João Ribeiro Telles mais conhecido como o “Ginja” passa os dias na Torrinha a preparar os seus cavalos. Realizou o sonho de ser toureiro... Paixão que exige diariamente muita dedicaçao da sua parte. É um jovem humilde com muitos projectos ainda por concretizar. O taurodromo.com foi conhecer melhor o toureiro mais “irreverente” da dinastia Telles.
T:Quem é o João Ribeiro Telles mais conhecido pelo Ginja?
J.R.T:É uma pessoa completamente normal. Uma pessoa humilde, directo e verdadeiro. Tento ser sempre o melhor aqui na parte dos toiros. Trabalho todos os dias de manhã à noite. A dedicação é o que tem vingado em mim, porque é um crer grande.
T:O que sente antes e quando está na arena?
J.R.T:Antes medo (risos). O medo controlado, aquela pressão e a responsabilidade completamente acrescida. Quando ouvimos o trinco da porta já esquecemos isso e já tentámos superar as dificuldades do toiro e as dificuldades da própria lide, mas acho que acima de tudo é a responsabilidade.
T:Como é que se define como toureiro?
J.R.T:Falar de nós é sempre um pouquinho difícil. Procuro fazer sempre as coisas verdadeiras. O bom toureio, é o toureio de verdade. É o toureio que eu procuro e felizmente é o que eu tenho vindo a conseguir fazer ultimamente. Depois a empatia com o público é completamente fundamental porque é quem paga o bilhete tem de sair divertido.
T:Qual o tipo de toiro que normalmente o João prefere tourear?
J.R.T:Desde pequeno tive a tendência de tourear os murubes, era o que toureava mais é a realidade é a verdade. Andava sempre cuidado felizmente nos cartéis de responsabilidade e de categoria. O ano passado a época forte foi com ganadarias completamente diferentes, toureei os Teixeiras, Graves, os Silvas acho que proporcionaram bons resultados. O que nós queremos é que o toiro transmita e isso é bom para todos independentemente do seu encaste. Dou-me bem com os murubes é o encaste que eu gosto.
T:Quais são as dificuldades que sente neste mundo dos toiros?
J.R.T:Sinto eu e vejo que há muitas. Felizmente estou numa posição em que trabalho todos os dias. Trabalhei e esforcei-me muito para chegar onde estou. Não estou de todo onde quero. Mas felizmente estou numa posição um pouco favorável. Vejo que há muitas dificuldades não só nos toiros. Estamos a passar por momentos difíceis. Já houve momentos piores e as corridas em Portugal têm sido as mesmas. A meu ver até são um pouco demais. Mas sinto que há dificuldades no geral e nos toiros também.
T:O que é preciso para ser cavaleiro tauromáquico?
J.R.T:Acho que é a tal dedicação e acima de tudo respeito. Respeito pelo público, pelo toiro, pelo cavalo e até por nós mesmos. Foi sempre o que nos ensinaram cá em casa acho que isso é a principal fonte que temos que vingar no toureiro. Quando estamos bem com o toiro, com o cavalo, com o público é quando o espectáculo sai bem.
T:Sei que também gosta de tourear a pé. Para si é fundamental um cavaleiro tauromáquico também saber tourear a pé?
J.R.T:Fundamental não é. Mas acho que conhecer os terrenos nos ajuda muito. É sem dúvida um gosto que tenho desde pequeno. Gosto de tourear cá em casa as vacas a pé de muleta.
T:Ouvi dizer que também bandarilha…
J.R.T:(Risos) bandarilhar só mesmo a brincar.
T:Que balanço faz até ao momento da temporada que está quase na recta final?
J.R.T:Felizmente a temporada passada correu muito bem, esta temporada não tenho toureado muito. Tenho toureado corridas boas, de responsabilidade e importantes levo cerca de seis ou sete corridas toureadas em Portugal. Não são muitas… mas vou acabar com cerca de dez. Touriei corridas com categoria, cartéis de máxima competição que é o que tem de ser. Podemos considerar que são poucas corridas. Mas não são. Julgo que todos deveriamos tourear menos dava mais categoria à festa. Em Espanha tenho toureado mais, mas penso que em Portugal isso seria importante para todos.
T:Esta temporada ficou marcada pela renovação da sua imagem. Isso é importante para a carreira de um toureiro?
J.R.T:Acho que sim sem dúvida. Quando foi falado em pleno inverno, sempre fui apologista disso. Mas não foi ideia minha. Com os dias que correm hoje é importantíssimo com a diversidade de coisas que temos porque não aproveitá-las. Temos aproveitado e temos marcado a diferença, portanto era essa a ideia.
T:Um dos momentos que mais o marcou até hoje na sua carreira?
J.R.T:É o dia da alternativa. É o dia forte, um triunfo grande onde saimos todos em ombros no Campo Pequeno, com a praça esgotada é uma noite que nunca vou esquecer.
T:Tem algum ritual antes das corridas?
J.R.T:Ritual não. Nos dias ou em vésperas das corridas venho sempre aqui ao meu avô, ou quando toureio em Espanha. Em casa vamos sempre à igreja ao castelo, Nossa senhora do castelo.
T:Como é composta a sua quadra…
J.R.T:Felizmente julgo que tenho uma quadra boa e importante. Três ou quatro cavalos de saída. Tenho o “Bacatum” um cavalo com ferro Paim, o “Aveiro” no qual deposito muita confiança. Dobra-se muito bem com os toiros. Tenho agora um cavalo novo lazão que é o “Milão” tem toureado este ano e tem superado as expectativas. Depois tenho outro Paim que é o “Zagrebe” outro cavalo de saída. Das bandarilhas tenho o “Ojeda” um cavalo Rio Frio, o “Gabarito” lazão que é cá da casa, o “Ornellas”, o dilatado que é um Ortigão, e o “Zimbro”. Tenho vários cavalos. Tive uma baixa forte que foi o Grave que infelizmente morreu derivado a uma doença quando viemos de uma corrida. Era o craque da quadra. No último teste tenho um cavalo com o ferro Infante que é o “Infante”, o “Cigano”. Tenho cerca de catorze cavalos a tourear penso que é uma quadra bastante completa. Tenho quatro ou cinco cavalos novos para meter para a próxima temporada. Tenho conseguido estrear dois ou três cavalos por temporada o que é importante. Na verdade cavalos bons não há muitos, temos de os fazer e ter a sorte de os conseguir encontrar. Felizmente tenho conseguido isso e penso que tenho uma quadra à altura.
T:Acha que há muitos jovens a apoiar a tauromaquia?
J.R.T:Eu penso que sim. Porque nas praças, vêem-se caras novas, miúdos novos, jovens de todas as idades. A meu ver uma grande percentagem dos aficionados são jovens.
T:Projectos para o futuro…
J.R.T:Queremos sempre mais. Manter as corridas de importância aqui em Portugal. Mas desde os meus 16 ou 17 anos que quero pisar as principais feiras e vejo que isso está cada vez mais perto. Espero que seja já para o ano. Pois é um dos meus grandes objectivos. Gostava também de fazer uma campanha no México já vi as coisas mais longe por isso, vejo as coisas bem encaminhadas para o futuro. É preciso trabalhar, dedicação e nunca desistir.
T:Nota muita diferença entre o público de Portugal e Espanha?
J.R.T:Julgo que há aficionados em qualquer lado. Quando vimos a praça cheia e quando o público vibra é de maneira igual. Pode haver alguma diferença na interpretação do toureio ou não. Quando estão contentes não vejo diferença, vejo que à alegria.
T:O seu toureio encaixa mais em Madrid ou Lisboa?
J.R.T:Bom! Bom! São as duas. (risos)… felizmente já tive a sorte de pisar algumas vezes a arena de Lisboa. Madrid é um sonho. Espero pisar para o ano para saber qual é a sensação. Mas julgo que me iria dar bem em Madrid ou em Sevilha são sítios diferentes. Lisboa é diferente quer para mim como para todos. Quando chega à quarta-feira, já aperta por todo o lado porque Lisboa é a catedral do toureio a cavalo, tem sempre o seu peso. Quando Lisboa está entregue é sem dúvida uma sensação do outro mundo.
T:Uma mensagem para os aficionados em geral...
J.R.T:Que nunca deixem de ir aos toiros. Que nunca deixem de ser aficionados. É a nossa cultura. Não há festa mais bonita e que tenha tanta gente como os toiros.