A Noite Foi dos Forcados, Contra a Mansidão e a Monotonia

A segunda da Feira de Santarém apresentou um cartel com atractivos suficientes para uma boa entrada de público, com três cavaleiros cada um com mais de 25 anos de alternativa somados. Público esse que respondeu com uma meia casa, na esperança de presenciarem uma continuidade da série de triunfos consecutivos que Luís Rouxinol vem conquistando no decorrer da temporada, de verem João Moura disposto a entrar na discussão desses mesmos feitos e da intromissão sempre carismática de Joaquim Bastinhas, que tem com uma franja de público um casamento que parece ser eterno e indestrutível.

Só que na realidade nada disto aconteceu. Apesar de uma meia casa na Celestino Graça representar praça cheia em quase todos os tauródromos nacionais, o público deparou-se com um manso curro de Conde Cabral, sem transmissão e de modesta apresentação, lidados de forma cinzenta pelos intervenientes, com repetição de erros no decorrer das lides, transpostos inclusivé da primeira para a segunda lide, excepção feita à ultima de Luís Rouxinol, que mesmo sem deslumbrar nem permitir vantagens ao oponente, que tinha mais lide do que a que recebeu, sempre foi aquele que ainda remou contra o marasmo da vulgaridade e do conformismo.

Mas o seu a seu dono. Há na forcadagem os triunfadores da noite, os Amadores de Santarém e de Alcochete, todos com pegas ao primeiro intento, apesar de terem enfrentado um curro que empurrava com pata, mas que nunca esteve disposto a bater (excepção do primeiro pegado pelo cabo dos Amadores de Santarém, Diogo Sepúlveda), não facilitaram os trabalhos e puxaram para si mesmos os louros da noite.

O cabo Diogo Sepúlveda dos Amadores de Santarém realizou a melhor pega da noite. O toiro partiu com pata, para no centro do ruedo reunir de forma rija à barbela, numa viagem sempre a derrotar, atravessando e sacudindo o grupo, deixando Diogo sozinho e a revelar não sair da cara do toiro nem por nada. O grupo lá se recompôs e apareceu para fechar uma excelente pega à primeira tentativa. No final deu duas voltas ao ruedo, aplaudidas de pé pela Celestino Graça.

Todas as restantes pegas de ambos os grupos são quase todas iguais, culpa do comportamento do curro, que manteve o registo de partir com mais ou menos pata e empurrar a direito após o embate. Culpa também dos forcados da cara e de ambos os grupos, que assim demostraram serem desprovidos de vulgaridade, competindo entre si.

Assim feito, pegaram ainda pelos Amadores de Santarém ao primeiro intento João Goes e António Imaginário. Pelos Amadores de Alcochete, arrumaram também com brilhantismo e ao primeiro intento, os forcados da cara Fernando Quintela, Joaquim Quintela e Diogo Den Toorn.

João Moura teve duas actuação tiradas quase a papel químico, com quiebros distantes dos terrenos dos oponentes, ferragem a cilhas passadas, ladeios sem temple, passagens em falso, toques, abusos de capotes sobre a mansidão, insistência em adornos inconsequentes, deixando a praça dividida de opiniões. Efectuou volta após cada actuação.

Joaquim Bastinhas também decalcou as duas lides que efectuou, tendo sido colhido em ambas por tentar passar por dentro junto a tábuas, nos terrenos dos acobardados oponentes que lhe sairam em sorte. Na segunda, quase que foi desmontado, tanto que foi o tempo que esteve à mercê do astado, valeu-lhe que o oponente se limitou a empurrar, não evitando que a montada se ressentisse da desfeita e de uma praça muito dvidida no apoio, chegando mesmo a escutar várias vaias das bancadas. Não efectuou nenhuma volta à praça.

Luis Rouxinol teve no primeiro um manso com som na investida (quando as teve), lidou encurtando espaços com cites terra-a-terra, mas a ferragem foi sendo colocada a cilhas passadas. No final da lide, sofreu um empurrão no remate e toque no adorno. Recusou volta, acto de quem está habituado a produzir resultados bem melhores.

No segundo do seu lote, enfrentou um negro de 530Kg com arreões de mansidão. Bregou na garupa, tirando o astado dos terrenos da crença. Os melhores ferros são os segundo e terceiro curtos, duas sortes cingidas nos médios com colocações exactas. Faltou que Rouxinol permitisse o arranque ao oponente na cravagem, para que a lide resultasse mais redonda. Apesar disso, o cavaleiro de Pegões esteve por cima do último manso Conde Cabral da noite.

No início da corrida, Luís Rouxinol Jr lidou um novilho Passanha, também ele sem transmissão nem bravura. O jovem promissor cavaleiro lidou o oponente de frente, dando iniciativa, reunindo no centro do ruedo e cravando de cima para baixo.

Pegou o novilho, António Borges dos Amadores de Santarém à terceira tentativa, com um primeiro ajuda a efectivar a pega e com o grupo a consumar.