Pedro Salvador é natural de Samora Correia mas é em Benavente, na Quinta do Monte Gato, que passa os dias a preparar os seus cavalos para a temporada que se avizinha. Realizou o sonho de ser toureiro… uma paixão que exige diariamente esforço e dedicação da sua parte. Muitos são os objectivos ainda por concretizar e tem na família, o seu maior apoio.
Taurodromo.com (T) - Como é que nasceu a paixão pelos toiros e pelo toureio?
Pedro Salvador (PS) - Os meus avós começaram a levar-me às corridas de toiros para ver o Mestre Batista e os toureiros daquela época, era eu muito novo, com quatro ou cinco anos de idade. Só queria ver corridas de toiros, ao vivo ou pela televisão e quando dei por mim, já era aficionado.
Mais tarde, entrei para o Centro Equestre da Lezíria Grande. É uma história engraçada, pois os meus avós, motivados pelo meu sucesso escolar, pagaram-me umas aulas com o Mestre Luís Valência e então acabei por ficar por lá até ao ano de 1995. Através de uma brincadeira do meu padrasto em Pegões Velhos, comecei a tourear um ano antes de sair do Centro Equestre e … aqui estou agora.
T - Como tem sido o seu percurso até aos dias de hoje?
PS - Tem sido fundamentalmente um percurso carregado de paixão e por uma enorme afición.
Analiso a minha carreira com uma dose considerável de romantismo, pois tem sido uma luta permanente para chegar a este patamar. O problema é que os meus objectivos ainda vão a meio, ainda me faltam concretizar alguns e a luta vai continuar dura como até aqui. Acho que tem sido uma carreira bonita. Sabe, senti pela primeira vez o peso histórico da casaca, quando tirei a prova de praticante no ano de 1999. Esse dia teve um efeito tão grande em mim, que ainda hoje me preocupo em honrar o peso que a casaca impõe.
T – Quais as maiores dificuldades com que se depara no meio taurino?
PS - A maior de todas é a de atingir os objectivos propostos com a segurança e o profissionalismo exigível. A segunda maior dificuldade, é dentro do meu conceito de toureio, ir aperfeiçoando diariamente a técnica e a colocação dos cavalos, tudo é difícil e trabalhoso. Quanto ao resto, os empresários é que mandam nos cartéis e para as oportunidades surgirem temos de estar bem.
T - Qual é esse conceito de toureio.... Aquele que gosta de pôr em prática?
PS - Desde que comecei a tourear que o meu conceito preocupa-se em dar vantagens ao adversário e há-de manter-se até ao final do meu percurso. Não sei explicar muito bem mas é o que sinto no momento. Todas as corridas são diferentes e há que respeitar o toiro e o público.
T - Qual o balanço que faz da temporada de 2011?
PS - Foi a temporada em que consegui reencontrar-me. Tenho de agradecer muito ao meu apoderado, Ricardo Levezinho, por ter acreditado no projecto Pedro Salvador e por ter-me colocado em corridas importantes. Corridas com projecção, salvaguardando a minha imagem. Depois tive o apoio incondicional da minha família, que me moralizou muito durante toda a temporada, independentemente da importância das corridas. Todos estes factores fizeram a minha temporada de 2011, muito positiva e completa.
T -O que podem esperar do Pedro Salvador para 2012?
PS - Tenho estado a preparar a próxima temporada de uma forma muito consistente, sempre preocupado em melhorar. Espero, conseguir solidificar em 2012, todo o trabalho realizado até aqui em sucessos.
T - E a sua quadra de cavalos para 2012.....
PS - Não vendi, nem tenciono vender nenhum cavalo. Porém, tenho alguns cavalos para apresentar. O Talismã, um cavalo de saída com o ferro Irmãos Serrano. O Xelim, também de saída e com o ferro Ornelas Vasconcelos. Dada a evolução que o Xelim tem manifestado, estou a pensar ainda este ano integrá-lo nos cavalos de bandarilhas. O Visconde, que vai fazer a sua estreia e que tem o ferro da Casa Farto. O Gabarito, filho do famoso Gabarito, tem o ferro Manuel Silvestre e é um cavalo de bandarilhas que pode tornar-se um caso sério.
Tenho ainda o Goya que é um Núncio, o Vilaverde que tem o ferro Peralta, o Solpinho com o ferro Anão, o Restolho e o Domecq, que ainda se encontra em condições para entrar em algumas corridas, principalmente naquelas em que seja necessário marcar a diferença.
T - Durante a temporada como consegue conciliar o toureio e a família?
PS - Sem o apoio e a compreensão da família, tudo isto tornar-se-ia uma tarefa quase impossível. Eles acompanham-me em todas as corridas que toureio e assim tornam tudo muito mais fácil.
T - E o seu filho João, depois de estar aqui a montar consigo, como vê o futuro dele? É para ser toureiro?
PS - Não sei….. Não faço mesmo a menor ideia. Se ele quiser ser toureiro terá o meu apoio, quer emocional como logístico, pois trata-se de uma vida muitas vezes complicada e ingrata. Independentemente da sua escolha para o seu futuro, terá sempre o meu apoio.
T - Quanto às corridas, tem baseado fundamentalmente as suas temporadas só em Portugal. Isso é para continuar?
PS - Sim, vou basear-me sobretudo do território nacional para efectuar corridas. Defender o que é nosso com os nossos intervenientes. A corrida à portuguesa está a atravessar uma fase em que precisa de ser defendida. Eu não tenho absolutamente nada contra o rejoneio. Também não tenho ido para a América Latina nos defesos porque nunca surgiu nenhuma oportunidade para tourear um número elevado de corridas, foi sempre uma oportunidade de uma ou de duas corridas e isso acaba por não compensar. Já fui ao Peru e valeu pela experiência. Esses países são bons para quem quer tourear mais em Espanha. Os meus objectivos, por agora, não passam por aí.
T - Como vê o facto de alguns colegas seus confirmarem alternativas em Espanha?
PS - Nós, os cavaleiros portugueses somos nobres e não somos maiorais, andamos de casaca Luís XV e isso é algo com muito peso. Porém, para se tourear em algumas praças espanholas, é necessário ter a alternativa de rejoneador. Compreendo e aceito a opção de muitos em tirarem essas alternativas para poderem tourear em praças de primeira em Espanha. No fundo, é mais uma alternativa, mais uma cerimónia, mais um dia.
T - O que pensa sobre a entrada dos toiros espanhóis em Portugal?
PS - Acabam por serem necessários e por se justificar. Também necessitamos de vender toiros para Espanha e por isso acaba por ser natural o intercâmbio de toiros entre os dois países.
T - Qual o sonho que ainda falta concretizar?
PS - Faltam concretizar objectivos e não sonhos. O sonho era ser toureiro. Sou toureiro, com uma enorme paixão.