Os Castros e uma Senhora Corrida na Daniel do Nascimento
26 de Maio de 2014 - 23:48h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 2894 |
Tarde de sol e de temperatura amena na Moita, para a 1ª Grande Corrida da Imprensa Taurina Portuguesa.
Com a Daniel do Nascimento preenchida com mais de metade da sua lotação, as bancadas assistiram a um curro áspero e a pedir contas, que nunca facilitou um palmo, quer aos cavaleiros, como aos forcados, da ganadaria de Ernesto de Castro. O comportamento do curro provocou que o mesmo estivesse, nalguns casos, por cima dos intervenientes, mas houve uma terna de cavaleiros que sobressaiu na tarde da Moita; Rui Salvador, Marcos Bastinhas e Duarte Pinto.
E se hoje é comum dizer-se que o público vai à praça só para ver piruetas, então e se não as houve na Moita, por que razão saiu satisfeito da corrida a que assistiu? Simples, porque a emoção morou na Daniel do Nascimento e obrigou os intervenientes a darem o melhor de si.
Abriu a tarde Joaquim Bastinhas diante um oponente de 490Kg, que estacionou desde a saída no centro da arena, andarilho nos médios e que nunca passou do chôto. O cavaleiro de Elvas sentiu dificuldades na brega, a lide resultou sem chama e nem o habitual par de bandarilhas salvou a tarde de Bastinhas.
Rui Salvador enfrentou um negro, que acudia aos cites, empregava-se a reunir, mas mal sentia o castigo, o hastado acusava o ferro, tapava-se e furtava-se aos remates das sortes. O cavaleiro de Tomar ligou-se desde o início com o áspero Castro, entendendo-o de imediato e rubricando uma bela actuação na Daniel do Nascimento. Bregou sem o auxílio de capotes e colocou a ferragem sempre com enorme acerto. Os segundo e quarto ferros curtos de Rui Salvador foram colocados nos médios e de cima para baixo. Com o oponente colocado na porta dos sustos, Rui Salvador citou nos médios, esperou o arranque do Castro e só não colocou um ferro impossível, pois o oponente empurrou-o ao reunir. A Daniel do Nascimento presenciou uma tarde quase perfeita do cavaleiro de Tomar.
Sónia Matias recebeu um negro que arrancava de todo o lado, com pata e a gosto, com 460Kg de peso. Se nos compridos, Sónia tirou proveito disso mesmo e a lide prometia, nos curtos entendeu resumir a lide a sortes cingidas e o resultado inverteu-se por completo. Com a cavaleira a partir sempre primeiro que o oponente, o mesmo não arrancava a tão curtas distâncias e a lide resultou sofrível, com a intervenção em demasia, de desnecessários capotes.
Marcos Bastinhas foi o cavaleiro mais aplaudido na Daniel do Nascimento. O oponente tinha 515Kg de peso, negro bragado, foi bravo e tinha pata. Marcos Bastinhas deixou os dois compridos e o primeiro curto dando vantagens ao oponente e colocando-os nos médios. Nos ferros seguintes optou pelos quiebros, e embora a maioria da ferragem tenha sido colocada a cilhas passadas, isso pouco importou às bancadas, que aplaudiram ruidosamente cada sorte. Marco Bastinhas chega ao público com facilidade, tem carisma e soube tirar partido disso na Moita.
Para Duarte Pinto os Castros assentam-lhe na perfeição. Recebeu um oponente de 520Kg de peso, castanho e talvez o de melhor apresentação da tarde. Duarte Pinto bregou com qualidade, deixando sempre o hastado nos médios. Citou a passo nos tércios e deu sempre a primazia de arranque ao Castro, que apenas acedeu a esse facto por uma única vez. O certo é que toda a ferragem foi colocada de cima para baixo, numa lide despreocupada com o tempo, que foi necessário ser gasto para que o resultado das sortes fosse imaculado, tal como os remates das mesmas. No quarto curto citou de praça a praça, o oponente resolveu arrancar primeiro e o cavaleiro de Paço de Arcos voltou a colocar ao estribo, nos médios. Uma actuação sóbria e de muita qualidade de Duarte Pinto na Moita, diante um toiro com complicações, sem nunca ter atacado o oponente por uma vez que fosse.
Fechou a tarde Tomás Pinto diante do sobrero 490Kg, visto que o oponente que lhe estaria reservado partiu uma das hastes. O Castro, negro de pelagem tardou para surgir no ruedo e foi adiando a sorte gaiola que lhe estava reservada. Quando saiu da porta dos sustos acudiu à montada que a esperava nos médios e Tomás Pinto colocou um dos ferros da tarde, na Daniel do Nascimento. O resto da lide foi bem menos exuberante, com dificuldades na brega, 1 ferro falhado e com o cavaleiro a partir para o hastado, com este ainda voltado para as bancadas.
Na forcadagem houve uma tarde rija para os dois grupos presentes no ruedo.
Pelos Amadores do Ribatejo abriu a tarde João Guerreiro com uma pega ao primeiro intento. O toiro virou-se das tábuas, ainda João preparava o cite. Arrancou de imediato e João Guerreiro reuniu à barbela, com o Castro a atravessar todo o grupo. Assim que chegou a tábuas inverteu o caminho e sacudiu que se fartou, até o grupo aparecer para consumar. O cabo João Machacaz reuniu à primeira tentativa na córnea, após mandar no toiro, carregar a sorte e ter o grupo para consumar sem problemas de maior. Fechou a tarde dos Amadores do Ribatejo o forcado Mário Gonçalves ao segundo intento, na córnea.
Pelos Amadores do Aposento da Moita, Leonardo Matias pegou ao terceiro intento, com as ajudas carregadas. Francisco Baltazar deu vantagens ao oponente e fechou-se na barbela à segunda tentativa, numa viagem dura e nobre até ao grupo fechar com coesão. Terminou a corrida José Maria Bettencourt, com o cite mais bonito da tarde. Citou sem grandes alaridos, mandou no toiro, efectuou a chamada, recuou o necessário, encheu a cara do oponente e ao primeiro intento na barbela suportou a dureza do Castro, com o grupo a ter algumas dificuldades em consumar.