Nas Caldas houve pouco toureio na apoteose de Léa Vicens
20 de Julho de 2014 - 15:00h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 3400 |
As condições metereológicas de ontem ameaçaram o cancelamento da corrida para ajudar os Bombeiros das Caldas da Rainha. E mesmo que tenha durante a corrida chovido por cerca de 10 minutos, a corrida aconteceu e contou com uma lotação próxima da meia casa, que proporcionou aos bombeiros uma contribuição de 1514€, 1€ por cada bilhete vendido.
A corrida das Caldas da Rainha tinha como principal atractivo, o debute em arenas nacionais da rejoneadora francesa Léa Vicens. O debute realizou-se, com a jovem rejoneadora a ter uma noite apoteótica, apesar de na sua segunda lide, lhe serem dirigidas das bancadas algumas frases como “… eu gostava era de ver toureio!”
O curro esteve por cima dos intervenientes. Se em apresentação não foram nenhum primor, os 3 Pinto Barreiros e outros tantos São Torcato tiveram um comportamento áspero, com pata, nobreza, fijeza, mobilidade e com pesos consentâneos com o esqueleto, perseguiam para “comer”.
O piso do tauródromo das Caldas, embora não parecesse um “batatal” tinha areia a mais, com os exemplares a acusarem tal facto no decorrer das lides. E se dúvidas existissem, durante o intervalo, no habitual alisar uniforme do piso, o jipe que rebocava o painel que alisava a arena, ficou refém do peso da areia que se acomulou, não avançando um milimetro que fosse.
Ana Batista abriu a noite das Caldas diante um Pinto Barreiros, chorreado, cómodo de cara, com o número 354 e 480 Kg de peso. Foi um oponente distraído e tardo, que se empregou pouco a reunir, mas que se dispunha em praça com sentido, para se atravessar com maldade. A cavaleira de Salvaterra escutou música logo no primeiro curto, numa reunião bem ajustada, junto à porta dos sustos. A lide foi decorrendo em toada morna, até ao último ferro, que foi cravado nos médios e ao estribo.
O quarto da noite pertencia à ganadaria São Torcato. Negro mulato de pelagem, ligeiramente bisco do pitón direito, com o número 199 e 440 Kg de peso. Levou desde cedo uma tareia da quadrilha. Os capotes foram tantos e sempre a dobrarem o hastado, que no final do primeiro curto, já o São Torcato tinha a língua de fora. Até então o oponente pediu contas, exigiu que o bregassem, mudassem os terrenos e perseguia a gosto. Ana Batista esteve irregular na cravagem até ao quarto curto. A partir desse momento, passou a reunir nos médios, de cima para baixo, com sortes centradas, numa lide em crescendo, mas com o oponente em défice.
Léa Vicens será por certo uma Figura. Mediante o panorama actual da exigência do público, a rejoneadora francesa possui todos os tiques e o manancial de manobras equestres, para que o as bancadas se agarrem a ela, mesmo que de toureio pouco se veja. E para que não se fique por meias palavras, a rejoneadora não tem preocupação alguma com o toureio à portuguesa. Tudo é feito com os hábitos do rejoneio, que embora nefastos para o toureio, grangeiam a aprovação das bancadas e o aplauso imediato. Até nas cortesias pareceu perdida, sem saber bem como as executar.
Ferros ao estribo não são preocupação sua, pois não colocou nenhum. O único estribo com que se preocupou foi o da teia, onde as montadas punham as mãos, para se mostrarem às bancadas. A quadrilha que trate de sacar qualquer fundo dos hastados, dobrando-os incessantemente com a cara lá em baixo. O segundo do seu lote levou tantos capotazos, que perde-se a conta depois de extravasarem a centena. Neste exemplar, o peão de brega chegou a perseguir o toiro durante um largo período de tempo, enquanto este só tinha olhos para a montada.
Assim, prefere não ser atacada pelo toiro. A primazia de arranque é factor que deve ser anulado o quanto antes. Executa quiebros a milhas dos hastados e com estes ainda parados. Mas como está superiormente bem montada, resolve a falta de oponente com displantes perante a inércia. E como são estas as Figuras da Festa actual, Léa Vicens está então destinada a sê-lo, com o seu debute a confirmá-lo, pela forma apoteótica como abandonou as Caldas da Rainha.
O segundo da noite tinha 450Kg de peso e tinha a proveniência Pinto Barreiros. Com os médios como terrenos eleitos, adiantava-se a perseguir, sempre fixo na montada e atravessava-se a reunir. Com capotes e mais capotes, a lide foi confusa, com a rejoneadora a partir de frente, mas com o centro da sorte em nenhures. A elegância das montadas tudo resolveu e as bancadas aplaudiram fervorosamente.
No quinto recebeu um São Torcato de 460Kg de peso. Foi tal o castigo da quadrilha, que o exemplar que apareceu bravo, cedo se tornou dócil a perseguir e sem forças de proporcionar qualquer investida, embora possuísse vontade e coração para o confronto. A lide é quase mais do mesmo. Capotazos para lá da conta, quiebros com o oponente estático, em terrenos de ninguém e efectuou as cravagens perante a ausência forçada de oponente.
João Salgueiro da Costa foi o azarado da noite. O terceiro da corrida tinha pelagem castanha, natural do pasto dos de São Torcato, que após o primeiro comprido se inutilizou, acabando por ser recolhido sem sequer ser pegado.
O último também tinha pelagem castanha, mas proveniente de Pinto Barreiros. Apareceu com bom modos, com aversão aos tércios e que pediu praça de imediato. Salgueiro da Costa assim o fez nos compridos, aproveitando a condição do oponente, para uma lide que prometia. Mas ao fim do primeiro curto, e após levar o toiro na garupa numa volta inteira ao ruedo, este dobrou as mãos por duas vezes e ameaçou voltar a fazê-lo outras tantas. Passou a faltar toiro no momento do ferro e assim, também a lide ficou a dever ao triunfo. Salva-se o penúltimo ferro da noite, junto a tábuas, onde aguentou a sorte e cravou de cima para baixo.
Na forcadagem, pelos Amadores de Vila Franca de Xira, abriu a noite Francisco Faria, que se fechou na córnea ao primeiro intento, após citar com garbo e mandar no arranque. Nuno Vassalo fechou-se à terceira tentativa, com as ajudas carregadas.
Pelos Amadores das Caldas da Rainha, António Galeano fechou-se na barbela ao primeiro intento, numa viagem sem complicações. José Maria Abreu não teve grupo na primeira tentativa. Na segunda contou apenas com o primeiro ajuda e consumou ao terceiro intento com as ajudas carregadas. Fechou a noite Vasco Félix da Costa, que reuniu de forma rija na barbela, com a cara bem lá em cima e com o grupo a consumar na primeira tentativa.
Nota:
Após a publicação desta crónica, a mesma foi considerada ter sido concebida com um carácter difamatório, insultuoso e irónico. Pelo que o autor, após reler o texto, reafirma que o mesmo carece de tais considerações. E lamenta publicamente qualquer constragimento e ofensa, visto que jamais foi essa a sua intenção.