, são a metáfora da própria vida, oscilando entre a derrota, a morte, o triunfo e sorte e a glória.
Triste e desarmado, reconhece que com a sua determinação e valor intrínseco, não consegue vencer o engano, esperando agora, talvez, a estocada final: a morte política.
Miguel de Cervantes no seu livro “D. Quixote de la Mancha”, alude a páginas tantas, ao episódio em que um “fidalgo nobre“ convidou “Sancho Pança” e o seu mestre cavaleiro “D.Quixote” para a sua casa, ficando estes gratos, mas sentindo-se mesmo “Sancho Pança” deslocado, devido á sua condição pobre, miserável e serviçal, ao que o “fidalgo” respondeu que “quem faz os homens é a sua posição perante a vida e o seu carácter, e não os lugares que ocupam ou as casas onde habitam”.
Nada traduz tão bem os enganos da própria vida como uma bela metáfora.