Palha Blanco - Quando 3 Horas Pareceram 3 Minutos
07 de Maio de 2012 - 16:30h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: - Visto: 7479 |
Vila Franca, nas últimas temporadas, tem conquistado prestígio na construção dos cartéis, descurando o lucro fácil e imediato, dando primazia à emoção, ao toiro, sua apresentação e comportamento. É um trabalho lento e com algum risco mas a corrida de ontem acrescentou mais um passo num caminho que parece ser o certo, com uma meia casa a assistir a uma corrida distinta da vulgaridade de tantas outras, adicionando ainda mais valor ao capital já granjeado.
A corrida na Palha Blanco teve tanto de interesse que as suas três horas de duração pareceram somente três minutos, e se mais houvesse, melhor seria.
O regresso de um curro Canas Vigouroux à Palha Blanco era um dos atractivos fortes da corrida e não desiludiu as expectativas criadas. Distintos em comportamento, pelagem e idade, no geral careceram de um nadinha mais de transmissão, saindo muito bem apresentados, em especial o primeiro, o quinto (que acabou por ser o segundo a ser lidado) e o sexto, que receberam fortes aplausos na entrada em praça.
No primeiro da tarde, Luís Rouxinol recebeu um negro de capa, de excelente apresentação e com 610Kg de peso. Com uma brega de elevada nota, fixou um oponente que desde a saída dos curros se mostrou desinteressado, cravando ferros ao estribo sem defeitos nas colocações, com destaque para o segundo curto de cima para baixo.
No segundo, uma sorte gaiola carregada de emoção e risco junto ao sector 1, que levantou a Palha Blanco após os gritos de colhida eminente, pondo a lide num patamar elevadíssimo e recebendo o aplauso da tarde, longo e convicto. O resto da lide ao jabonero de 595Kg de peso, resultou com menos brilho que a anterior nas sortes, tendo a brega a nota de elevadíssimo destaque, fixando sempre um oponente contrariado. Terminou como começou, em grande, com um excelente par de bandarilhas.
Manuel Telles Bastos lidou o quinto da ordem, pois o segundo exemplar saiu em praça tocado, rubricando uma excelente actuação a todos os níveis. Na brega, esteve sempre magnificamente ligado com o oponente, que deu sempre mais trabalho do que transpareceu, toureando a duas mãos e cravando ao estribo com colocações exímias. O seu terceiro e quarto curtos são exemplares, cruzados ao piton contrário e plenos de emoção. Uma lide de grande qualidade e de pura classe, de um cavaleiro de dinastia mas não apenas mais um, nada vulgar e sem a pressa de ser figura a qualquer preço.
O segundo do lote foi o mais leve de toda a corrida com 465Kg de peso e até ao terceiro curto o cavaleiro da Torrinha não se entendeu com o oponente, sofrendo um empurrão e um toque, após a cravagem. A partir daqui entendeu-se com as distâncias e ainda foi a tempo de emendar nos ferros seguintes uma lide que veio a mais.
Salgueiro da Costa não teve sorte com o lote e passou por isso discreto por Vila Franca. O primeiro com 585Kg de peso, foi manso desde a saída e a lide resultou cinzenta e com alguns protestos das bancadas pelo excesso de ajudas dos peões de brega.
O segundo tinha 650Kg de peso (o mais pesado de toda a corrida) e sem mobilidade, com o cavaleiro de Valada a andar em torno do oponente que nunca saiu do centro do ruedo. Salgueiro da Costa limitou-se a despachar ferragem, dois compridos e três curtos, sem que se visse uma pinga de sangue no exemplar de Canas Vigouroux.
A tarde para os Amadores de Lisboa foi dura em demasia e mesmo sem pegarem à primeira, viram uma praça reconhecer o esforço e a dificuldade com que se depararam. O cabo Pedro Maria Gomes concretizou à quarta tentativa com as ajudas carregadas e a sesgo.
Gonçalo Maria Gomes efectuou um “pegão” à segunda tentativa, num embate rijo e numa dura viagem até tábuas, onde embateu com violência e com o grupo a fechar.
Pedro Gil, com as ajudas mais carregadas, pegou à terceira tentativa um oponente que arrancou cheio de pata, com um embate rijo e numa viagem sempre a crescer em velocidade até tábuas.
Os Amadores de Vila Franca tiveram uma tarde irrepreensível, com Pedro Castelo a efectuar uma pega à primeira com um excelente primeiro ajuda, fundamental para a concretização da pega, viajando durante todo o longo percurso na lateral do astado e com o braço direito sempre a envolver e a fixar o forcado da cara.
Rui Graça efectuou o cite mais bonito de toda a tarde, sem alaridos e dando todas as vantagens ao toiro, que partiu com pata, fechando-se à barbela numa viagem a direito até ao grupo que consumou sem mais problemas. O rabejador Carlos Silva recebeu ovação no final da pega.
Por fim o cernelheiro João Maria e o rabejador Carlos Silva executaram uma emocionante pega de cernelha ao último da corrida, recebendo os aplausos de uma praça que resistiu ao abandono das bancadas após a execução da mesma.
Grande tarde de toiros na Palha Blanco, com o público a fazer pela positiva parte do espectáculo, exigindo e premiando mediante as necessidades de cada momento. Mais tardes com esta são precisas.