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Paulo Jorge Santos; a rotina de inverno de um cavaleiro

Paulo Beja entrevista o cavaleiro Paulo Jorge Santos, sobre as rotinas de inverno de um cavaleiro tauromáquico
12 de Fevereiro de 2014 - 08:31h Entrevista por: - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 4441
Paulo Jorge Santos; a rotina de inverno de um cavaleiro

Quem passa todas as manhãs pelo amplo portão azul e o casario azul e branco perto do antigo edifício da Marinha em Vila Franca de Xira, nota decerto o bulício dos cascos e relinchos de cavalos no Páteo da quinta que outrora pertenceu ao saudoso José Mestre Batista. É o limpar as camas dos cavalos separados em várias boxes, o dar alimentação e água e logo bem cedinho junto ao pessoal da casa o cavaleiro tauromáquico vilafranquense Paulo Jorge Santos já está de pé, pouco mais das oito da manhã, preparando as montadas para mais um longo dia de trabalho em picadeiro e praça de tenta. São cerca de 10 a 12 horas diárias para que ao chegar a abertura da temporada todas as suas "máquinas estejam bem oleadas". Na manhã do dia 1 de Fevereiro fomos ver esta azáfama na companhia de Carlos Teles, apoderado do cavaleiro vila-franquense e foi uma manhã bem intensa de trabalho com três novas montadas que quer pôr diante do toiro já este ano. Quando chegámos já o Paulo estava entrançando um dos novos craques e pouco tempo depois vimos as amplas capacidades em tentadero do que pode vir a ser mais um craque da sua boa quadra. Um cavalo castanho muito expressivo e nascido ali mesmo ao lado numa das boxes da quinta.

Manhã fria mas produtiva em que vimos todo o desenrolar das montadas frente à tourinha mas também ensino de alta escola, para cortesias e alguns números que tanto cativa o público e ficámos convidados para um treino mais consistente diante de novilhos, pois a época arranca em Março e os cavalos têm que estar confiantes. Aproveitando cavaleiro e apoderado juntos fizemos uma pequena paragem para uma conversa informal.

PB – Hoje fiquei fascinado com todo o labor de equitação e toureio desta manhã em que não páras de montada em montada. É sempre assim tão duro o trabalho diário que impões a ti próprio?

PJS – É sempre assim diariamente. A nível de preparação de cavalos trabalho obrigatoriamente todos os dias a partir das 7,30 – 8,00 horas até às 18,00 ou 19,00 horas. Aprendi a montar com o mestre Luís Valença e desde aí foi sempre o querer aprender mais com grandes figuras que também se tornaram grandes amigos, como o Pablo Hermozo de Mendoza que me abriu portas em Espanha e me ensinou muito ou João Moura que na próxima semana me convidou a tourear vacas na sua herdade e que me servirá para aprender mais, pois todos os dias sigo a querer saber muito mais nesta profissão apaixonante.

PB – A quadra de cavalos é fundamental estar bem trabalhada mas reparei que hoje saíram para a rua os mais novos…

PJS – A nível de quadra, todos os anos pela perseverança com os cavalos que tenho em mãos e já outros que nasceram cá em casa, vou conseguindo colocar todos os anos 3 ou 4 cavalos novos a tourear, o que é extraordinário. É o reflexo do trabalho de casa, de um Inverno que é muito duro. Todos os dias levantar às sete da manhã para uma hora depois estar em cima dos cavalos, com frio, chuva, é muito duro! Mas depois temos a recompensa de ver, por exemplo o cavalo que há pouco montei, ter nascido cá em casa e já o ano passado toureou em Espanha e está a postos para se estrear este ano em praças portuguesas, para mim mais exigentes e quando actuo em Portugal, o país cátedra do toureio a cavalo, tenho que ter absoluta confiança nos cavalos que coloco frente a um toiro. Este ano, este cavalo e mais dois estão aptos para serem utilizados já em início de temporada. Cavalos que preparei diariamente para fazerem coisas novas aos toiros, pois a lide não pode nem deve ser sempre igual e eu quero inovar. Cada cavalo é um caso e cada toiro tem a sua lide e estou motivado todos os dias para tirar o melhor partido de cada montada.

PB – E Carlos Teles, quando podemos ver em praça todo este trabalho de Inverno do Paulo Jorge?

CT – O Paulo está preparado para grandes cartéis, sabemos que a competição é muito forte e os cartéis até ao momento estão muito bem rematados e a guerra vai ser decerto muito salutar. Dia 30 de Março estaremos em salvaterra de Magos, a 4 de Maio em Vila Franca de Xira na corrida de alternativa do cavaleiro Nelson Limas e dia 25 de Maio está já fechado o trio de cavaleiros para a tradicional corrida em Benedita onde o Paulo terá como companheiros de cartaz Luís Rouxinol e Filipe Gonçalves. São corridas importantes que nos darão moral para as próximas actuações numa temporada em que contamos fazer cerca de 18 espectáculos em Portugal e alguns claro em Espanha onde o Paulo tem o seu valor desde há muito.

PB – Recentemente foram convidados pela Plural a participar nas gravações da novela “Belmonte” onde participaram numa corrida às lebres filmada na Herdade da Madalena, propriedade da família Taborda. Uma jornada interessante de confraternização entre nomes da festa brava com os actores e produção desta novela, mas também de grande importância para dar a conhecer os nossos agentes da festa brava a um público menos conhecedor…

PJS – Foram momentos muito bonitos e quero agradecer ao nosso amigo Luís Fialho Rico da Plural, não só o termos aparecido na novela mas todo o entorno de camaradagem vivido nesse dia. O estar com o Vasco Taborda e família, anfitriões do espaço da caçada, todos os meus colegas de profissão mas também o João Augusto Moura que levou as lebres e alguns bandarilheiros e apoderados. O conhecer ao vivo os actores e os bastidores de uma novela de êxito e principalmente o ambiente especial vivido. Foi uma quinta-feira especial onde a minha família também esteve presente e desfrutámos todos dessa jornada que passará para a semana na TVI.

PB – E ter o “Calô” como apoderado como é? Nota-se uma grande química entre vocês, uma amizade quase de irmãos…

PJS – É diferente, é divertido, estimulante mesmo pois acompanha-me quase diariamente nos treinos aqui em casa e tem uma garra e uma maneira de falar com os empresários que parece ser fácil uma contratação, embora saibamos que não é assim. Mas os seus muitos anos vividos com a família da festa, como forcado enorme que foi, soube granjear simpatia entre todos e torna-se fácil na comunicação, faz-nos confiar e deixa-nos espaço para nos centrar-mos na preparação das montadas e no momento de entrar em praça.

CT – Na verdade tenho que agradecer a todos os meus amigos na festa, a todos os empresários que me aturam pessoalmente ou por telefone, para arranjar datas para o meu cavaleiro, mas tudo se torna mais fácil de comunicação mas também de motivação porque me sinto em casa do Paulo como em minha casa. Mesmo em dias de menos trabalho venho aqui só para o ver treinar ou simplesmente almoçar e conversar com ele e os pais. É uma família extraordinária e isso sente-se em qualquer situação.

PJS - E posso acrescentar que durante a temporada, mesmo em dias de corrida, apesar de sermos perfeccionistas e querer as coisas bem-feitas, com a presença do “Calô” divertimo-nos sempre que vamos tourear. Desde o embarque dos cavalos aqui em casa, à viagem, salvaguardando os momentos de introspecção antes da corrida… O entorno é muito salutar e a roda dos amigos que se juntam ao pé do camião, vendo o desenrolar das montadas e desejando-nos sorte é uma energia muito positiva para o que vem a seguir. E no final, o regresso, os comentários, alguma palavra de conforto se as coisas não correram tão bem, o “Calô” faz-nos pensar que a festa brava é linda e há muitos bons amigos!

PB - Obrigado por estes momentos e esperamos que num próximo encontro possamos comentar os triunfos que terão decorrido no arranque da temporada. Para já, até dia 30 em Salvaterra de Magos.

 

TEXTO E FÓTOS DE PAULO BEJA

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