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A Loja Nova e a Tauromaquia - por Paulo Beja

Paulo Beja assisitu e regisotu a tertúlia organizada por Carlos Silva e pela direcção do grupo recreativo e desportivo de Loja Nova, para recordar todas as figuras da festa brava, que habitaram em Loja Nova.
26 de Janeiro de 2014 - 13:10h Notícia por: - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 2199
A Loja Nova e a Tauromaquia - por Paulo Beja

Desde muito novo, com 5, 6 anos recordo os passeios de fim-de-semana dos meus pais pela denominada na altura a voltinha saloia e que viria a ser um dos motivos por me apaixonar pela festa brava. Todos no carro ao sábado depois do almoço desde a Catanheira para subir a Loja Nova até sair ao cruzamento da Agruela e depois voltar por Vila Franca e ir lanchar ao Central. Percurso curto mas divinal pois passava pelas quintas do José Falcão, que nunca o vi pois estava em Salamanca quase sempre, José Júlio que se tornou o meu herói e Mário Coelho. O carro parava e víamos alguns dos seus treinos de salão e lá ficava eu maravilhado durante esses minutos mágicos.

Foi pois com uma alegria intensa que voltei a recordar-me desses momentos na noite de do passado sábado quando pela mão do meu colega Carlos Silva e direcção do grupo recreativo e desportivo de Loja Nova se organizou uma tertúlia para recordar todas as figuras da festa brava que habitaram em Loja Nova e mostrando afinal que desde tempos ancestrais da nossa história a ligação à tauromaquia esteve e ainda continua bem vincada nessa região.

Essa história tão interessante foi focada em início de noite pelo historiador David Fernandes Silva que num discurso abrangente de grande comunicador recordou-nos que em 1313 já El-rei D. Dinis vinha até aos campos de Loja Nova, antigamente conhecida como Zona de santo António de Povos, para caçadas aos ursos com os seus nobres mas também para lancear toiros. A criação do oratório de santo António e a fundação do convento do mesmo nome em 1402 por frei Pedro de Alamancos torna mais conhecida essa região e as casas circundantes ao convento tornam-se esporadicamente a habitações de corte. Sabe-se que D.João II por enfermidade, peregrina com o seu séquito ao convento no ano de 1493, mas já antes Dª Leonor passava algumas semanas do ano em Loja Nova, como refúgio do bulício da corte e foi aí que recebeu Cristóvão Colombo aquando do seu regresso da descoberta das Américas. Em 1824 sabe-se da passagem de D. Miguel no pós-Vila-
Francada por Loja Nova, onde como cavaleiro exímio marialvista, mas também toureiro a pé e pegador de toiros, veio fazer esses jogos de vacas na quinta do Visconde de Coruche. E sabemos que pela sua afición desmedida formou a primeira ganadaria brava com vacas espanholas do Duque de Verágua, ganadaria essa que levou o nome de Real Vacada de el rei D. Miguel. Politicamente sabemos também que foi em Loja, entre 1891 e 1910 um dos locais em que as movimentações republicanas foram cozinhadas conduzindo à implantação da república.

Já com o público cativado nas palavras, David Silva continua-nos a deslumbrar com histórias desta terra de monte, campo e quintas onde ficaram famosas várias na denominada época Farrobo, pois muitas eram propriedade do Conde de Farrobo, filantropo extraordinário que chegou a ter em loja Nova além da produção vitivinícola, criação de gado, montarias para caçadas, também uma fábrica de fios de seda de onde saíram magnificas criações para casacas de cavaleiro tauromáquico, estando algumas delas em exposição no Museu Relvas. Também os estribos da quinta do Palyart e os capotes da quinta da Coutada tornaram-se famosos na altura pois as festas dos nobres que habitavam em Loja Nova convidavam toureiros e além das citadas anteriormente, as quintas da Reticôa, Desterro, Rosário, Boiça, Farrobo, Baixo, Belavista, Bacelos eram palco de festas com temática taurina e fala-se mesmo que entre os séculos 17 a 19 houve mesmo uma ganadaria de vacas bravas na região, lidadas em festas e vendidas também para Espanha que ficaram conhecidas como as vacas de Santa Sofia.

Quanto a toureiros a cavalo e a pé que habitaram Loja Nova, a lista é deveras extraordinária e decerto que será tema para muitas mais tertúlias. Nos anais da história encontramos Domingos Poeira, avô do actor Barreto Poeira, mas também José Bento de Araújo, Fernando d’Oliveira, Luís do Rego, António dos Santos, grande empresário taurino mas também empresário do Coliseu dos Recreios, Ribeiro Tomé, um toureiro genial na altura e cujos descendentes seguindo a sua afición e dedicando-se à fotografia taurina mas não só, deixaram um espólio genial de imagens antigas agora pertença da câmara municipal de Vila Franca. Mateus Falcão, percursor de uma geração taurina, Francisco Rocha, Mestre Baptista, José Júlio e seu irmão Dário Venâncio, José Falcão, Mário Coelho, António dos Santos e José Agostinho dos Santos, enorme bandarilheiro e posteriormente empresário e apoderado de toureiros, António de Portugal e Vítor Mendes que actualmente vive numa destas quintas históricas, a Reticôa. Palmarés extraordinário de grandes figuras na história da tauromaquia em loja Nova.

O Maestro Vítor Mendes teve de seguida a palavra e fez a ligação da sua afición e carreira a esta terra que abraçou desde à muito para viver e criar o seu refúgio taurino com casa, museu e tentadeiro em que recebe os seus amigos mas também fomenta aulas práticas aos seus alunos da escola de toureio José Falcão em que é mestre desde há 3 anos. Da paixão e brincadeiras ao toiro nas ruas de Vila Franca, para onde veio em pequeno desde Marinhais por motivo do trabalho de seu pai, à passagem pela banda do Ateneu Artístico Vila-franquense em que começou a ir como músico todas as corridas na Palha Blanco. O conhecer o Mestre Cadório, sapateiro de afición desmedida que lhe deu alguns ensinamentos de toureio e o levou, assim como tantos outros de então, a pôr-se diante das primeiras reses. E depois o querer aprender mais José Júlio ma quinta da Boiça, aprendendo a técnica e o domínio, toureando em muitas festas dadas na altura pelo matador vila-franquense na sua casa. Os treinos de caminhadas e corridas entre loja Nova e Vila Franca quase diariamente, o lanche roubado às árvores de fruto, onde os golden e as laranjas eram deliciosos ao que diz, e depois desta aprendizagem todo o percurso até aos mais de 30 anos que leva de alternativa. A escola dos irmãos Badajoz em Coruche, o tornar-se bandarilheiro saindo com muitas figuras de então e a célebre corrida dos toiros de morte em Vila Franca em maio de 1977, em que, pela sua prestação na quadrilha de Rayito der Venezuela recebe um convite do popular moço de espada e apoderado Gonzalito que o coloca em Sevilha e ao longo de 3 duros anos o leva à categoria de matador de toiros tornando-se a figura mundial do toureio que todos conhecemos e tendo loja Nova como o seu retiro diário.

Agora a sua paixão, querer e entrega estão cem por cento direccionados à escola que dirige e onde tem 15 alunos desde os 8, 9 anos até aos 20. Foram esses jovens que fecharam a noite de tertúlia com demonstração de toureio de salão com comentários do Maestro mas também do director da escola José Manuel rainho que desde 1988 acompanha todas as incursões dos jovens toureiros e comentou que este ano a escola vai estar presente em Ledesma, San Gil, Albacete, Salamanca, Badajoz, Jerez, além dos intercâmbios anuais da Associação internacional de escolas de toureio. O certame das aulas práticas no cabo da Lezíria ocorrerá uma vez mais em Junho e Julho e congratulou-se especialmente com a inclusão de matadores portugueses na corrida de Colete Encarnando, numa homenagem da empresa Tauroleve à memória dos 40 anos sob a morte de José Falcão. António João Ferreira e Nuno Casquinha estão já contratados para essa tarde.

Também este ano será a alternativa de Manuel Dias Gomes, ele também que passou pela escola vila-franquense, enquanto na primeira linha este ano contam-se com os nomes dos novilheiros pedro Cunha, Pedro Noronha e João Martins. No tocante às dificuldades de fazer matadores de toiros portugueses, respondeu-se que no entanto a renovada fornada de bandarilheiros nacionais nasceram em grande número na escola de Vila Franca e são possivelmente mais de trinta os nomes que estão no activo.

Foi pois com olés aos jovens que fechou a noite com quites de capote, tércio de bandarilhas e passes de muleta a cargo do puntero Pedro Noronha e os mais novos, João Gomes, João Guerra, O Rui e o Firmino, estes com apenas poucos meses de aprendizagem. No final Carlos Silva e Rui Fernando, organizadores do evento anunciaram que irão promover este ano aulas de toureio de salão no centro recreativo, onde se poderão iniciar os novos aficionados e quem sabe mais algum futuro toureiro na região e em Março decorrerá mais uma tertúlia visto o êxito desta iniciativa. Tertúlia que encerrou em conversas noite fora aquecida pela linguiça assada, o pão e o bom vinho da região. Uma excelente noite de toiros em Loja Nova.

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