Dada a temática lançada ainda no Tourobravo.com relativamente à questão dos das voltas à arena, nas lides dos espectáculos tauromáquicos em Portugal, o taurodromo.com esteve à conversa com o presidente da APET, Associação Nacional de Empresários Tauromáquicos, o empresário Paulo Pessoa de Carvalho.
Taurodromo.com: No artigo que escrevi no final da temporada passada "Proposta de Prémios e Critérios para as actuações", há um claro sentido de dignificação da festa brava em Portugal, concorda com a necessidade de trazer mais dignidade à festa em geral?
PPC: Com certeza que sim. Não quero dizer com isto que a festa não tenha dignidade, mas que tem caído muita vez na banalidade e numa grande falta de critérios é verdade, isso é preocupante e deve ser corrigido.
Nesse sentido é óbvio que se terá que trazer maior dignidade à festa e isso começa pelos agentes que dela fazem parte, através da seriedade com que montam os espectáculos e com que neles participam, mas também e muito, por um maior rigor na avaliação do desempenho dos intervenientes, avaliação essa, que tem que ser efectuada pelo público que pagou o seu bilhete e ao qual compete dizer se gostou ou não.
E é exactamente aqui neste ponto que o seu artigo toca na ferida e em meu entender muito bem, pois aqui, tem que se chamar o público (e está no novo RET) a pronunciar-se perante o desempenho que viu de cada artista, e não, ser o próprio a avaliar o seu grau de performance, ajuizando na primeira pessoa, se merece recompensa (volta) ou não. O único pequeno (ou não) senão, é que corremos o risco de ter um público maioritariamente inculto, mas esse será o risco ...
Taurodromo.com: Enquanto empresário, qual é o juízo que se faz actualmente de uma lide para se decidir se uma volta à arena é merecida ou não?
PPC: Enquanto empresário? Não consigo distinguir muito bem os diferentes níveis de análise, de empresário, de aficionado, ou de outro estatuto qualquer, porque no fundo a minha opção pessoal é a mesma em qualquer papel.
Isto é, o juízo que faço compete à minha qualificação do que vi e pontualmente pela forma mágica como alguns toureiros chegam ao público, pois o que pode ser meritório na atribuição de volta, é sempre a qualidade do desempenho do toureiro e o quanto se conseguiu chegar ao público, mesmo que o desempenho tenha sido menos conseguido.
Como sabe, é muito distinto de praça para praça o grau de exigência, e o bom exemplo disso é o Campo Pequeno que hoje é uma praça fácil, onde a quantidade de pessoas que não percebe de toiros, apaga os verdadeiros aficionados e conhecedores. Aqui, se no futuro regulamento tivermos um director de corrida mais sério e que não vá atrás do toureio fácil e do engano, vamos ter assobios quando não for dado lenço para a volta, mas isso também não me preocupa, antes pelo contrário, pois isso dará a médio prazo a tal dignidade que tanta falta faz e exigirá maior e mais sério empenho aos artistas.
Taurodromo.com: Acha que este modelo actual (não regulamentado) é adequado para uma realidade sem sentido crítico relativamente à presença do toiro em praça, nem à qualidade da prestação dos toureiros?
PPC: Não percebo muito bem esta pergunta, o que quer exactamente saber, mas acho que esta modalidade potencia tudo, todos os aspectos que refere, quer toiro, quer artistas.
O toiro em praça, quando tiver trapio, sentido, agressividade, qualidade de investir à primeira chamada, quando for bravo e dono da arena, será sempre e em qualquer situação apreciado e haverá reconhecimento do público mais ou menos aficionado. Seja qual for o critério de avaliação e de premiação, nunca o papel do toiro ficará comprometido, apenas e só dele, dependerá a avaliação que se lhe faça.
Quanto aos artistas é que a coisa pia mais fino, mas acho que o sentido crítico existirá sempre, tanto mais quanto o público for conhecedor. De qualquer forma, o director de corrida será soberano na atribuição do prémio (volta), pois quantas vezes não vimos já fortes petições ficarem em branco?
Portanto e para concluir, eu acho que o sentido crítico não se perderá e acho esta nova metodologia mais adequada do que até então tem sido praticado, pois não concebo uma auto-avaliação. Se há artistas que têm a capacidade de análise correcta e a noção do bom e do resto, outros não o têm e são esses que ridicularizam e descredibilizam a festa.
Taurodromo.com: Concorda com a implementação de este novo modelo que se baseia na petição do público ao director de corrida para autorizar as voltas à arena?
PPC: Concordo totalmente, mesmo correndo o risco de haver um público que quer é festa de qualquer maneira, pois esse público também faz falta e temos como atrás disse sempre em última análise, o director de corrida que poderá não autorizar a volta.
Taurodromo.com: Ainda relativamente aos directores de corrida, concorda que a sua acção moderadora no espectáculo poderá desempenhar um papel também pedagógico?
PPC: Naturalmente que sim. Tem havido e cada vez haverá mais por parte da IGAC, a preocupação de que os directores de corrida estejam cada vez mais capacitados e avaliados para desempenharem as suas funções, nomeadamente a avaliação do desempenho de cada artista na sua mais variada função.
Se o público reconhecer competência ao director de corrida, se for definido um critério coerente além da sensibilidade de cada um, o público começará também a aprender com o desempenho do director e isso será pedagógico de uma forma natural.
Taurodromo.com: Concorda que seja o público o principal elemento com poder para decidir o resultado do espectáculo (através do director de corrida)?
PPC: As perguntas estão todas um bocado interligadas, claro que concordo como já disse anteriormente! Esta é a forma correcta.
Primeiro o público tem que pedir, depois o director terá que avaliar se o pedido é meritório, esta é a forma e só tenho a dizer mais que:
TARDOU MAS CHEGOU!
Taurodromo.com: Um dos aspectos positivos que sobressai é o espaço que é automaticamente criado um espírito de competitividade entre toureiros, que benefícios é que isto traz para um espectáculo e para a festa em geral?
PPC: Para alguns toureiros será igual, pela sua postura guerreira e lutadora em qualquer situação, mas na generalidade acho que vai ser mais exigente e a festa vai ganhar de sobremaneira.
O que diz é correcto, pois há certos toureiros que seja qual seja o tipo de lide que tenham o sucesso ou insucesso que alcancem, o seu pé salta sempre para a volta à arena. Para estes a coisa vai piar mais fino, claro que isso vai gerar uma maior aplicação pois a partir de agora a volta não vai depender da sua "lata", mas sim da avaliação do público, por isso mais uma vez este critério irá ser positivo e a festa irá com ele beneficiar!
Taurodromo.com: Como encara esta moda que substitui a perícia de um cavaleiro para lidar um toiro, pelos "truques" que os seus cavalos são capazes de fazer em praça?
PPC: Encaro mal, muito mal. Isso estraga a festa e é uma mentira, pode divertir quem não sabe, mas uma coisa é tourear, com maior ou menor alegria, outra é circo, e o circo é numa tenda, não é numa praça de toiros!
Taurodromo.com: Concorda que a intervenção do público no resultado de uma corrida é um benefício do ponto de vista da motivação para o aumento da assistência nos espectáculos taurinos em Portugal?
PPC: Nunca tinha pensado nessa perspectiva, mas agora que pergunta, acho que sim. Muitas vezes o público desmotiva-se por não ser juiz, por saber de antemão que independentemente de um artista tourear ou fazer palhaçadas ele dará a volta à arena, isso pode ser desmotivante.
Com este novo "poder" do público acredito mesmo de forma convicta, que isso pode motivar mais público a ir às praças e acima de tudo, a ir de outra maneira e mais a gosto!
Taurodromo.com: Na sua opinião, como implementaria este novo modelo e quais seriam as suas sugestões para dignificar a volta à arena?
PPC: Este novo modelo está implantado e acho que bem implantado, para ele dei a minha opinião e com ele concordo plenamente!
A forma será conhecida dentro de pouco tempo, pois o regulamento será posto em vigor dentro 3 ou 4 meses. Não quero agora dizer muito mais, mas posso dizer às pessoas para se prepararem para levar lenços para as praças se quiserem ver os artistas premiados com volta à arena.
Taurodromo.com: Dado tudo o que acabamos de abordar, concorda com a necessidade de se regulamentar este aspecto dos espectáculos em Portugal?
PPC: Concordo, já o disse tantas vezes nesta entrevista, mas repito para acabar, CONCORDO!
Está regulamentado no novo RET e será aplicado não tarda, vai ser bom para a festa de toiros em Portugal, vai-lhe dar maior seriedade, vai motivar mais o público, vai exigir maior empenho e brio aos artistas, vai ensinar muita gente a conhecer melhor esta arte, vai em tudo contribuir para uma melhor e mais séria festa de toiros, por isso estamos todos de parabéns e espero que seja no mais breve espaço de tempo, que tenha início a entrada em vigor deste novo RET.