Integrada no programa da Ficor 2014, realizou-se em Coruche uma corrida de toiros organizada pela empresa Tauroleve, que iniciou funções nesta castiça praça. Corrida de cariz social, pois, parte dos lucros, revertiam a favor da associação Encostatamim, associação de apoio aos doentes oncológicos de Coruche, mas que infelizmente, apenas registou um terço de casa.
Como tem sido apanágio desta empresa, o cartel estava composto com fortes motivos de interesse, em primeiro lugar pelo imponente curro de Veiga Teixeira, que depois dos seus irmãos de camada se terem imposto, e pedido contas na praça de toiros Palha Blanco, esperava-se aqui uma tarde repleta de emoções.
No que respeita ao espetáculo propriamente dito, os toiros, cumpriram em apresentação, peso e trapio, se bem que em termos de bravura não estiveram ao nível do que esta divisa nos habituou. Cumpriram, deixaram-se lidar, e nunca complicaram a vida aos artistas, que com exceção de Ana Batista, estiveram muito abaixo do esperado.
A cavaleira de Salvaterra iniciou funções com uma estampa, preto, com o número 417, nascido em 2010 e com 505kg de peso. Nos compridos a cavaleira cravou bem à tira, mas cedo se denotou que o toiro vinha a menos no momento da reunião. tinha uma investida “curta” e “dócil”, mas cedo a Ana Batista percebeu a investida do toiro, encurtou terrenos no cite, e cravou a ferragem curta na zona dos tércios. No segundo de seu lote, irrepreensível de apresentação, com o número 387 e 540kg de peso, a lide foi idêntica, à do primeiro toiro, correta nos compridos, percebeu o toiro, citou em curto e lidou a bom ritmo, sem perder tempo, saiu no momento certo e deixou vontade de a tornar a ver atuar.
Marcos Bastinhas era outro dos cavaleiros que compunha cartel, e que não esteve ao nível que lhe é exigido. Lidou o segundo da tarde, um bonito toiro preto de 535kg de peso e com o número 398. É certo que foi o exemplar de pior comportamento, virava cara à luta, e sabia onde eram os currais. Mas aos cavaleiros de primeira figura pede-se que tenham argumentos para dar volta às dificuldades, o que não aconteceu nesta tarde, nos compridos cumpriu a função, mas nos curtos nunca percebeu a investida do toiro, teve passagens em falso, tentou cravar sem ter o toiro em sorte e saiu ao terceiro ferro curto sem ouvir música.
Na sua segunda lide foi mais do mesmo, saiu-lhe um toiro cardeno, bisco do pitón esquerdo, mas que apesar destas características, era um toiro bonito com o número 411 e 510kg de peso. Nos compridos o cavaleiro de Elvas esteve correto com duas sortes à tira, nos curtos voltou a não encontrar o sítio, cravou com sortes aliviadas, ouviu música ao segundo ferro em sorte cambiada, que foi o melhor ferro que conseguiu nesta tarde.
Salgueiro da Costa foi o terceiro cavaleiro a entrar em praça, e a tarde não lhe correu bem, o seu primeiro toiro, um cornicurto de 530kg de peso e com o número 398 teve saída atípica, e no capote demonstrou nobreza. Salgueiro da Costa cravou de praça a praça, mas sem temple, e com constantes passagem em falso, não ouviu música, nem deu volta ao ruedo. No segundo do seu lote, talvez o mais bonito e mais pesado da tarde, um preto bragado com 595kg de peso, com o número 421. Neste toiro, e salvo o 2º e º 3º ferro que foram bons, cravados em terrenos de muita coragem, os restantes ferros foram cravados sem regra, nunca da forma mais ortodoxa, e a demorar uma eternidade a preparar as sortes.
No capítulo dos forcados, eles foram os triunfadores da tarde, principalmente os de Montemor, com três pegas executadas à primeira tentativa e com o grupo sempre a dar vantagens, encostado e fechado na trincheira como um “cacho”. Abriu praça o forcado Francisco Borges, esteve perfeito em todos os tempos da pega, mandou e dominou a investida do toiro, fechou-se com garra de pernas e braços à barbela, e como o grupo estava longe, e pelos segundos que as ajudas demoraram a chegar emprestou emoção à pega. O terceiro toiro foi pegado pelo forcado Filipe Mendes, que também fez tudo como mandam as regas: Mostrou-se, citou, aguentou, teve uma reunião sem grandes problemas, no fim da viagem contou com o conforto das tábuas, e com o grupo a ajudar como ajudou em todos as pegas da tarde. Fechou a função de Montemor o forcado Frederico Caldeira, também ao primeiro intento, que deveria apenas ter recuado mais uns passos no momento da reunião, para não ter sofrido um embate tão violento.
Por Coruche, foram caras o forcado Miguel Raposo, que pegou o toiro que tinha vontade de voltar aos curros, achamos que se a pega não fosse para esses terrenos crença, o toiro tinha aguentado mais e a pega teria tido outro desfecho, mas assim, saiu solto e com pata e o forcado não conseguiu fechar-se, pegou à segunda tentativa. O 4º toiro foi pegado pelo forcado Luís Gonçalves. O forcado fez tudo como mandam os livros, mas a violência com que o toiro meteu a cara no momento da reunião desfeiteava qualquer tentativa, pegou à segunda numa pega vistosa. Fechou a tarde o forcado João Peseiro, com o mais pesado e imponente da tarde, o imponente toiro ainda estava inteiro, de boca fechada, mas o forcado fez tudo bem, pegou com raça e com o grupo a ajudar em bloco.
Nesta corrida, como em tantas outras, não se percebe o excesso de capote que os peões de brega insistem em dar aos toiros, teve de ser o público por inúmeras vezes, a protestar para que se respeite a condição física do toiro. Em nossa opinião, e em particular nas lides a cavalo, quase não são necessários capotes, basta os necessários a receber e depois há que preservar o que mais vai faltando nos nossos toiros, bravura e capacidade física para aguentar uma lide do princípio ao fim.