João Telles destaca-se em Alcochete
12 de Agosto de 2013 - 22:07h | Crónica por: Jorge Rebocho - Fonte: - Visto: 2363 |
Realizou-se no passado domingo, dia 11/08/2013, às 18h00, o tradicional Concurso de Ganadarias de Alcochete, integrado no programa das festas do barrete verde e das salinas. A corrida foi dirigida pelo Exmº Sr. João Cantinho e assessorado pela Srª. Drª. Veterinária Francisca silva. Tarde de muito calor, mas que não impediu uma boa entrada de público, registando-se 2/3 de casa forte. O cartel anunciava os cavaleiros João Telles, Miguel Moura e Mateus Prieto, que substituiu o cavaleiro Francisco Palha. Pegaram em solitário o Grupo de Forcados Amadores de Alcochete.
Abriu praça o cavaleiro João Telles. Saiu-lhe em sorte o toiro Prudêncio, com o número 64 e com 590kg de peso, nobre e encastado. Esperou a saída do toiro para uma sorte gaiola, mas o toiro saiu distraído impossibilitando a sorte. Cravou dois bons ferros compridos, no sítio, à tira. Trocou de montada e cravou dois bons ferros curtos e obteve música. O toiro investia franco e não revelou crenças. O cavaleiro deu vantagens ao toiro e cravou mais 3 ferros curtos de praça à praça, com batidas ao pitón contrario. Os ferros foram sempre muito bem rematados. Cravou ainda um sexto ferro de palmo de muito boa nota.
O seu segundo toiro, e 4º da ordem foi o melhor toiro da tarde, era um toiro bravo, apesar da entrada algo reservada em praça e de acusar alguma sensibilidade na mão direita. O João Telles cravou dois bons ferros compridos, mas algo descaídos, trocou de montada e iniciou a lide da tarde com 3 ferros curtos muito bons, sempre bem na brega a deixar o toiro colocado. Teve musica ao 3º curto e ainda cravou mais 3 ferros curtos a afrontar o toiro nos seus terrenos. O 6º foi um grande ferro com o toiro já fechado em tábuas. Volta para cavaleiro e forcado nas duas lides
Mateus Prieto foi o segundo cavaleiro da tarde a entrar em ação, mas não teve sorte no seu lote. O 1º toiro que lidou foi o toiro Núncio, com o número 62 e 555kg de peso, saiu com pata, tinha pouca cara e rachou-se cedo, foi um toiro manso. O cavaleiro cravou dois ferros compridos sem transmissão e com uma passagem em falso. Nos curtos, foi mais do mesmo, e só houve alguma emoção quando o cavaleiro pisou os terrenos ao toiro. Ouviu música ao terceiro curto. O quinto foi um bom violino depois de mais uma passagem em falso.
O segundo toiro era o exemplar de Dias Coutinho com o nº10 e 605kg de peso. Se é habitual dizer que não há 5º mau, este quebrou a tradição, e foi francamente mau. Era manso e cheio de sentido, com inesperados arreões para colher, andou sempre desligado da montada e o cavaleiro deu-lhe a lide possível, fruto também de alguma inexperiência. Cravou 2 ferros compridos sem transmissão com o toiro desligado. Trocou de montada para os ferros curtos e cravou 3 ferros corretos com o toiro a crescer à medida que o castigo se acentuava. O 4º foi um bom violino, em terrenos de dentro, mas descaído. O 5º foi um bom ferro, também em sorte de violino. Inexplicavelmente o cavaleiro tentou cravar mais ferros, com o toiro sem estar em sorte, e à meia volta, num toiro com cada vez mais sentido e menos condições de lide. Perdeu a oportunidade de sair no momento certo. Voltou à praça com dois ferros na mão, cravou mais um violino pescado e o ferro de palmo que trazia não o conseguiu cravar.
Saiu ovacionado, por um público que não dá veleidades. Volta para cavaleiro e forcado só no seu primeiro toiro.
O 3º cavaleiro da tarde foi o jovem Miguel Moura. O primeiro do seu lote com o nº 31 e 550 kg de peso veio da ganadaria Lupi. O cavaleiro quis também fazer uma sorte gaiola mas o toiro saiu reservado e sem emoção. Cravou um bom ferro comprido, mas um segundo algo aliviado.
Trocou de montada e cravou 3 bons ferros curtos, no 2º a entrar pelo toiro a dentro e o 3º com cite de praça à praça, com batida ao piton contrario. Os ferros foram muito bem rematados, com mérito para o bom leque de montadas que o cavaleiro dispõe. Afrontam os toiros nos seus terrenos e depois saem a ladear na cara do toiro. Ouviu música ao terceiro ferro e ainda cravou mais quatro ferros. Que em nossa opinião foi exagerado, tornando a lide muito extensa, nove ferros numa lide é francamente exagerado.
O segundo do seu lote foi o toiro de Passanha. Um bonito e rematado toiro com o nº35 e 580kg de peso. O cavaleiro esperou o oponente sem peões de brega e cravou dois bons ferros compridos, o primeiro algo descaído. Trocou de montada e nos curtos continuou acertado com o cavalo a levar o toiro na garupa. Ouviu música ao segundo curto e ainda cravou mais 2 ferros curtos e dois de palmo, tronando a lide (tal como a anterior) extensa, e com o público (com razão) a não gostar destes “excessos”, com o toiro já esgotado. Volta para cavaleiro e forcado nas duas lides
Mas os grandes protagonistas da tarde, foram os Forcados Amadores de Alcochete. Se pegar seis toiros em solitário já é uma tarefa difícil, pegar seis toiros em solitário num concurso de ganadarias é ainda mais difícil, devido à diversidade de comportamentos, e porque são sempre toiros sérios. Abriu Praça o forcado Fernando Quintela que brindou ao director de corrida, fez uma grande pega à barbela, com uma excelente ajuda de todo o grupo, especial destaque para o 1º e 2º ajudas. O segundo forcado em praça foi o Rubem Duarte com uma pega limpa à barbela na investida forte do manso de Núncio, o forcado foi muito bem ajudado pelo grupo. O 3º toiro da tarde foi pegado pelo forcado João Gonçalves, o forcado fez tudo bem mas o toiro muito esgotado tirou a cara no momento da reunião. Na segunda tentativa o forcado foi buscá-lo a terrenos de compromisso e a pega concretizou-se com o toiro a vir pelo seu caminho sem complicar muito. O quarto da tarde, o bravo de Rio Frio, foi pegado pelo forcado Tomás Vale, com uma primeira tentativa violenta a abrir a porta da trincheira. Pegou à segunda tentativa numa pega rija à barbela.
Para pegar o Dias Coutinho (que já se adivinhava difícil) foi o cabo Vasco Pinto, fez quatro tentativas que foram, mais propriamente quatro grandes pegas, muito duras, com o toiro a “despejar” todo o grupo com enorme aparato, desenvolveu sentido, e nas últimas duas investidas já vinha para colher. Com muita certeza, e muita determinação, apanágio dos grandes cabos, decidiu o forcado ir para a cernelha. Assumo que duvidei desta decisão, porque o forcado já estava muito diminuído, mas foi buscar força não sabemos onde, e concretizou à segunda tentativa de cernelha, com enorme estoicismo e coragem, num toiro impegável cheio de maldade. Fechou a noite o consagrado Nuno Santana com uma pega correta à barbela com o grupo a ajudar irrepreensivelmente.
Em última análise, há que realçar que houve toiros para todos os gostos. O prémio de bravura foi atribuído ao toiro de Rio Frio, e o prémio de apresentação (como já é habitual) para o toiro de Passanha, que concordamos plenamente, bem como o público presente na praça. Não podemos deixar de realçar o facto do João Telles ter sido o único cavaleiro a utilizar bandarilhas de segurança para os forcados, e não percebemos porque é que os outros cavaleiros não o fizeram também. Outro aspeto negativo foi o facto de termos assistido a lides excessivamente extensas, que não beneficiam em nada a festa dos toiros. Tornam excessivamente extensos os espetáculos, tornam-se monótonas e podem ainda deitar por terra a atuação do próprio cavaleiro. Para além de que, na maior parte das vezes comprometem o desempenho dos forcados, com toiros esgotados, a defenderem-se em tábuas, que já não se arrancam francos para a pega.