Palha Blanco, Onde Mora a Emoção!
08 de Julho de 2013 - 23:59h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: - Visto: 2977 |
Um calor tórrido em Vila Franca pode, para muitos, não ser nada convidativo para uma corrida de toiros. Certo é que as Festas do Colete Encarnado acontecem mesmo que a temperatura não dê tréguas aos visitantes.
E assim, a Corrida do Colete Encarnado fez-se sob um calor abrasador e com público, que completou uma meia casa, bem arrumada nos sectores de sombra.
Ainda se aguardava pelas cortesias e o encalorado público ia-se aconchegando nas bancadas. Conhecidos cumprimentavam-se e não raras vezes ouvi “Vila Franca não é melhor, nem pior, é diferente!” E é de facto diferente. Quem se desloca à Palha Blanco raramente sai defraudado, pois tem no mínimo, ou no máximo, a garantia… dos toiros. Além disso, a generalidade da praça exige a aplicação dos intervenientes, que estes estejam sempre, e primeiro, ligados com os oponentes e assim a ligação com as bancadas resulta do mérito, o que obviamente tem um sabor de uma recompensa maior.
E assim, mais uma vez, a Palha Blanco assentou o comportamento de sempre. Pediu contas aos toureiros, tantas como o curro Murteira Grave. Os “Graves” não foram pêras doces para ninguém. Nada cómodos, com muita transmissão, foram uma permanente dor de cabeça para os intervenientes, apesar do comportamento heterogéneo. Assim, os 2º, o 3º e o 5º foram bravos. O 1º meteu sempre a cara lá em cima. O 4º não queria ser incomodado mas carregou sempre que viu a montada passar-lhe à frente e o 6º teve uma investida indefinida.
João Telles Jr foi o que teve pior sorte no sorteio. Abriu a praça diante de um negro listão de 550Kg de peso e ligeiramente bisco do piton esquerdo. Assim que sentia o cheiro da montada reunia com a cara lá em cima, como que fosse para comer as crinas. Não se pode dizer que Telles Jr tenha estado mal, não senhor. Mas as sortes só adquiriam um resultado para lá do satisfatório ao quarto curto, quando resultaram mais centradas. No segundo da ordem apanhou um oponente que não arrancava por vontade própria aos cites, mas assim que via a montada passa-lhe por diante, empregava-se, pedia contas e perseguia para “bater”. A lide teve maior destaque na brega, que tapou os defeitos do astado. Telles Jr aplicou-se, e de que maneira, na selecção dos terrenos. Raramente, quase nunca mesmo, a mão que segura o ferro foi às rédeas e os 2º e 3º curtos foram cravados com exactidão e de cima para baixo.
Salgueiro da Costa foi o bafejado da tarde pelo sorte do sorteio. No 2º da tarde, sentiu inexplicáveis dificuldades perante o bravo Grave que enfrentou. O oponente de 470Kg permitiu largura nos cites, partia com nobreza para a montada, mas Salgueiro da Costa ora passou em falso, ora falhou a ferragem, ora a colocou de forma aliviada. No 5º tinha forçosamente que melhorar de prestação e teve um bravíssimo Grave pela frente com 560Kg. E a lide prometia, e muito, logo ao 1º curto colocado com regra, ainda que meio a medir as distâncias, após citar de praça-a-praça. Então, nos dois ferros seguintes voltou a citar de praça-a-praça, pediu o arranque do oponente e cravou duas sortes ao estribo, nos médios, com uma emoção de suster a respiração e que levantou a Palha Blanco dos assentos. Adivinha-se um triunfo importante, mas nos dois ferros seguintes, Salgueiro da Costa foi empurrado com violência nas reuniões. Esteve a escassos instantes de se sagrar o triunfador da tarde mas aqueles dois últimos ferros, apesar de não mancharem por completo a sua actuação, retiraram-lhe essa possibilidade.
David Mora tem acima de tudo uma atitude admirável. É uma Figura que pouco se importa se os toiros não são picados em Portugal, respeita o público e preocupa-se em sacar faena ao que lhe cabe em sorte. O 3º exemplar da tarde transbordava bravura, tinha uma investida suave e humilhava com profundidade. Sardo, com 445Kg de peso, investiu com largura no capote, onde David Mora lanceou verónicas templadas e muito bem desenhadas, a aproveitar a nobreza e a profundidade da investida. Iniciou a faena de muleta com a mão esquerda, com três tandas de naturais templados e com muita profundidade, rematados por passes de peito e um trincherazo. Pela direita, a faena não perdeu a qualidade com que vinha da esquerda, mas ficou a faltar qualquer coisa que justificasse as duas voltas que no final deu à praça. O “Grave” merecia volta e foi-lhe concedida. Agora Mora poderia ter ficado somente por uma volta à praça, mas como ninguém protestou…
O último da corrida tinha 500Kg de peso, uma investida descomposta e sem profundidade. Protestava na muleta e obrigou o matador madrileno a uma faena de maior entrega e de menos arte, aqui e ali incomodada pelo vento.
Nas pegas Rui Godinho abriu a tarde dos Amadores de Vila Franca. Pegou ao terceiro intento. Pedro Castelo efectuou uma bonita pega à primeira tentativa. Fechou-se na córnea e o grupo não sentiu dificuldades para consumar. Ricardo Patusco fechou-se ao segundo intento e Márcio Francisco realizou um pegão à primeira tentativa. Citou com a praça em silêncio, mandou no arranque, embateu de forma rija e aguentou na córnea uma viagem dura, que empurrou todo o grupo.