Coimbras difíceis em Salvaterra
14 de Maio de 2012 - 00:16h | Crónica por: Sara Teles - Fonte: - Visto: 6893 |
‘Vim mais por causa dos toiros’. Foi a frase que ouvi uma ou duas vezes hoje em Salvaterra. Mas os toiros não tinham muito que ver… Infelizmente, o curro de Assunção Coimbra ‘chave da curiosidade’ da corrida vinha bem apresentado e para dar trabalho mas não para emprestar emoção.
Luís Rouxinol abriu a tarde frente ao um bem rematado exemplar. Esteve correcto nos dois compridos à tira mas o toiro pareceu deixar-se embalar pela música que o cavaleiro escutou ao primeiro curto e a lide baixou o ritmo. Mais três ferros nos médios ao compasso do toiro fizeram o todo de uma lide ortodoxa e coesa que terminou com um palmo vistoso.
Na segunda parte quis trazer ‘salero’ à tarde. Cravou um sonante comprido em sorte de gaiola bem rematado na brega pelas tábuas, seguido de outros dois igualmente excelentes. Contudo, a acrescer à falta de casta, Rouxinol teve pela frente um oponente ‘mal visto’ que ia incerto para as reuniões… Ainda assim, não deixou de ser ‘a lide da tarde’ e devidamente premiada como tal. Nos curtos a lide veio a mais: deu prioridade à investida e cravou ao estribo ‘en su sitio’, fazendo parecer simples o que não era.
João Telles Jr. escutou música no segundo curto. Esteve muito correcto nos compridos a aproveitar as reuniões e investidas com pata do exemplar. Sem emoção mas colaborante, o toiro permitiu que o jovem da Torrinha desenhasse uma lide bonita do quarteio ao adorno da brega, com destaque para o primeiro e terceiro curtos.
Da segunda lide também se retiraram bons apontamentos, tendo tido pela frente o 'melhor' toiro do lote. Em especial pela suavidade do quarteio enlevada pelas reuniões de alto abaixo, terminou em bom plano com um palmo ao agrado das bancadas, que deixou com ambiente.
Já Mateus Prieto não teve uma tarde feliz. No primeiro não se entendeu nos terrenos e ora a batida ao piton contrário ora quando de caras resultaram pouco acertados. Ainda assim, cumpriu com a ferragem da ordem. Na segunda parte, teve pela frente um manso perdido a que só conseguiu deixar três compridos correctos e dois curtos de baixa nota, já que o toiro se fechou em tábuas donde muito a custo se desencostou… Terminou assim a tarde sem escutar música e com visível desalento no rosto.
Nas jaquetas de ramagens também não foi tarde tranquila, em especial para os Amadores de Alcochete… Não há verdades absolutas e mesmo os grandes grupos como este provam dificuldades e têm tardes menos conseguidas.
Por esta formação pegou primeiro Pedro Viegas. Na 1ª tentativa o toiro meteu um píton por alto e impediu que o forcado reunisse correctamente. Assim, a pega consumou-se ao 2º intento a exigir muito coração do forcado para tirar o toiro reservado nas tábuas. Concretizou à córnea com o toiro a meter a cara alta, embora sem grandes derrotes.
A segunda do grupo foi concretizada à 3ª tentativa. Luís Santos saiu lesionado ao primeiro intento - vendo ensarilhada a investida sem que conseguisse corrigir nos terrenos e recuar para obter reunião – acabou por sair desfeiteado e pisado no rosto com violência, obrigando a saída. Na dobra Rúben Duarte recebe um violento derrote que o tira da cara. Embora sempre fechado à córnea, o forcado acaba por ser composto pelo grupo, o que determinou o cabo a mandar repetir. Consumou assim à 3ª tentativa, bem executada.
A fechar a tarde da formação alcochetana esteve Pedro Gil. Entrou na jurisdição e acabou por receber investidas ensarilhadas, sem conseguir mandar. Consumou de sesgo com o grupo carregado à 4ª tentativa, com mérito para a evidente determinação!
Também os anfitriões provaram as dificuldades dos Coimbra, embora tenham um saldo mais positivo desta tarde. Joaquim Consolado esteve correcto a carregar a investida solta e reuniu com determinação à barbela para concretizar à 1ª tentativa, com boa prestação das primeiras e segundas ajudas – o que logrou a atribuição do prémio ‘melhor pega’ aos Amadores de Salvaterra.
João Paulo Damásio não conseguiu fechar-se de pernas e acabou por escorregar da barbela ao 1º intento. Encastou-se, e, apesar da dificuldade em colocar o toiro, que obrigou à pega a sesgo, teve garra para ficar na barbela com o toiro a empurrar o grupo.
Por fim, face ao último exemplar, impraticável, o grupo consumou a pega de cernelha com o toiro encostado às tábuas a dupla, Fernando Falcão e Miguel Oliveira.
Não existem métodos fáceis para resolver problemas difíceis. Dá trabalho, é preciso suar e às vezes ainda parece que o resultado não é suficiente. Em Salvaterra não houve facilidades para ninguém... Numa tarde em que estavam em jogo troféus 'Caixa Agrícola' para a melhor lide e melhor pega, foram correctamente escolhidos Luís Rouxinol (2ª lide) e Amadores de Salvaterra (1ª pega) como vencedores, num juri composto pelos representantes dos cavaleiros e dos forcados respectivamente.