Corrida de Toiros em Vila Franca de Xira
08 de Maio de 2017 - 21:01h | Crónica por: Jorge Rebocho - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 1814 |
Foi em data simbólica, que se realizou a primeira corrida da época 2017 na Palha Blanco, era dia da mãe, dia de todas as mães que como ninguém padecem pelos seus filhos na arriscada arte de enfrentar toiros.
Em disputa estavam 3 troféus, o prémio João Vilaverde para o melhor grupo de forcados em praça e por ser um concurso de ganadarias disputou-se ainda o prémio bravura e apresentação para os 6 touros que foram a concurso.
O cartel foi uma aposta na juventude que bem precisa destas oportunidades e de compromissos sérios para conquistar definitivamente o seu espaço na tauromaquia portuguesa, o cartel era desta forma composto pelos cavaleiros Francisco Palha, João Maria Branco e Salgueiro da Costa, para pegar este curro estiveram em praça o grupo de forcados Amadores de Vila Franca de Xira e o Grupo de Forcado Amadores de Alcochete, os toiros provinham das ganadarias de branco Núncio, António Silva, J. L. V Souza d’Andrade, São Torcato e Passanha Sobral.
A corrida registou uma fraca entrada de público, o que soube a pouco pela composição do cartel, apenas um terço de casa. No que toca ao espectáculo propriamente dito os toiros estiveram muito acima dos toureiros, e foram os próprios toiros e os forcados que salvaram a tarde e fizeram render o tempo a quem lá esteve.
É importante salientar que os cavaleiros não estiveram bem, acreditamos que só não fizeram melhor porque puderam, o risco e a irreverência são apanágio da juventude mas primeiro há que saber fazer bem a papeleta e só depois, se houver condições, ir mais além para que haja emoção.
Os bons toureiros são aqueles que conseguem fazer a lide quase perfeita num toiro bom, conseguem uma lide correta num toiro difícil e conseguem sacar os poucos recursos a um toiro mau, primeiro que tudo há que interpretar e compreender o que se tem pela frente, e depois adequar a lide à circunstância.
Nesta tarde os cavaleiros arriscaram com toiros sérios, que não permitiam falhas nem erros, muito menos correr riscos e por esta razão salvo a sorte gaiola do cavaleiro Francisco Palha e em alguns parcos ferros estiveram ao nível do compromisso.
O primeiro toiro da tarde com o nº 51 e divisa de Passanha Sobral foi um toiro muito bonito, aliás como todos os outros e que cumpriu ao que veio, O Francisco Palha andou correto nos compridos, e cravou 3 ferros curtos com acerto com um toureio de ataque, saiu ao terceiro ferro quando ainda se lhe pedia mais. Abriram praça os amadores de Vila Franca pelo forcado Rui Godinho que esteve como habitual, perfeito em todos os momentos da pega, mandou vir o toiro quando quis e nos terrenos que são o seu sitio, o toiro ao sentir o forcado na cara derrotou com violência e fugiu ao grupo, o forcado estava cravado como uma lapa e com o grupo a recupera e a ajudar com garra para consumar de forma exemplar à primeira tentativa.
O segundo toiro da tarde foi da ganadaria Jorge de Carvalho, uma verdadeira estampa de apresentação e trapio, de capa preta e com 570kg ouviu palmas logo ao entrar em praça, foi um toiro muito nobre que se arrancava ao site, e que se deixava colocar onde o cavaleiro João Maria Branco assim entendesse, a cravagem dos ferros compridos foi aliviada e ainda que nos curtos as sortes fossem mais cingidas não chegaram ao nível desejado, ouviu musica ao terceiro curto e o quarto foi o melhor ferro da actuação do cavaleiro de Estremoz. Para pegar pelo grupo Alcochete saltou à praça o forcado Joaquim Quintela, que se mostrou e fez o que melhor e tão bem sabe, mas no momento da reunião o toiro fazia um estranho e vinha a menos derrotando antes de chegar ao forcado, depois de duas tentativas falhadas o forcado recolheu à enfermaria e foi dobrado pelo forcado João Machacaz que percebeu o toiro e adiantou-se no momento da reunião para concretizar à terceira tentativa.
O terceiro toiro da tarde foi de Branco Núncio, na linha de Urquijo, que desta ascendência só tinha mesmo a capa e calhou em sorte ao cavaleiro Salgueiro da Costa, era um toiro de 575kg, imponente, sério e muito bravo que se impunha e não dava espaço para erros, arrancava-se de largo para colher e colheu muitas vezes o cavaleiro, nos compridos o cavaleiro sofreu toques, nos curtos a tendência foi a mesma e só o segundo foi um bom ferro, os restantes ou foram passagens em falso ou fortes colhidas, o cavaleiro teve uma atitude nobre ao recusar musica à sua lide. Para pegar este imponente toiro foi escolhido o Forcado Vasco Pereira, houve tensão em praça e sentia-se a responsabilidade do momento, o forcado fez tudo bem, um forcado jovem mas que já provou noutras ocasiões que é um forcado corajoso, duro e de confiança, o toiro fez o que fez em toda a lide, arrancou-se solto e bruto, mas o forcado aguentou tudo e teve por trás um grupo ao mesmo nível que fez a pega da tarde, merecida volta para o forcado e 1º ajuda que também esteve enorme.
Ao intervalo comemoram-se os 40 anos da última corrida de toiros de morte em Vila Franca de Xira, e que teve no Maestro José Júlio a presença viva dessa distante tarde de toiros, foi ainda inaugurada na Palha Blanco uma placa alusiva a esta efeméride.
O quarto toiro da tarde foi o segundo do lote de Francisco Palha, uma estampa de António Silva, preto com 530kg de peso e muito em tipo da linha de Pinto Barreiros, a sua entrada em praça proporcionou o momento da tarde no capítulo equestre, o cavaleiro fez uma corajosa e emocionante sorte gaiola, de lamentar que depois da impetuosa saída o toiro ficou tocado na mão direita e este facto condicionou a lide, o cavaleiro andou correto nos compridos e na primeira fase de curtos, os restantes já não tiveram a mesma qualidade com sucessivos toques na montada. Para a pega e pelos Amadores de Alcochete foi escolhido o forcado Manuel Pinto que na primeira tentativa o toiro veio com muita pata e no momento da reunião desfeitou o forcado pela violência da reunião, à segunda tentativa o forcado já mandou na investida do toiro e consumou uma boa pega.
O Quinto tarde, da ganadaria J. L. V. S. Andrade foi o toiro mais leve da corrida acusou 500kg na balança da Palha Blanco era um toiro bonito, preto bragado corrido com muita mobilidade e sentido no Cavaleiro J. M Branco, mais uma vez não aproveitou as qualidades do oponente, os compridos foram novamente aliviados e nos curtos nunca acertou os tempos com o toiro que sempre lhe ganhou os terrenos resultando em toques consecutivos, no ultimo tentou fazer o impossível e não foi feliz. Para pegar este toiro e depois de alguma ausência das praças esteve o forcado Márcio Francisco, uma referência do grupo de Vila Franca e como quem sabe nunca esquece o Márcio fez o que tantas vezes lhe vimos fazer, tudo bem feito e nos tempos certos para consumar uma rija pega, ajudado mais uma vez na perfeição, volta só para o forcado que a pedido do público chamou à arena o 1º ajuda e o Rabejador Carlos Silva.
Para a última lide da tarde foi à praça o toiro de São Torcato com 520kg, também ele muito bonito e muito em tipo do encaste Gamero Civico para o cavaleiro Salgueiro da Costa que andou mais acertado nesta sua segunda lide, nos compridos mostrou acerto e nos curtos esteve quase ao seu nível. Para pegar este toiro fecharam praça os amadores de Alcochete com o Forcado Pedro Viegas, que esteve enorme perante um toiro muito sério e que chegou à pega ainda com muita força, o forcado esteve seguro e com galhardia mandou na investida do toiro que derrotou forte e com imponência, o forcado agarrou-se como pode e para ficar, aguentou tudo e com o grupo a ajudar de forma irrepreensível.
No que toca à atribuição dos prémios em disputa, o prémio bravura foi para o toiro da ganadaria de Antonio Silva e o prémio de apresentação para o toiro de Passanha Sobral, sem contestação por parte de público. Em nossa opinião daríamos o prémio de apresentação ao toiro de Antonio Silva e bravura ao toiro de Branco Núncio. Esta opinião antagónica deve-se ao facto do toiro de António Silva que de facto era bravo, mas a lide foi condicionada em alguns momentos pela debilidade na mão direita, o prémio João Vila Verde foi atribuído ao grupo de Vila Franca que efetuou três pegas perfeitas à primeira tentativa.