Campo Pequeno - Ganhou-se um Triunfo, Perdeu-se o Toureio!
07 de Setembro de 2012 - 23:59h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: - Visto: 3002 |
A imprescindível e admirável bravura, o confronto entre o instinto e a capacidade de superação do homem perante o oponente, são características que julgar-se-iam inseparáveis de qualquer manifestação taurina em qualquer praça.
Puro engano!
Se é certo que estas são duas das razões, entre outras mais, que arrastam público e tutelam os triunfos dos intervenientes, ontem o Campo Pequeno que encheu a casa, confirmou que nos dias de hoje basta serem servidos de um prato de manobras equestres visualmente ricas e agradáveis, para atribuir triunfos apoteóticos aos intervenientes, com adornos como principal atractivo e sem preocupações com toureio.
E por falar em toiros, o curro de Guiomar Cortes Moura foi de apresentação nada apreciativa para a primeira praça do país, em bravura (se alguma vez a teve) deixou-a algures entre o pasto e a porta dos sustos. Houve dois exemplares que revelaram nobreza, mas no geral foram demasiado cómodos, perseguiram sem incomodar, rapidamente ficaram esgotados, estáticos e numa ou noutra raríssima ocasião, lá expuseram algo da genética que ainda não se encontrava extinto. João Salgueiro denominou-os de “nhoc-nhoc”, mas o público parece pouco importar-se com a inexistência de bravura, extasia-se com um número infindável de habilidades e de aparentes desplantes em tão inerte matéria-prima, características hoje endémicas e pouco rígidas em exigência.
Faça-se justiça a António Ribeiro Telles, pois se houve alguém que se dispôs a lidar uma rês, foi o cavaleiro da Torrinha. Dois compridos e três curtos marcam a primeira actuação, perante um oponente barbaramente tardo e de dúbia mobilidade, que apesar de não ter tido incorrecções, nunca chegou a romper, com dificuldades em colocar o oponente em sorte. Talvez esse factor, aliado ao rigor das voltas à arena ter de ser criteriosa na primeira praça do país, o cavaleiro da Torrinha recusou dar a volta. No quarto da noite enfrentou um oponente mais disponível, bregou, mexeu com o opoente, executou cites terra-a-terra e de frente, trazendo o toiro toureado, pisou-lhe os terrenos e cravou ao estribo. Cometeu o pecado de um ferro a mais e sofreu um toque, numa actuação bem agradável e de grande correcção, sem malabarismos tão do apetite do público, mas a única da noite denominada de lide, assente no conceito de verdade.
Pablo Hermoso teve uma noite apoteótica em Lisboa. As bancadas pouco se importam se os ferros são de palmo, ou se o oponente não investe ao castigo. Na primeira actuação teve dificuldades em marcar os tempos das sortes, passando algumas vezes em falso e os aplausos romperam ao primeiro ladeio e ao desplante de encarar a rês nos remates. No quinto da corrida expôs todo o manancial de rejoneio em tão parca matéria-prima, com piruetas na cara do oponente, ladeios e mais ladeios num cómodo exemplar, séries de três palmos no centro do ruedo numa rês estática, adornos e mais adornos. Foi assim que conquistou três voltas no final, recebendo aplausos nos adornos e pisando os terrenos para cravar num oponente imóvel. O público atribuiu-lhe um triunfo com três voltas e que não se culpe o rejoneador de Navarra por as ter dado, pois foram-lhe mesmo exigidas pelas bancadas.
Sem qualquer sobranceria, o número de voltas foi excessivo, de toureio muito pouco se viu e se o público mudou de agulhas no critério, resta apenas que sejam os intervenientes a mantê-las.
Rui Fernandes lidou o sexto da noite, pois o terceiro entrou em praça imensamente diminuído. Numa actuação pautada por quiebros, nem sempre o resultado das sortes foi a ideal, ficando o terceiro curto como o melhor ferro, de cima-para-baixo. No final lidou o sobrero, parco em força e em bravura. Com o comportamento da rês a agravar-se de ferro para ferro, Rui Fernandes enfrentou dificuldades consigo mesmo, prolongando uma actuação que deveria ter sido bem mais curta. Culminada com um par de bandarilhas em que apenas meio par ficou e com a escassez cada vez maior de força do oponente, este acabou prostrado e esgotado em praça, com o cavaleiro a insistir em mais ferros, escutando uma evitável bronca do tauródromo da capital.
Pelos Amadores de Coruche foram para a cara dos oponentes José Tomás que pegou à segunda tentativa; Ricardo Dias à primeira e Miguel Raposo ao primeiro intento.
Pelos Amadores da Chamusca foram para a cara o cabo Nuno Marques que resolveu ao segundo intento e saiu da praça com o braço ao ombro; Diogo Cruz à primeira tentativa e Manu Injay que fechou a noite à primeira tentativa, realizando a melhor pega da noite, citando com toreria, carregou a sorte, mandou no oponente e fechou-se à córnea.