Palha Blanco rendida a Manuel Telles Bastos e Pedro Viegas dos Amadores de Alcochete
07 de Maio de 2013 - 18:45h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: - Visto: 3684 |
Vila Franca de Xira marcou encontro no dia da Mãe para a Palha Blanco, para um concurso de ganarias com um cartel atractivo e à medida das exigências do curro.
Com as bancadas do tauródromo Vilafranquense preenchidas por metade da sua lotação, quem se deslocou à Palha Blanco não saiu nada defraudado. Houve emoção quer nas lides como nas pegas, comportamentos díspares das reses e muitas dificuldades por elas impostas, exigindo todos os recursos dos intervenientes, cavaleiros e forcados.
Há dois triunfadores naturais desta corrida, o primeiro Manuel Telles Bastos pela consistência, regularidade nas duas lide (em especial a segunda), e Pedro Viegas dos Amadores de Alcochete, que mostrou ter dentro de si os atributos que só os grandes forcados possuem.
Luís Rouxinol recebeu um Palha de 560Kg, de apresentação q.b. que chegou para receber o troféu para melhor apresentação da tarde. De saída revelou-se algo distraído e que logo nos compridos mostrou ao que vinha. Adiantava-se uma barbaridade nas reuniões, partia com maldade para bater e deu trabalho de sobra ao cavaleiro de Pegões. Ao segundo comprido Rouxinol sofreu um empurrão violento e nos curtos viu-se e desejou-se para dar a volta ao oponente. Rouxinol tudo tentou, desde a brega até às reuniões, recorreu inclusive a um violino no terceiro curto, intenção logo negada pelo astado.
O quarto foi manso, um Oliveira Irmãos com 545Kg mas recebeu uma lide certinha. Nos dois primeiros curtos provocou a investida, aceite com arreões e cravou nos médios. Com o decorrer da lide foi encurtando distâncias para cravar com regra, até ao par de bandarilhas com que terminou uma boa actuação.
Seguiu-se Manuel Telles Bastos, o grande triunfador da tarde. Aquele que maior consistência apresentou.
No segundo da corrida, um exemplar Prudêncio de 580Kg, um manso que acusava em demasia os ferros, furtava-se aos remates e andarilho à procura da saída. A brega de Telles Bastos tapou os muitos defeitos do astado. E se ao segundo curto já tinha revelado que a tarde lhe pertencia, o 3ºe 4º curtos foram cravados de cima para baixo, com os terrenos bem invadidos.
No quinto levantou a praça diante de um Vale Sorraia de 535Kg, harmonioso nas formas, bem armado, disponível para o confronto apesar da escassez de força. Merecia, quanto a mim, este ser o detentor do prémio bravura, apesar de nem sempre assim o ter revelado, mas revelou mais do que os restantes, só que o júri assim não o elegeu.
A lide teve um Telles Bastos que fez o favor de só cravar após selecionar os terrenos, citar com regra, cravar com exactidão e rematar mesmo contra a vontade do oponente. Foi mais uma grande lide de Manuel Telles Bastos, com cinco curtos de autênticas tangentes ao estribo, com a estonteante córnea do oponente bem ali, pondo a praça de pé e sagrando-se o triunfador da tarde.
Duarte Pinto até começou bem a lide ao bisco Canas Vigouroux de 605Kg, um exemplar andarilho por demais e que pouco correu. Foi distinguido pelo prémio bravura, causando alguma surpresa nas bancadas.
No segundo curto, tinha até então o ferro da tarde na mão, após bregar com critério e citar de praça-a-praça. Só que falhou a colocação. O mesmo voltou a suceder noutras ocasiões e o cavaleiro de Paço de Arcos prometeu emendar na actuação seguinte.
No sobrero Palha, um toiro que veio a menos durante a lide, aproximou-se do nível que nos habituou, com uma brega ligada, a mexer com o astado e dois curtos de cima para baixo. Os restantes não tiveram o mesmo brilho e ficou a sensação de que podia ter feito mais.
Nas pegas a tarde foi dura, muito dura… mas houve dois grupos de forcados para as exigências.
Por Vila Franca, Ricardo Castelo fechou-se à primeira num embate violento e logo foi despejado até tábuas, onde bateu desamparado lá bem em baixo. Uma excelente pega, de enorme dificuldade, a abrir a tarde.
Ricardo Patusco fechou-se à córnea ao segundo intento e suportou uma viagem bem dura até ao grupo.
Pedro Castelo teve a viagem mais nobre do grupo e consumou ao primeiro intento.
Pelos Amadores de Alcochete, João Gonçalves fechou-se à córnea ao primeiro intento, beneficiando de uma excelente segunda ajuda que o colocou na cara durante uma enormidade com o braço esquerdo.
Fernando Quintela dobrou Tomás Vale e reuniu de forma rija e audível com o oponente, numa viagem a derrotar até ao grupo, que consumou com decisão.
Pedro Viegas proporcionou o momento da tarde. Tem um ar franzino que contrasta e muito com o coração, a alma e raça de um forcadão, que suportou uma viagem por demais solitária num Palha, que o quis despejar custasse qualquer que fosse o preço. Só que as inegáveis qualidades de Pedro Viegas, só ao alcance dos predestinados, superlativaram-se à força, e por mais que o Palha tentasse, e tentou muito, Pedro Viegas jamais saíria da cara, concretizando sozinho um pegão, numa viagem que fica na memória e que lhe ficou no corpo, bem debilitado quando teve de dar duas voltas à Palha Branco.