Salvaterra de Telles Bastos e Rui Godinho
07 de Abril de 2014 - 22:48h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 3108 |
Tarde solarenga, com 25 graus nos termómetros em Salvaterra de Magos, e propícia para uma ida aos toiros, para abrir a temporada do tauródromo local, com a X Corrida do Tomate. Corrida que tinha sido adiada uma semana antes, vítima do dilúvio que assolou o país durante uma semana.
Ficou então adiada a estreia da ganadaria Alves Inácio para ontem, e pela amostra do que saiu à praça, o adiamento não fez nada bem às reses da mais recente ganadaria lusa lidada em praça. Os exemplares Alves Inácio foram demasiado dóceis, perseguiram sem incomodar, tardos e sem se empregarem, lá se deixaram lidar e fizeram do seu debute, e da X Corrida do Tomate, uma corrida sem emoção alguma. O ganadero efectuou volta à praça no quinto da tarde, volta que apesar de todo imerecida, tem como atenuante ter acontecido por ocasião da sua estreia nas lides.
Havia prémios para a melhor lide e melhor pega e o júri não teve grandes dificuldades para entregar as distinções, tal foi o avanço que Manuel Telles Bastos e Rui Godinho (dos Amadores de Vila Franca de Xira), deram à concorrência. Dificuldades teria o júri em decidir, caso fosse concurso de ganadarias, em escolher o melhor toiro. E visto que as distinções foram entregues com inteira justiça, nem a meia praça de público presente no tauródromo esboçou qualquer protesto, nem teria como, perante tão justa deliberação.
Abriu praça João Salgueiro diante do primeiro Alves Inácio lidado nos ruedos. Tinha 540Kg de peso, alto de agulhas, negro, bonito de córnea, mas que no comportamento nunca se empregou por um instante sequer, procurando a saída sempre que podia. Salgueiro ainda conseguiu imprimir alguma emoção, quando deu praça no segundo curto e a querença natural, para cravar nos médios um ferro de belo efeito. Ainda tentou nos dois seguintes o mesmo desenho de sorte, mas faltou sempre toiro em todos os momentos, quer a partir, como a reunir e a rematar.
No quarto da corrida enfrentou um oponente de 545Kg. A montada de saída de Salgueiro dificultou e muito a ferragem comprida, negando sucessivamente as abordagens do cavaleiro de Valada. Nos curtos, Salgueiro ainda se esforçou para extrair do oponente qualquer coisa que desfizesse a falta de brilho da ferragem comprida. Mas houve sempre pouco toiro, com pouca matéria-prima para elaborar o que fosse e a lide acabou sem nada de significante para relatar.
Paulo Jorge Santos surgiu no ruedo para lidar o segundo da tarde. Outro negro, de 510Kg de peso, muito bem armado, mas a dever imenso à bravura. Até prometeu que se empregaria mais do que o primeiro da tarde, mas ficou-se apenas pela promessa. Paulo Jorge Santos sacou dos adornos e conquistou as bancadas desenhando sortes cingidas. O quarto curto foi o que melhor resultado obteve, de cima para baixo, dobrando-se no pitón.
O quinto tinha 525Kg e surgiu codicioso e voluntarioso em praça. Mas tal como os restantes irmãos do lote, cedo se apagou e lá se foi o voluntarismo e a codícia. Recebeu música ao segundo curto, após colocar o ferro demasiado traseiro. E com o pasodoble a soar, colocou um excelente terceiro curto, ao estribo, que merecia que a praça se pusesse de pé. Terminou a sua actuação com um violino no corredor.
O terceiro Alves Inácio foi lidado por Manuel Telles Bastos. Cornicurto, tardo e com imensas coisas de manso, tapou-se toda a lide e procurou sempre o refúgio das tábuas em cada oportunidade. Oportunidades todas negadas por Telles Bastos, que bregou com imensa qualidade, seleccionou os terrenos, cravou de forma imaculada, deixando transparecer tanta facilidade, que até tão parca matéria-prima conseguiu ser mascarada de um oponente com qualidade. Cometeu o pecado de estender a lide desnecessariamente e pagou a factura por isso. O oponente alcançou a montada e fixou-se no seu quarto traseiro. Como não tinha maldade alguma, nenhuma provocou.
No último da corrida lidou um oponente de 580Kg, talvez o de melhor apresentação de toda a corrida e veleto de córnea. Recebeu música ao terceiro comprido e justificou a mesma numa lide simples mas correcta, com todos os ferros ao estribo, após colocar sempre o toiro em sorte. O oponente cedo se quis reservar em tábuas, mas Telles Bastos esteve irrepreensível e nunca lhe concedeu mordomia alguma. Terminou de forma exímia a lide, após falhar o quarto curto, com uma sorte perfeita, desde a preparação à colocação, deixando claro que estava encontrado o triunfador da corrida.
Na forcadagem levaram a melhor os Amadores de Vila Franca de Xira, conquistando o troféu de melhor pega na última da corrida, com Rui Godinho como forcado da cara. Mas certo é que tiveram uma tarde de enorme acerto, demonstrando coesão e declarando para esta temporada, a permanência nos lugares cimeiros da forcadagem.
Abriu a tarde para os homens das jaquetas Ricardo M. Sousa, dos Amadores de Évora. Consumou à quinta tentativa, a sesgo e no corredor. Seguiu-lhe Dinis Caeiro que fez tudo bem mas não teve grupo no primeiro intento. E os terceiras ajudas abriram na terceira tentativa e obrigaram Dinis Caeiro a fechar-se à quarta, com as ajudas carregadas. João Madeira fez um cite em que mandou no toiro e trouxe-o toureado até reunir na córnea, ao primeiro intento. Suportou imensos derrotes. Aguentou a violência do oponente e colocou o grupo de Évora na disputa pelo prémio de melhor pega da tarde.
Por Vila Franca, António Faria fechou-se à primeira na córnea do Alves Inácio, após citar com galhardia e com o grupo a consumar sem dificuldades. David Moreira também consumou ao primeiro intento, reunindo por alto e embatendo de forma rija no hastado. Rui Godinho efectuou a pega da tarde, desde o cite à reunião, em que controlou todos os momentos, sentando-se na cara do toiro, e alapado na córnea, com o toiro a efectuar desvio na viagem, sempre a derrotar. Rui Godinho teve grupo e forças para aguentar as dificuldades e receber, com justiça, o troféu de melhor pega da tarde.