As festas do Barrete Verde e das Salinas são por si só um dos acontecimentos de maior relevância no calendário taurino português. Este ano a regra confirmou-se, uma semana de festas, inúmeras largadas de rua, e três corridas com casas praticamente cheias, foram motivo de destaque e da afición que as gentes do mar da palha possuem na sua genética. Cartel bem rematado pela empresa Toiros e Tauromaquia que apostou na diferença de idades e de estilos.
A última corrida da feira datava de 14 de Agosto, com um cartel de luxo, onde o principal atrativo, para além de sete cavaleiros em praça, 2 dos melhores grupos de forcados do escalafón nacional, e por ser uma corrida de gala à antiga portuguesa, foi o curro de toiros de Fernandes de Castro, de divisa roxo vermelho, puro encaste Tamarón-Conde de la Corte provenientes da Herdade da Ervideira em Alcácer do Sal, e que muito exigiram aos artistas em praça.
Depois das reais cortesias, que nos transportam ao Século VVIII, abriu a função o cavaleiro João Moura com o toiro número 25, harmonioso, nascido em 2010 e com 455kg de peso, foi o mais leve do curro, de capa cardena, foi um bom toiro, ainda que mal visto pela direita, mas que não teve a lide esperada. O cavaleiro de Monforte sofre pelo nome que possui, aos melhores pede-se sempre o melhor, e ainda que a lide fosse regular noutro cavaleiro, a João Moura pedia-se mais. Nos compridos foi breve e desembaraçado, mas na ferragem curta andou aliviado e cravou algumas vezes a cilhas passadas, destaque para o último ferro curto. Ouviu música ao 2º ferro curto, volta para cavaleiro e forcado.
A Rui Salvador calhou-lhe em sorte o toiro número 33, com 545kg de peso, de capa preta e bisco de armadura. Depois da sua encerrona em Tomar, o cavaleiro apresentou-se em Alcochete com ganas de triunfo, e a lide foi de muito boa nota. Cravou dois compridos à tira e nos curtos esteve ao seu melhor nível, foi a terrenos de muita coragem, e por isso o apelidam do cavaleiro dos ferros impossíveis, o 5º ferro foi mesmo muito bom, perdeu a oportunidade de ter saído em grande, pois o sexto e último ferro foi a mais, para além de sofrer um forte empurrão tocou o toiro que o deixou diminuído para a pega, e foi pena, porque pelo seu comportamento durante a lide, e pelo forcado que já estava escolhido para o pegar daria com certeza uma pega bem mais emocionante daquela que foi de facto realizada.
Sónia Matias lidou o toiro mais sério da corrida, uma estampa dentro das linhas do encaste, bonito, muito em tipo, preto bragado, com o número 29 nascido em 2010 e com 520 kg de peso. A cavaleira cravou os compridos da ordem com acerto, e nos curtos não se intimidou com o Fernades de Castro que era bravo, mas bruto, e saia destemperado para colher. A cavaleira cravou em terrenos de muita verdade e de forma muito corajosa, em alguns ferros deu mesmo a primazia de investida ao toiro, que com o toiro em causa, a iniciativa foi ainda de mérito maior, e quando saiu à praça o Atrevido, o árabe que é a estampa da quadra para os violinos, foi o culminar de uma grande lide.
Filipe Gonçalves foi 4º Cavaleiro a entrar em praça, e para ele estava guardado e melhor toiro da noite, mais um tamarón muito bonito, burraco de preto com o número 34 e com 505 kg de muita nobreza, foi um grande toiro, bravo com trapio que se arrancava de todo o lado com muita nobreza. O cavaleiro aproveitou estas características e fez uma boa lide, ainda que tenha apostado em constantes quiebros que não são a mais convencional e consensual das sortes, mas o público gostou e aplaudiu, ouviu música ao segundo ferro curto, terminou com um par de bandarilhas num toiro de vacas.
O quinto da noite era mais um toiro sério, daqueles que aprende a colher em cada ferro, e que pede toureiro com argumentos para lhe dar lide adequada. Era de capa preta com 515 kg de peso e com o número 40 na espádua, meteu o ruedo em alvoroço, obrigou os peões de brega a sair da arena e foi dono e senhor dela. Manuel Lupi, o cavaleiro da casa, não teve argumentos para o toiro, com a sua vontade ,paixão e recursos que possui pode fazer muito melhor, não ouviu musica e não deu volta, de destacar o 4º ferro curto que foi bom.
Mateus Prieto lidou o sexto da contenda , uma estampada de capa preta com 555kg de peso, cravou dois bons ferros compridos, mas nos curtos andou muito aliviado, e cravou alguns ferros a cilhas passadas, o toiro também este sério, arrancava-se sempre para colher, colheu por duas vezes o peão de brega, e quando percebeu que era inglória a sua investida, começou a tapar-se e a virar costas à luta, terminou a sua atuação com um bom violino, mas deixou o toiro inteiro para a pega.
O último toiro da noite foi de Jacobo Botero, também este de capa preta bragado meano, bonito, que acusou na balança 550kg, mas pela sua altura parecia bem mais pesado. Esteve correto nos compridos, e nos curtos não esteve ao seu melhor nível, os dois primeiros foram bons mas depois já não se conseguiu manter ao mesmo nível, e teve algumas passagens em falso, sem temple, e com um toque forte na montada no último ferro, que foi em sorte de violino, ouviu o Paquito Chocolatero ao 4ºferro.
Mas grandes foram os dois grupos de forcados em praça, sabiamos que habitualmente estes toiros são duros, sabíamos que tínhamos em praça o que de melhor há na forcadagem nacional, e as expectativas foram cumpridas. Abriu praça pelos amadores de Évora o Forcado Esquivel Rovisco, que no dia anterior tinha pegado em Albufeira, O forcado esteve muito bem em todos os momentos da pega, deu vantagens mas o toiro ensarrilhou e a reunião não foi fácil, o frocado agarrou-se como um gato e consumou à primeira tentativa. Dinis Caeiro teve a difícil tarefa de pegar o toiro mais sério da corrida, o de Sónia Matias, arrancava-se solto e com muita pata, o forcado esteve enorme, mas só conseguiu consumar à quarta tentiva com as ajudas carregadas. Para o quinto toiro saltou à praça o forcado João Madeira forcado revelação da época anterior, o toiro estava dono e senhor da praça, inteiro, e adivinhava-se o risco, mas o forcado com muita raça e vontade fechou-se à barbela que nem uma lapa e já de lá não saiu, fechou praça o conceituado João Oliveira com uma rija pega de estaca à barbela.
Pelo grupo de Alcochete, foram caras o consagrado Joaquim Quintela, no toiro de Salvador que ficou tocado, e que veio a xoto e a medir terrenos, pois já se defendia e a pega não teve emoção que deveria ter, ainda que não tenha sido uma pega fácil porque toiro praticamente parado bateu com violência. Para o quarto toiro saiu à praça o forcado Leandro Bravo, e foi realmente bravo! Pegou à segunda tentativa com muita raça, o nobre burraco. A fechar a prestação de Alcochete saltou a trincheira o forcado João Gonçalves com a pega da noite, o toiro estava praticamente inteiro, pouco correu, e de boca fechada custava a arrancar-se, mudaram-lhe os terrenos, mas mesmo assim custou a sair e quando arrancou, veio com tudo o que tinha de bom e de mau, mas teve um grupo pela frente que ajudaram de forma irrepreensível, com destaque para o forcado Diogo Torn, que se pendurou do pitón esquerdo e já não largou, impedido qualquer derrote do toiro, merecida chamada aos médio do cara e do ajuda.
E assim terminou com chave de ouro mais uma edição das festas do Barrete Verde de Alcochete e das Salinas.