A luta contra a festa dos toiros tem tido na última década e meia maior visibilidade que nunca. Essa notoriedade conquistada pelos anti-taurinos, não tem em proporção no seu apoio, uma relação directa com a opinião maioritária das populações onde a tauromaquia está presente. A provar isso mesmo estão os resultados dos estudos de opinião feitos nos três principais países europeus onde se realizam festejos taurinos.
Por isso, começo por dizer que os anti-taurinos têm o meu respeito e que não reprovo qualquer manifestação contra a festa brava. Considero desde há muito tempo que é com a ajuda dos que se opõem à festa que a tauromaquia tem tudo a ganhar, particularmente em Portugal. Se conhecermos em pormenor quais as suas razões e o que os motivam, saberemos de igual modo como protegê-la e blindá-la de qualquer afronta externa.
Assim, foi sem qualquer hesitação que na minha última viagem a Espanha comprei “50 razones para defender la corrida de toros” de Francis Wolf. O autor, filósofo Francês e professor catedrático da Escola Normal Superior da universidade de Paris e das universidades de Oxford, São Paulo, Reims e Nanterre.
O livro custou apenas cinco euros e não é mais do que um apanhado dos 50 argumentos mais usados pelos anti-taurinos contra a “festa”. Francis Wolf explica em menos de 100 páginas como as razões invocadas para proibir a realização das corridas de toiros entram em contradições permanentes.
Argumentos como a tortura, barbárie, sofrimento e violência são refutados pelo autor. Algumas explicações são acompanhadas de estudos científicos, como no caso da dor e sofrimento animal, em que Francis Wolf cita Juan Carlos Illera sobre o resultado do seu estudo laboratorial, em que demonstra que as rezes bravas “estão perfeitamente adaptadas à lide pois estas têm reacções e comportamentos à dor únicas no reino animal, segregando uma grande quantidade de beta-endorfinas (opiáceo endógeno que é a hormona encarregado de bloquear os receptores de dor), sobretudo quando esta se produz no decurso de uma lide.” O autor acrescenta ainda que “outra descoberta que demonstra a singularidade do toiro de lide, é o tamanho do hipotálamo (parte do cérebro que sintetiza as neurohormonas que se encarregam em especial de regular as funções de stress e de defesa) que é cerca de 20% maior que as demais raças de bovinos – dado que é em si bastante considerável.”
Outros temas como a morte do toiro na arena, corrida de toiros enquanto espectáculo, valores humanistas e estéticos são também dissecados e acompanhados com razões históricas e culturais. Arrepiamo-nos ao ler a seguinte explicação do escritor sobre o que é ser-se aficionado: “não é um gozo perverso ou maligno, senão uma emoção imediata, tão carnal como intelectual, que se chama admiração. Admiração antes de mais nada pela bravura do toiro: pelo seu poder, pela sua incessante combatividade, apesar das feridas, repetidas investidas e dos fracassos. Admiração também pelo valor do homem, a sua audácia, a sua coragem, o seu sangue frio, a sua calma e a sua inteligência em relação ao seu adversário. Sim! Vamos à praça, acima de tudo, para admirar. É o mais são e delicioso de todos os prazeres.”
A leitura do livro é tão rápida que chega a dar pena serem somente 50 as razões.
Procurei encontrar uma versão portuguesa do livro e não obtive sucesso. Se a mesma existe, não fui capaz de encontra-la porém a versão em espanhol lê-se muito bem e sem quaisquer dificuldades de maior para um mau castelhano como o meu.
Em França e na Espanha o número de publicações anuais sobre tauromaquia é tão extenso e acessível no preço, que o mesmo título é editado em ambos os países nas suas respectivas línguas.
Os livros taurinos em Portugal são um bem essencial cada vez mais escasso. Poucos são editados todos os anos e quando o são, atingem preços proibitivos. Assim, apenas uma pequena parte dos aficionados portugueses os pode adquirir e dessa forma desenvolverem a sua tauromaquia, extraírem dela um maior conhecimento e tornarem-se mais exigentes perante o espectáculo.