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Francisco Morgado, em grande entrevista

Um dos nomes mais sonantes da crítica, Francisco Morgado é a referência para muitos aficionados. Leia a grande entrevista que concedeu ao Taurodromo.com.
04 de Maio de 2012 - 18:33h Notícia por: - Fonte: - Visto: 1800
Francisco Morgado, em grande entrevista

 

Francisco Morgado e a sua voz inconfundível, a sua crítica sempre mordaz e assertiva fazem parte indiscutível do nosso património taurino.

É com sublinhada honra que lhe apresentamos a entrevista que lhe propusemos, a qual nos dá a conhecer um pouco do homem para além da crítica e do jornalismo!

 

TAURODROMO.COM – Iniciou-se muito novo como locutor da Rádio Ribatejo. Como passou à crítica taurina?

Francisco Morgado - Por influência de um amigo – Eusébio Jorge – que ao tempo tinha um programa naquela estação e também uma página sobre o mesmo tema num jornal de Santarém.

 

O jornalismo taurino é a sua fonte de rendimento?

De modo nenhum. Sou director de um jornal, onde todos os que ali escrevem de toiros o fazem de forma absolutamente gratuita. Até hoje, as únicas remunerações que recebi pelas minhas colaborações foram no Jornal Novo e na RTP.

 

Passou por vários órgãos da imprensa taurina. Onde se sentiu mais realizado?

Sem dúvida que foi na RTP, na sua vertente das transmissões directas. A adrenalina que provoca e a concentração que requer são incomparáveis. Ali cada erro, é definitivamente um engano. Por isso, cada directo era um desafio constante.

O trabalho gravado também era gratificante, exigia alguma criatividade, mas como disse nada se equivale a um directo.

 

O Francisco e sua voz inconfundível fazem parte do património taurino português. Como é ter a admiração de todos os aficionados?

Isso é gentileza da sua parte. Mas efectivamente, ainda hoje muita gente me reconhece, curiosamente, mais pela voz do que pela imagem.

Sinto que cumpri um papel, que teve a sua importância na implementação e divulgação da festa, sempre o tentei fazer de uma forma isenta e pela positiva. Se hoje há aficionados que o reconhecem, pois o meu obrigado por isso.

 

No jornal Olé! tem seguido uma linha muito própria. Como a caracteriza?,

Com a experiencia que o tempo me foi dando, procuro, como sempre, dignificar e promover o espectáculo que é o da nossa paixão. Sempre que possível introduzo nos editoriais alguns conceitos didáticos que, como é normal, os leitores acolherão, ou não.

Quanto à linha do jornal, procuramos essencialmente analisar o trabalho artístico dos protagonistas, aquilo que fazem na arena e nunca abordamos assuntos que não digam directamente respeito à actividade profissional dos toureiros ou dos empresários.

 

Porque vale a pena ler o Jornal Olé!?

Sem falsas modéstias, julgo que o jornal tem um naipe de colaboradores bastante equilibrado, com alguns “seniores” de prestígio, acrescentámos já este ano o nome de Joaquim Letria, o que nos enche de orgulho, somos um jornal credível e não é por sermos actualmente o único semanário em Portugal, que nos sentimos mais confortáveis. Queremos sempre tentar fazer mais e melhor, estar em mais sítios, diversificar as matérias, dar semana a semana justificações para que nos comprem.

 

No fórum “Mundial da Cultura Taurina” o Francisco teceu uma crítica feroz à imprensa da internet. Porquê?

Essa foi a imagem que passou nas notícias que de lá enviaram. Mas eu não fiz uma crítica feroz à internet no seu todo. Eu fiz um reparo forte a “uma certa forma de internet”, o que é diferente.

Textos desprovidos de qualquer senso crítico justificável, inclusive com erros ortográficos e fotografias ou vídeos de baixa qualidade, não promovem nem ajudam a festa e muito menos a dignificam. Quem escreve para que outros leiam, tem de ter o mínimo dos cuidados na forma como o faz.

Na altura, a Solange Pinto produziu no seu site um texto de crítica à minha intervenção nos Açores.

Tive o cuidado de lhe enviar todo o texto da minha intervenção e foi com satisfação que recebi a sua resposta, dizendo que afinal concordava comigo, pois que o que lhe chegara estava afinal retirado de todo o contexto da comunicação.

Foi uma atitude bonita da sua parte, porque nós não podemos nunca arvorar a bandeira da razão absoluta. Erramos como toda a gente e ser humilde é ser tolerante e respeitador. 

 

Temos lido, em muitos textos, crítica à “crítica” e pela prória “crítica”, donde vem este fenómeno?

Não é um fenómeno é uma consequência. Muitos pensam que dizendo mal de tudo e de todos se tornam mais respeitados e mais visíveis. Estão enganados.

Hoje há menos conhecimentos técnicos de quem escreve ou fala sobre toiros, porque a massa critica (leitores ou ouvintes) também desceu de exigência.

Mas a nós, que escrevemos ou falamos de toiros para quem gosta deste espectáculo, compete-nos contrariar essa tendência, com peças que sejam de apetecível leitura e que tenham conteúdos com sólidos e justificados argumentos.

 

Acha que actualmente se sabe menos de toureio e do toiro?

Sem dúvida. O espectáculo perdeu felizmente o seu elitismo, ganhou mais adeptos, mas também se confronta com um tipo de espectador que encara a corrida apenas como uma espectáculo lúdico, exigindo participar nele, dando-lhe mesmo um certo ar de folclore. As palmas a acompanhar a música é um bom exemplo, mas também o facto de os violinos e os ferros de palmo serem os mais aplaudidos, não deixa de ser sintomático.

 

Onde gosta mais de assistir a corridas de toiros?

Em Portugal, no Campo Pequeno – ainda e sempre a primeira praça do país – e em Alcochete, onde sinto sempre um grande ambiente taurino.

Vila Franca, está no bom caminho para recuperar esse ambiente e oxalá consiga, pois é uma arena com muita “solera”,

Em Espanha, definitivamente, Sevilha e Bilbao.

 

Diz-se que há três coisas necessárias (ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore) para um Homem se sentir realizado. Falta alguma coisa?

Quase a completar sete décadas de vida, do que mencionou não me falta nada.  Mas digo-lhe que ainda tenho muito para fazer... só peço é tempo ao tempo que me resta.

 

O que mais o irrita no presente da tauromaquia?

A pouca importância que alguns artistas dão ao facto de pertencerem a uma classe que tem tradição, história e regras de convivência que a fazem única no mundo. Só o que digo é que, que quem ignora o passado da sua profissão, não lhe pode nunca aportar mais qualquer coisa. Ficará na história, se ficar, apenas como mais um.

 

De onde lhe vem a inspiração para escrever

Eu escrevo sobre sentimentos e estados de alma. A maioria das vezes, quando enfrento o papel em branco, não sei o que lá vou colocar.

Depois, deixo fluir o pensamento e traduzo isso em palavras. Posso admitir que é uma aptidão. Mas as aptidões também se treinam.. .. ..

 

Que tipo de cartel o convence a ir aos toiros?

Em Portugal, uma corrida à portuguesa, com três cavaleiros que gostem de competir, dois grupos de forcados em boa forma e um curro de toiros, com ferro português, daqueles que tiram o sono aos toureiros.

 

Escrever um novo livro, está nos seus projectos? 

De forma nenhuma. Faenas de Papel, com edição esgotada, foi uma coisa bonita, mas será filho único.

Porém, se alguém quiser fazer uma edição com os meus escritos mais recentes, está, desde já, autorizado.

 

 As suas críticas têm-lhe valido inimizades?

Gostaria de lhe responder de outra forma. Nos quase cinquenta anos que levo a escrever de toiros e de toureiros, de todo o seu entorno e deste universo tão maravilhoso, tenho um exército de conhecidos e guardo para mim uma mão cheia de grandes amigos. Esses sim, é que são a minha maior fortuna. Também tenho alguns, poucos, no campo oposto, mas faço por não me lembrar deles.

 

Continua apaixonado pela tauromaquia?

No dia em que deixar de o estar, o meu lugar ficará vazio nas praças, arrumarei a caneta e fecharei o computador.

Ser aficionado é um comprometimento sensorial com os toiros e com os cavalos, com o campo, mas também com os homens e as mulheres que pisam uma arena.

A própria palavra “apaixonado” define, por si só, um estado de alma.

 

A tauromaquia está tão mal como a pintam?

O espectáculo taurino actual tem um deficit de emoção. Ainda o podemos recuperar se cuidarmos bem dos cartéis e sobretudo do tipo de toiros que mandamos às praças. Em nome de uma certa forma de tourear, supostamente baseada no apuro da estética e nos terrenos de proximidade, os toureiros preferem lidar animais que andam fora do que é um toiro bravo. Falta-lhes fiereza, serem imprevisíveis e sobretudo terem as dificuldades de quem não se deixa dominar.

Se acabarmos com a emoção dos espectadores na corrida, fica muito pouco e tudo se torna desinteressante.

Por alguma razão, quando vamos a um restaurante e comemos mal, dizemos quanto pagámos. Se os manjares foram bons, referimos o que comemos.

Para bom entendedor .. .. ..

 

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