Noite de Festa em Lisboa
18 de Julho de 2014 - 22:16h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 2647 |
Casa muito bem composta na nocturna de ontem no Campo Pequeno. A praça esteve preenchida bem acima da metade da lotação e assistiu a uma noite que contava com a alternativa de Miguel Moura, como principal atractivo.
A noite não foi brilhante, longe disso. Já se contava com o facto de que perante as reses em cartel, pouco restava mais do que estar, no mínimo, correcto e ser o mais exuberante possível. Só que houve pouca exuberância em quase tudo. A corrida resultou em um dia de festa e as bancadas saíram mais do que satisfeitas. E se no futuro, com o distânciamento que somente o tempo garante, perguntarem a algum dos que estavam na assistência, se pode descrever o que se passou. Dirão que Miguel Moura recebeu a alternativa nesta data e pouco, mesmo nada mais fica em registo. Em resumo, nada que deixe lembrança e que sirva de conto.
O curro Passanha, de apresentação q.b. foi mais do mesmo e resume-se de forma simples: com mais quilo, menos quilo. Mais cara, menos cara. Um após outro, surgiram no ruedo "codiciosos". Nos compridos prometiam dificuldades, mas nos curtos perseguiram sem incomodar, num tranco suave e dócil, até estacionarem e permitirem uma total comodidade para quem se "atreveu" a enfrentá-los.
Contudo, o exemplar de Marcos Bastinhas tinha na alma a prontidão de um bravo, que partia primeiro e emprestava uma maior emoção. E enquanto o fundo do poço não secou, houve no Campo Pequeno um toiro, que embora não pedisse contas, transmitiu e permitiu triunfo sem garantir tanta facilidade.
Cumpridas todas as formalidades que a ocasião requer, Miguel Moura recebeu a alternativa e abriu a noite do tauródromo da capital. Andou alegre e de frente se fez ao Passanha. Citou a dar vantagens. Tentou aproveitar o Passanha para o levar na garupa e efectuar alguns tímidos ladeios, mas o Passanha não tinha disposição para tais mordomias. Assim, nem sempre as sortes resultaram perfeitas. Na ferragem curta deixou alguns ferros a cilhas passadas e com reuniões aliviadas. Talvez ciente disso, ou por ser o seu dia de alternativa, usou e abusou dos ferros extra. Facto que se entende com naturalidade. Afinal, só se tira a alternativa por uma, ou duas vezes na vida e há que, por isso mesmo, aproveitar tal efeméride. A lide resume-se em preparar o oponente para as sortes e colocar a ferragem com um relativo desembaraço. No final cumpriu a volta que consagrou o mais recente cavaleiro de alternativa nacional.
João Moura foi o cavaleiro que se seguiu e recebeu inúmero aplausos assim que pisou a arena do Campo Pequeno. Andou a gosto e efectuou uma lide correcta, que foi do agrado da maioria da assistência. Com os capotes a retirarem a casta ao Passanha, e com a maioria das sortes tiradas a papel químico, foi colocando a ferragem por entre desplantes, intromissões pelo corredor, ladeios estemporâneos e quiebros ligeiros. Terminou com uma rosa a pedido do público e teve a sensatez de rejeitar novo pedido, pois já não havia toiro para tal. Durante a volta, uma grande fatia das bancadas levantaram-se para aplaudir o cavaleiro de Monforte.
Joaquim Bastinhas foi o cavaleiro mais aplaudido da noite. Surgiu no ruedo com determinação e aqueceu a montada a galope, contagiando de imediato a assistência, deixando-a de imediato expectante para a sua actuação. Alegre, como é seu timbre, esteve sempre conectado com o hastado e com as bancadas. Deixou a ferragem sem dificuldades e foi, em crescendo, sugando do público cada aplauso e aproveitou cada bater de palmas para majorar a determinação com que se dispunha em praça. Terminou com o habitual par de bandarilhas, muito a pedido do público. Foi a sorte que melhor resultado obteve, colocada no corredor, sem saída, e com o Campo Pequeno a exclamar aflição por haver colhida à vista, que nunca se verificou. No final choveram aplausos e ovações, com Joaquim Bastinhas a tirar máximo proveito dos mesmos, com a exuberância que se lhe reconhece.
Marcos Bastinhas teve o melhor exemplar da noite. Partia para o confronto, com nobreza e empregando-se no momento do ferro. Nos compridos, o cavaleiro de Elvas aproveitou a qualidade do oponente e colocou os melhores ferros da corrida até então. Aguentou a sorte e nos médios colocou de cima para baixo, com emoção. Nos curtos encurtou distâncias e baseou a lide em sortes efectuadas com batidas ao pitón contrário. Só que a qualidade do hastado cedo se esfumou e com ela também a qualidade da lide. As batidas foram efectuadas a milhas do hastado, com os aplausos a perderem intensidade. Terminou a lide com um par de bandarilhas.
Seguiram-se as lides a duo, que apesar dos esforços dos intervenientes para que houvesse sincronia, os toiros pareceram sempre perdidos em quem deveriam investir, com alguma confusão a ditar as actuações. Na do clã Moura, ficam em retina os segundo e quarto curtos de João Moura, nos médios, em terrenos de compromisso. Na do clã Bastinhas, os violinos e os pares de bandarilhas.
Na forcadagem abriu a noite Ricardo Almeida pelos Amadores de Portalegre, com uma pega rija na barbela ao primeiro intento. Após sentir o forcado, o Passanha tentou despejá-lo na arena, acabando por fazer o pino, com o grupo a consumar. Nélson Batista fechou-se na córnea à primeira tentativa, sentando-se na cara do toiro.
Pelos Amadores de Monforte, Nuno Toureiro citou em silêncio e mandou no oponente em todos os momentos. Efectuou a chamada e consumou na barbela ao primeiro intento. Vítor Carreira também consumou à primeira tentativa, na córnea.
Joaquim Forte pelos Académicos de Elvas fechou-se na córnea ao segundo intento. Fechou a noite Paulo Barradas, também na córnea, à segunda tentativa.