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Nuno Casquinha em entrevista na véspera da sua apresentação de ouro em Lisboa

O mais recente matador de toiros português, consedeu uma pequena entrevista ao Taurodromo.com na véspera da sua apresentação enquanto matador de toiros no Campo Pequeno.
11 de Agosto de 2011 - 09:58h Entrevista por: - Fonte: - Visto: 2772
Nuno Casquinha em entrevista na véspera da sua apresentação de ouro em Lisboa

Nuno Casquinha é o mais recente matador português de alternativa.

Após tourear em Vila Franca e em vésperas de ir ao Campo Pequeno, quisemos recolher algumas impressões junto do novo matador, de forma a percebermos quais as ambições e os medos que o rodeiam.

Olá Nuno Casquinha. Obrigado por hoje partilhar em exclusivo a sua muleta com o Taurodromo.com

Antes de mais, muitos parabéns pela alternativa. Para começar, gostaríamos de o questionar sobre a sua alternativa e como a sua vida se alterou após 29 de Maio.

Taurodromo - A sua alternativa chegou a parecer que nunca mais iria acontecer, pois as condições meteorológicas estiveram contra si. O que se sente e como se recupera de uma corrida de alternativa que é adiada à última da hora?

Nuno Casquinha - Em primeiro lugar, eu quero agradecer-vos a amabilidade por me contactarem para conceder esta entrevista. É uma situação um pouco rara de acontecer, logo no dia da alternativa, mas o meu pensamento foi sempre positivo, pois em primeiro lugar o estado do piso estava realmente impraticável para se tourear e pensei que não havia outra solução e que assim até teria mais dias para me preparar melhor para a corrida. O mais preocupante veio nos dias seguintes, porque houve uma certa dificuldade em encontrar uma data disponível para a corrida se realizar. Por isso, quando saíram novamente os cartazes, já pode imaginar o alívio que senti.

Taurodromo - Ultrapassadas todas as condicionantes e logo com troféus na alternativa, quais as expectativas e os receios que assolam um matador português?

Nuno Casquinha - Eu acho que sempre fui realista com a minha situação, que nunca foi fácil, mesmo enquanto novilheiro. Portanto, as dificuldades encontrarei como matador, algumas delas já vivi como novilheiro. Por isso já estou mentalizado que o caminho não será nada fácil até conseguir romper. No nosso país a grande maioria de corridas são à portuguesa e em Espanha o circuito está muito fechado para se conseguir tourear com alguma regularidade. Portanto, só há uma maneira de ir escalando posições, que é tentar triunfar todas as tardes.

Taurodromo - Depois da alternativa, toureou em Vila Franca, a praça da sua terra, com casa cheia e com uma grande ovação no 1º toiro. Foi a festa portuguesa que sonhava logo a seguir à data de alternativa?

Nuno Casquinha - Foram realmente bonitas as sensações que tive na tarde da minha apresentação, como matador, no meu país, principalmente com o primeiro toiro do meu lote, que foi um grande colaborador. Eu entreguei-me e o público esteve sempre comigo, ou seja, foi como que a apresentação quase sonhada. Deu-me imensa moral esse êxito.

Quero agora questioná-lo sobre a sua carreira. Sabemos todos, porque o Nuno também nunca o escondeu, que passou por várias dificuldades enquanto novilheiro. Dificuldades não só de colocação em carteis mas também de saúde.

Taurodromo - Dia 11 de Agosto vai ao Campo Pequeno enfrentar um curro de José Luís Cochicho. Para além das diferenças óbvias entre Portugal e Espanha no que respeita ao tipo de corrida de toureio apeado, quais as diferenças que um matador de toiros sente frente a um toiro numa praça lusa e uma espanhola?

Nuno Casquinha - A principal diferença deve-se ao facto de o toiro cá não estar picado e em Espanha sim. Logo as faenas lá, geralmente têm um ritmo mais lento que cá em Portugal. Mas tirando essa diferença, o resto penso que até seja similar. O público português ou o espanhol, quando vê um toureiro que se entrega, igualmente também se entrega e quanto às ganadarias, tanto num país como no outro, há ganadarias mais toureáveis e outras mais duras. Quero também fazer uma observação, embora cá os toiros não sejam picados também se podem ver grandes faenas como foi o caso da minha de Vila Franca e de muitas outras de outros toureiros.

Taurodromo - Actualmente em que ponto está a sua carreira? Quantas corridas espera tourear este ano?

Nuno Casquinha - A minha carreira neste momento está um pouco como que a começar novamente do zero, pois entrei agora num “escalafon” novo, no qual irei compartir carteis com maestros muito mais experientes que eu. Em contrapartida, penso que sou uma novidade como matador este ano e por isso, como apareci em Vila Franca de Xira o publico deposita renovadas esperanças em mim. Este ano o meu objectivo maior era realmente tirar a alternativa, algo que felizmente já aconteceu. Não lhe posso dizer com exactidão qual o número de actuações deste ano, pois ainda podem aparecer algumas, mas calculo que terminarei o ano com pelo menos cinco festejos. Ao não ter neste momento apoderado e com a redução drástica de espectáculos, sobretudo em Espanha, tudo se dificulta ainda mais.

Taurodromo - E acha necessário ser-se bem sucedido em Espanha para poder entrar em mais cartéis em Portugal? E nos casos de França e América Latina, há alguma oportunidade em vista para breve?

Nuno Casquinha - Penso que é fundamental ter êxitos em Espanha para que se abram mais portas em Portugal, pois como todos sabemos, os triunfos por lá têm muito mais repercussão. Em relação a próximas corridas em França, este ano muito provavelmente já não tourearei lá porque as corridas são feitas com imensa antecedência e agora já estão todos os cartéis fechados. Para a próxima temporada já houve um par de contactos, um deles para uma corrida logo no inicio da temporada que espero que se concretize. Para a América Latina estamos igualmente em contactos, principalmente para a Venezuela e México, para lá ir tourear já este inverno.

Taurodromo - Já lhe aconteceu não entrar em algum cartel, porque determinado toureiro não quis que assim fosse? Se sim, como se supera esse facto?

Nuno Casquinha - Felizmente foi uma coisa que nunca me aconteceu, pelo menos que eu tivesse conhecimento. Quando esse tipo de coisas nos acontecem, os que as fazem não só prejudicam o outro toureiro como também prejudicam a própria festa.

Taurodromo - E a sua "cuadrilla". Fale-nos sobre ela. Quantas pessoas estão consigo? E de quem se socorre no caso da indisponibilidade de algum dos membros que a constituem?

Nuno Casquinha - Como eu nunca tive uma temporada de toureio com um elevado número de corridas, nunca fixei nenhuma quadrilha, pois penso que isso seria prejudicial para eles. No entanto nestas duas últimas corridas, a da alternativa e a de Vila Franca tourearam comigo os mesmos bandarilheiros. A minha quadrilha é constituída por 8 pessoas (2 picadores, 3 bandarilheiros, 2 moços de espadas e o motorista da carrinha de quadrilhas).

Taurodromo - Não é habitual vermo-lo a realizar a "solo" o segundo tércio. Costuma treinar a colocação de bandarilhas?

Nuno Casquinha - Eu deixei de bandarilhar nas corridas há 3 anos. Mas costumo treinar com as bandarilhas quase todos os dias no “carreton”. Aliás, este ano até já voltei a bandarilhar em algumas tentas. No entanto, antes de aparecer outra vez numa corrida a preencher esse tércio, as coisas têm de ir muito certinhas para que não haja falhanços.

Gostaria agora que desvendasse um pouco sobre si. No que pensa quando está nas arenas, longe delas e quais os sonhos que o moldam.

Taurodromo - Qual é o nome do toiro que se recorda todas as noites antes de adormecer? Porquê?

Nuno Casquinha - Raramente penso no nome de algum toiro antes de adormecer, também possivelmente por culpa minha, pois nunca prestei atenção aos nomes dos novilhos e toiros que toureei. O único que me lembro nome é do toiro da alternativa, chamava se " Atarfero ".

Taurodromo - Quais foram os seus ídolos e as suas referências?

Nuno Casquinha - Eu sempre admirei todos aqueles que têm o valor de estar á frente de um toiro, todos eles me merecem o máximo respeito. Nunca fui uma pessoa que me fixasse só num toureiro. Tento valorizar as várias formas de interpretar o toureio. Mas na minha opinião houve maestros aos quais devemos agradecer a perfeição que actualmente hoje existe nas faenas, tais como Joselito, Juan Belmonte, Manolete, El Cordobés, Paco Camino, Paco Ojeda, Jose Tomás e El Juli, entre muitos outros claro.

Taurodromo - Que superstições possui antes, durante e após uma corrida?

Nuno Casquinha - Posso confessar vos que já fui mais supersticioso, nos últimos anos tenho vindo a eliminar todas essas manias que metemos na cabeça, a maior parte das vezes sem grande sentido. Aliás até tenho enfrentado alguma situação que antes, se calhar, me custava muito mais fazê-lo. Por exemplo, se não tenho sorte com determinado “traje de luces”, como por exemplo aquele com o que toureei na corrida do colete encarnado, continuo a vesti-lo até que um dia as coisas corram bem. No caso deste vestido passaram-se várias tardes em que as coisas não saiam bem de maneira nenhuma. As únicas superstições que tenho são as de entrar com o pé direito e fazer uma cruz na arena durante o “paseillo”.

Taurodromo - Actualmente e apenas como espectador, qual é aquela corrida que não pode perder de ver nem por nada?

Nuno Casquinha - Uma corrida na qual gosto sempre de estar presente é a do colete encarnado de Vila Franca de Xira, pois aparte do cartel que seja, é uma corrida com imensa tradição e tem sempre um sabor especial. Nas corridas de Espanha, as que não posso assistir, estou no dia seguinte logo atento aos vídeos dessas mesmas corridas nos diversos sites taurinos. Posso dizer que sempre que posso, vejo e revejo faenas no youtube um cem número de vezes.

Taurodromo - Diga dois matadores e o porquê, com quem gostaria de dividir cartel e em que praça?

Nuno Casquinha - Os dois matadores com os quais gostaria de compartir cartel seriam os maestros José Tomás e El Juli, pois actualmente são os meus dois toureiros de referência. A praça podia perfeitamente ser a Maestranza de Sevilla... Se há que pedir, pelo menos pede-se bem!

Taurodromo - Quem é aquela pessoa a quem sempre agradecerá pelo facto de hoje ser um toureiro de alternativa?

Nuno Casquinha - Se me permite, vou dizer 2 pessoas que foram as que eu brindei o toiro da minha alternativa, a minha mãe e a minha namorada, que foram na verdade as pessoas que mais me apoiaram e posso dizer que é também muito graças a elas que hoje sou matador de toiros. Além também de muitas outras pessoas que me têm brindado o seu apoio em diversos momentos da minha carreira.

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