Noite de Tiunfadores sem triunfos na Palha Blanco
08 de Outubro de 2014 - 22:39h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 2636 |
A tradicional Terça-feira nocturna de Outubro, de Vila Franca de Xira, estava envolta de expectativa e contou com uma meia praça que preencheu metade da lotação.
A corrida de encerramento da Feira do Toiro deste ano tinha, no papel, todos os ingredientes para que esta resultasse num êxito. Ora vejamos: duas prestigiadas ganadarias que impõem seriedade; uma terna de cavaleiros que se obriga a si mesma a rubricar lides com verdade, mexendo com os oponentes, que dominam o centro das sortes e colocam a ferragem de cima para baixo; um grupo de forcados de eleição e que poucas, ou nenhumas vezes, costuma falhar; o corte da coleta de um bandarilheiro respeitado; e uma praça que pune o acessório, não permite o auxílio dos capotes na brega e que exige transmissão e verdade.
Só que desta feita, com estes ingredientes, cozinhou-se um autêntico murro no estômago. Os toiros de Victorino Martin foram de uma péssima apresentação e nem no comportamento conseguiram ofuscar a ausência de trapio. Apenas o terceiro Victorino– um escorrido de carnes - se fez timidamente à montada mas cedo desistiu do confronto, sem forças para se empregar. Os dois Pinto Barreiros e o São Torcato (um sobrero que substituiu o último da corrida), também deveram em apresentação mas em comportamento subiram o paupérrimo patamar até então.
A terna de cavaleiros em praça carrega consigo uma temporada brilhante e qualquer um dos três concorre para trinfador da mesma, com demasiados prémios e triunfos nas corridas em que estiveram, com Duarte Pinto, é certo, destacado dos restantes. Se na brega estiveram ao nível que se lhes reconhece, na ferragem estiveram longe do que costumam oferecer. Exceptuando um ferro de António Telles e outro de Duarte Pinto, os cavaleiros insistiram em abrir os quarteios antestempo e os ferros passados foram uma constante.
A afición vilafranquense, que exibe com orgulho um estandarte de exigência, puniu, e de que maneira, os capotes na arena e obrigou as quadrilhas a não se atreverem a galgar a teia. Acompanhou, quer as lides, como as pegas, de um silencio absoluto, permitindo que apenas e só os intervenientes estivessem em diálogo com os oponentes. Pediu substituição das reses, principalmente na segunda, ao deparar-se com uma apresentação pouco digna. Ao terceiro já condescendeu sabendo que seria o último dos de Victorino Martin e apontou assim as baterias para a segunda parte da corrida.
Mas após deparar-se com os três primeiros exemplares da corrrida, os reconhecidos critérios qualitativos que têm regido a afición da Palha Blanco pareceram resultarem deturpados. Com tão escassa que foi a qualidade das três primeiras reses, assim que se depararam com um incremento de casta e vislumbraram algo mais na genética, como que extasiados por finalmente haver uma rês em praça, premiaram com uma volta ao ruedo, um toiro sem carcaterísticas suficientes para tal feito. Foi no quarto da corrida que a Palha Blanco obrigou o “Inteligente”, que de forma condescendente acedeu aos fortíssimos aplausos, a conceder uma imerecida volta ao ruedo, de um exemplar que embora nobre e ávido em perseguir, nunca partiu para a montada e que foi toda a lide atacado pelo cavaleiro.
O quinto da corrida, esse sim foi um toiro bravo. Um toiro que partiu de todo o lado, transmitiu que se fartou e investiu a qualquer movimento. Foi este o melhor exemplar de toda a corrida. Nobre, com sentido, que humilhava e metia a cara com graciosidade. Este Pinto Barreiros empregou-se em todos os momentos e partiu determinado e sempre primeiro que a montada e para a montada, impondo-se com nobreza e respondendo a todos os toques. Até na pega, já depois desta estar aparentemente consumada, o Pinto Barreiros continuou a puxar da “caixa de velocidades”, empregando-se incessantemente contra o grupo (que coeso estava fechado em tábuas). O bravo não se deu nunca por vencido e após o grupo desfazer a formação, impediu inclusivé que fosse rabejado. Só que a Palha Blanco assim não o entendeu e o melhor exemplar da corrida, o toiro merecedor de volta, foi ignorado e tratado com uma inexistente vulgaridade.
O bandarilheiro Ernesto Manuel protagonizou um dos momentos da noite. Após a lide do quarto da corrida, cortou a coleta no centro do ruedo e viu a Palha Blanco levantar-se dos assentos e tributar-lhe aplausos de gratidão.
Nas lides, a primeira parte da corrida esteve por conta dos Victorinos e conta-se de forma resumida: o primeiro foi um manso de arreões, que viu demasiados capotes na arena; o segundo não tinha trapio nem investida e também teve capotes desnecessários em praça; o terceiro era um escorridíssimo de carnes, com fundo mas força alguma, que sempre se adiantou e que também teve demasiada companhia de capotes. António Telles, Vítor Ribeiro e Duarte Pinto tiveram na brega os seus melhores momentos, que não foram correspondidos na ferragem, com as cravagens a resultarem a cilhas passadas. Mediante esta uniformidade exibicional, nenhum merecia volta mas apenas António Telles foi penalizado, quando foi dos três cavaleiros, aquele que melhor soube mexer com o oponente e que enfrentou o toiro com os maiores e mais acentuados defeitos, o hastado de pior comportamento da corrida.
Na segunda parte, António Telles enfrentou um oponente de 455 Kg de peso e com o nº 332. O exemplar Pinto Barreiros, de pelagem castanha teve nobreza, fijeza e sentido. Perseguiu com pata a montada mas nunca partiu para o confronto, acabando por ter de ser atacado pelo cavaleiro da Torrinha, que além disso viu também faltar toiro no momento do ferro. A lide foi do agrado da Palha Blanco mas somente o terceiro curto foi cravado com a assinatura de Telles, de frente e debaixo do braço. Com quarteios abertos antestempo a restante ferragem não resultou de igual modo.
Vítor Ribeiro também enfrentou um castanho proveniente de Pinto Barreiros, com 535Kg e o nº 4. Teve o melhor toiro da corrida, que não quis nunca sair dos médios, mas nunca se entendeu com o oponente. Bregou e preparou as sortes. Mas com o bravo a partir primeiro para o confronto, o cavaleiro natural de Almada sentiu dificuldades em ajustar as reuniões e a ferragem não resultou.
Duarte Pinto lidou um sobrero de São Torcato, pois o exemplar Pinto Barreiros que lhe estava destinado surgiu no ruedo inutilizado. Com 470Kg de peso, o número 170 e de pelagem castanha foi um oponente sem muita força mas muito nobre e que nunca complicou. Toda a lide do cavaleiro de Paço de Arcos assentou numa brega em que andou sem excesso de velocidade e deixou sempre o hastado nos médios. Partiu a passo dos tércios, pediu o arranque mas teve de ser Duarte Pinto a partir para o oponente. Se no segundo curto, partiu de frente, cravou ao estribo e com exactidão, o resto da ferragem não teve nada de semelhante. Efectuou batidas ao pitón contrário, com quarteios demasiado abertos e precipitados, perdendo o centro da sorte.
Pelos Amadores de Vila Franca, Bruno Casquinha foi para a cara do primeiro da noite e consumou à terceira tentativa. Pedro Castelo reuniu sem complicações à cornea, ao primeiro intento. António Faria, também sem complicações, fechou-se na córnea à primeira tentativa. João Bento "Petróleo" despediu-se das arenas consumando uma rija reunião à córnea, ao segundo intento e recebeu da Palha Blanco uma ovação de gratidão, em pé durante a volta ao ruedo. O cabo Ricardo Castelo realizou a melhor pega da noite, ao melhor toiro da noite, reunindo de forma rija e na córnea à primeira tentativa. O grupo coeso foi todo empurrado para as tábuas e já a consumarem a pega continuaram a sentir a dureza do Pinto Barreiros que insistiu em empurrar, empregando-se e não se rendendo. Fechou a noite Rui Godinho ao segundo intento, numa reunião na córnea, com a cara lá no alto.