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Vila Franca de Xira, corrida de exaltação ao forcado amador

Reportagem da corrida noturna da feira de outubro de Vila Franca de Xira, terça feira 06 de outubro de 2015
08 de Outubro de 2015 - 12:08h Crónica por: - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 2606
Vila Franca de Xira, corrida de exaltação ao forcado amador

Tradicionalmente, a feira de Outubro de Vila Franca de Xira, é o epílogo da época taurina, independentemente da qualidade dos espetáculos, a aposta em cartéis de destaque tem sido apanágio das empresas desta praça, que inexoravelmente apostam nesta corrida, este ano não foi exceção, com as bancadas quase completas, o espetáculo, que não foi brilhante, pelas dificuldades que os toiros impuseram aos intervenientes, mas, no que respeita à emoção, correspondeu e superou as expetativas.

A grande atração da noite, foi, sem dúvida, o imponente curro que iria sair em praça, três toiros de Miura, e três toiros de Palha, duas ganadarias da mesma procedência, e que a sua fundação remonta ao século XIX. Enquanto os primeiros mantêm o puro encaste Cabrero, no seu reduto em Zahariche, os segundos, também procedentes do mesmo encaste, vêem ao longo da sua existência, a introdução de sangue novo, com sementais de Pinto Barreiros, Ortega, Belmonte, Oliveira e Irmãos e Torralta e mais recentemente Baltasar Iban.

Fonte: http://opiriquita.do.sapo.pt/ganadariasportuguesas/palha.html

Ver Miuras em praça é sempre aliciante, porque emocionam, não só pelo aspeto e comportamento, bem como pela sua trágica e violenta história, apesar de tudo, não me lembro de ter visto uma boa lide a cavalo de um exemplar desta ganadaria, e mostram-se perigosos no momento de pegar, são sem dúvida mais vocacionados para o toureio a pé, frequentemente prestam emocionantes sortes de varas.

Todo o curro foi muito em tipo da sua procedência, os de Miura, exemplares ancestrais no aspeto e comportamento, de brama constante, o primeiro foi um toiro muito sério, animal mitológico e destemperado, foi um toiro perigoso, o segundo era avacado e parco de carnes, e o terceiro era pequenote, o que tornou os dois últimos mais acessíveis. O Curro de Palha foi bem mais consensual, mais bonitos e rematados, autênticas estampas que tiveram um comportamento adequado à tão portuguesa arte marialva.

Em praça estiveram os cavaleiros Luís Rouxinol, Vitor Ribeiro e Salgueiro da Costa. Pegaram em solitário o Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira, na noite em que se despediram das arenas dois grandes forcados, Bruno Casquinha e Pedro Castelo. Estes cavaleiros e forcados têm habitualmente argumentos para qualquer toiro, mas nesta noite, foram os toiros que impuseram as regras, e foi preciso muita alma e coragem para os vergar

Luis Rouxinol abriu Praça frente ao sério Miura, de capa colorau com 600kg de peso, monstro de osso e músculo, não me lembro de uma corrida que tenha começado assim, tão emocionante! A entrada em praça foi como habitual, parado e absorto na bancada, para depois começar a crescer com a lide, logo no primeiro comprido a mangada alta quase colheu o cavaleiro no alto da montada. Luís Rouxinol foi campino, andou exímio na brega, para tentar colocá-lo, mas o toiro, estemporão e bravo, por vezes maldoso, arrancava-se de todo o lado para colher, quando percebeu que não podia chegar ao cavalo começou a encastar-se e o cavaleiro cravou a sesgo com uma lide esforçada.

Percebia-se a tensão na praça, e abraçar este toiro parecia uma tarefa hercúlea e impossível, e foi para a cara deste gladiador um outro gladiador, o forcado Ricardo Castelo, o frocado fez tudo bem, como habitual, mas o toiro veio com tudo e de cara alta desfeiteou o forcado com violentíssimos derrotes, não parecia ser possível parar aquela locomotiva, na segunda o forcado caiu no momento da reunião, à terceira foi impressionante a força do toiro, despejando todos os forcados, e só à quarta tentativa com o grupo a carregar foi finalmente vencido. Nenhum dos artistas deu volta à praça, o que considero errado, ambos o mereciam pela imponência e comportamento do toiro.

O segundo de Luís Rouxinol, foi um bonito exemplar de Palha com 510kg, harmonioso, entrou de cuada no ar em símbolo de bravura, e sem perder tempo foi cravado um bom ferro comprido, bem como o segundo. Nas bandarilhas, o acerto manteve-se, com alguns toques por ir a terrenos do toiro, ouviu música ao terceiro curto. Para pegar o bonito Palha saltou ao ruedo o forcado Buno Casquinha que nesta noite se despediu, o toiro fugiu ao grupo, nas terceiras ajudas o forcado João Maria Santos fez uma exemplar primeira ajuda, e consumaram assim a pega, volta para cavaleiro e forcado.

Vitor Ribeiro lidou o segundo de Miura, avacado e parco de carnes, que apesar dos anunciados 550kg foi vaiado pela exigente Palha Blanco, que reclamava a sua substituição. Nos compridos cravou à tira, e nos curtos andou correto, o toiro cumpriu, e Vitor Ribeiro fez o que lhe era pedido. Foi muito bem pegado pelo forcado Gonçalo Salitre, que apesar de empranchar depois da dura reunião, recompôs-se e com a boa ajuda do grupo consumou à primeira tentativa.

O seu segundo era uma estampa de toiro que infelizmente se lesionou, tendo o cavaleiro alternado para último do cartel, e assim toureou o sobrero de Oliveira e Irmãos, também de muito boa apresentação. Cravou três bons ferros compridos à tira, nas bandarilhas, o cavaleiro apesar de ter adotado um toureio de ataque, fê-lo em terrenos de verdade e saíu ao quarto curto, injustamente sem música, para pegar este toiro, último da corrida, foi escolhido o forcado Rui Godinho que fez uma pega limpa e muito bem ajudado pelo seu grupo, ao nobre Oliveira.

O terceiro cavaleiro em praça, Salgueiro da Costa, toureou o terceiro Miura, cardeno e pequenote apesar de em tipo. Começou com uma passagem em falso, mas arrimou-se e cravou dois bons compridos, a mandar vir de largo e com reuniões ajustadas, foram possivelmente os melhores ferros da noite e a praça reconheceu-lhe o valor.  Nos curtos já não conseguiu manter o mesmo nível, por responsabilidade do toiro que começou a impor a sua genética e a incomodar o cavaleiro. Foi para a cara deste toiro o Forcado Pedro Castelo, que também se despediu das arenas nesta noite, e que grande forcado foi o Pedro castelo! O toiro veio a menos na reunião e na segunda tentativa, acobardou-se, e o forcado consumou à segunda sem dificuldades de maior.

O segundo de Salgueiro da Costa foi um imponente Palha de 610kg, bonito e de boa índole, esteve bem nos compridos, nas bandarilhas houve alguns desacertos no momento de cravar, o quarto ferro a sesgo foi mesmo o melhor desta lide. Ricardo Patusco, forcado consagrado, teve a estoica tarefa de pegar este impressionante toiro e não teve noite fácil, na primeira tentativa foi literalmente colhido pela violência do Palha, na segunda foi mais do mesmo e à terceira com as ajudas carregadas consumou com o toiro a empurrar até tábuas, com uma força impressionante.

No início da corrida, foram, e bem, homenageados os forcados que se destacaram na época transata, nas mais diversas posições. Não podemos deixar de realçar a excelente prestação do forcado Carlos Silva, também ele homenageado, e que rabejou de forma exemplar todos os exigentes toiros desta corrida. Uma não menos importante homenagem que deveria ser feita nas nossas praças, e que nesta praça se faz, seria a identificação, alto e bom som, do nome do forcado que vai pegar, ou do toureiro que vai tourear.

Jorge Rebocho

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