Um Grande Curro de Toiros em Lisboa
21 de Junho de 2013 - 14:07h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: - Visto: 3483 |
A nocturna de 20 de Junho em Lisboa fez justiça ao anunciado cartel de “Juventude e Competição”. E para que a justiça não fique por meias palavras, a noite do Campo Pequeno foi na realidade uma noite de Seriedade, Juventude e Competição.
Os curro António Silva foi o melhor da noite de Lisboa. Esteve a roçar a perfeição na apresentação, com toiros bem armados, ajustados nas formas, rematados e compostos de carnes. No comportamento, com excepção do último da corrida, foram transversalmente nobres, sérios, com presença, disponíveis para o confronto, empregaram-se no momento da reunião e raras vezes ofereceram comodidade.
Pena que o público não tenha respondido à chamada e tenha preenchido as bancadas em número próximo de metade da lotação da praça. A corrida teve seriedade e emoção, os intervenientes competiram e o curro correspondeu e merecia mais público.
Abriu praça o cavaleiro Marcelo Mendes que confirmou a sua alternativa diante de um exemplar de 560Kg, de nome Lustroso, que investiu nos capotes e perseguiu a montada com o rabo arqueado. Nos compridos a lide de Marcelo Mendes prometia confirmar a consistente temporada que está a efectuar. Mas nos curtos, o craque da quadra pareceu estar em noite pouco inspirada, e como se não bastasse, a montada escorregou e provocou a queda do cavaleiro, com o Lustroso a investir no cavalo.
O segundo da noite surgiu em praça e parecia um toiro saído de uma tela a óleo. O Hermano estava muito bem armado, tinha 570Kg de peso, sério e com trapio, nobre, que partiu sempre primeiro, arrancou a medir, empregou-se no ferro e que Sónia Matias aproveitou para triunfar. Sónia efectuou uma lide ligada, certa no tempo, correcta a cravar e sem exageros nos remates. Colocou o primeiro curto numa emotiva reunião junto a tábuas e destacou-se no terceiro quando reuniu em terrenos de compromisso e deixou o ferro de cima para baixo. Terminou uma boa actuação com um violino.
Brito Paes marcou pontos na nocturna de Lisboa. Efectuou uma lide baseada nos ladeios, nos desplantes e chegou a intrometer-se no corredor, perante um oponente andarilho, com 515Kg de peso, que humilhava e que nunca se rendeu. Entendeu-se desde os compridos com o astado, temperando as sortes e pautou uma actuação de enorme correcção no momento do ferro. Colocou o terceiro curto de forma perfeita e mesmo quando o oponente já aparentava menos força, António Brito Paes continuou irreverente e em destaque até ao final, na melhor actuação da noite.
Quando o quarto saiu da porta dos sustos encheu de imediato a praça. Um toiro muito sério, muito bem apresentado e com uma presença que impunha respeito, distribuída por 515Kg de peso. Duarte Pinto ligou-se de imediato com o oponente e deu-lhe uma lide pautada por enorme correção na brega, onde seleccionou criteriosamente os terrenos e tentou imprimir largura nos cites. Mas o oponente distraía-se com facilidade, revelou-se tardo a reunir e nem sempre as sortes terminaram de forma perfeita. O segundo e o quarto curtos foram os de melhor resultado, numa actuação marcada pelo rigor com que manteve o oponente ligado.
Tiago Carreiras entrou determinado em praça. Viu surgir o Calejero de 538Kg, que tinha som na investida e que humilhava em demasia. Cedo o cavaleiro ligou-se com as bancadas, numa lide alegre em que nunca deu hipóteses de arranque ao astado. Facto que ficou evidente no último curto em que de praça-a-praça galopou até ao oponente, efectuou a batida ainda com o toiro parado e cravou um ferro que recolheu os maiores aplausos da noite. Ao sair acedeu ao pedido de mais um e repetiu a sorte anteriormente descrita, após falhar a primeira tentativa. Com aparato e exuberância, saltou da montada a caminho do pátio de quadrilhas. Uma grande fatia do público gostou do que viu e Tiago Carreiras tornou-se assim o cavaleiro que recebeu a ovação mais ruidosa da noite.
David Oliveira regressava ao Campo Pequeno após triunfo na temporada anterior e brindou a lide no centro da arena ao céu, numa conversa com a sua mãe. Surgiu também ele determinado em praça mas saiu-lhe a fava no sorteio. O oponente de 565Kg de peso não era mau mas foi o pior da noite, andarilho de sobra e um exagero de tão tardo. David Oliveira foi o único cavaleiro a actuar de tricórnio posto. Monta com elegância e controla a montada com apenas uma mão. Não procura o aplauso fácil e molda-se às características do oponente. Efectuou uma lide intermitente, pois nem sempre as reuniões foram as mais ajustadas, fruto das dificuldades que o oponente imprimiu por tão tardo que foi. Ainda assim, uma actuação positiva do cavaleiro de Bucelas.
A noite da forcadagem foi dura. Os “Silvas” empregaram-se nas pegas e levaram a melhor os Amadores de Santarém que pegaram tudo à primeira. João Torres foi para a cara do primeiro da noite e fechou-se ao primeiro intento à córnea. António Grave de Jesus também ele se fechou à córnea e à primeira tentativa. João Brito mandou no cite e no arranque, e reuniu ao primeiro intento, numa noite perfeita para os Amadores de Santarém.
Pelos Amadores de Montemor, Frederico Caldeira teve uma reunião difícil, consumada à terceira tentativa e com as ajudas despejadas até ao grupo consumar. João Maria Caldeira alapou-se à córnea do oponente e teve um primeiro ajuda do outro mundo, que o manteve na cara até ao grupo fechar a pega ao primeiro intento. Fechou a noite José Maria Cortes com uma rija barbela à primeira tentativa, consumada na córnea, com o toiro a empurrar em crescendo até ao grupo.