Duarte Pinto Fez o Tempo Parar na Monumental Celestino Graça
04 de Junho de 2012 - 15:48h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: - Visto: 3686 |
Com os termómetros a ultrapassarem os 30 graus centígrados, a 2ª Grande Corrida da Pêra Rocha do Oeste, manteve o registo de escassez de público na presente temporada, com cerca de 1/4 das bancadas preenchidas na Monumental Celestino Graça.
A corrida teve duas partes distintas no comportamento do curro Ernesto de Castro, com os exemplares da segunda metade, a imprimirem maior emoção e bravura à medida que a temperatura descia, em especial o último da corrida que saiu a Duarte Pinto, aplaudido de pé por todos os presentes e obrigando o director de corrida a ceder uma justa e merecida volta à praça.
António Telles recebeu à porta gaiola um manso de 600Kg de peso, que se manteve quase sempre imóvel e que nem pisando os seus terenos arrancava, o que lhe valeu algumas passagens em falso. O cavaleiro da Torrinha andou sempre por cima do manso, fixando a atenção do oponente, obrigando-o a mover-se a contragosto e conseguindo o impossível no final da lide, colocando dois curtos ao estribo.
Na segunda lide, António Telles começou logo a romper desde o primeiro comprido, aguentando a sorte e cravando em terrenos de compromisso. Nos curtos, a lide do cavaleiro da Torrinha teve todos os condimentos de alguém que soube ler o oponente com 520 Kg de peso, variando as sortes e as abordagens ao astado. Duas sortes cingidas, junto a tábuas, cravadas de cima para baixo e dobrando-se no piton, que arrancaram os aplausos mais ruidosos de uma praça, que começava mais tarde do que o previsto a ver toureio. Com o oponente a crescer de rendimento, impôs-se ao mesmo, passando a dar mais praça, preparando as sortes numa brega de excelência e executando batidas ao piton contrário. Colocou um quarto curto entrando de frente, sempre a dar vantagens, de reunião exemplar e de alto-a-baixo, que levantou dos assentos a Monumental de Santarém. Grande actuação de António Telles, que durante a volta foi bombardeado por aplausos e por um galo, apenas apanhado por um capote, qual ‘rede de pesca avícola’.
João Telles Jr recebeu um exemplar negro que acusou 530 Kg na balança e que não acudia aos ferros. Factor que explica que logo no primeiro comprido, este não tenha quebrado. Nos curtos “Ginja”, deu demasiada largura de praça para o oponente que não partia, executando quiebros a milhas do astado, resultando por isso as sortes aliviadas.
O segundo do seu lote tinha 580 Kg, era áspero e respondia com dureza, apesar de um pouco distraído e com tendência para descaír para tábuas. Telles Jr toureou bem o oponente e conseguiu na brega fixá-lo na montada. Nos curtos, e apesar de demasiada distância no cite, colocou os dois primeiros de cima para baixo, com reuniões perfeitas e rematadas. O ferro seguinte foi o pior da lide, de sorte muito aliviada e com o oponente a perder voluntarismo, só que inexplicavelmente a banda tocou. Estranha no mínimo a decisão do “Inteligente". Ginja merecia banda sim mas logo ao primeiro curto. No segundo idem, agora ao terceiro curto? No seu pior ferro? Não se entende qual o critério!
Terminou uma boa actuação com mais dois ferros dignos de música, frente a um oponente que veio a menos.
Duarte Pinto foi o triunfador da corrida, culpa do segundo toiro que enfrentou e da consequente magnífica actuação que rubricou. No primeiro com 580Kg e que acudia à montada com pouco tranco, o cavaleiro de Paço D’Arcos foi exímio ao equilibrar o toiro, sempre com uma aparente tranquilidade e facilidade de processos, entrando de frente e citando de largo, só que foi deixando a ferragem algo descaída. Numa lide em que o toiro veio sempre a mais, destaque para o terceiro curto, em que abriu o quarteio no momento certo e colocou de cima para baixo.
No segundo, Duarte Pinto teve direito a um exemplar negro de 550Kg de peso, que entrou em praça a direito e só com olhos para a montada, ignorando peões de brega, capotes, movimentos e sons. O segundo Ernesto de Castro do lote de Duarte Pinto, foi um toiro que estou certo que o cavaleiro de Paço D’Arcos dificilmente esquecerá. Tão certo como não o esquecerá o quarto de público presente na Monumental Celestino Graça, que presenciou uma lide histórica, com todos os pormenores de antologia, cites literalmente de praça-a-praça, ferragem ao estribo sem defeitos nas colocações, num toiro sem crenças, que arrancava sempre primeiro do que qualquer movimento da montada, respondendo ao incitar da mão direita que sustentava o ferro. O oponente acudia de todo o lado, investia com um tranco recto e nobre para qualquer local do ruedo, nunca dobrou as mãos ou expôs a língua e nunca se ausentou ao confronto. Duarte Pinto recebeu um toiro digno dos predestinados e rubricou uma actuação ao alcance de um figurão, abordando as sortes sempre de frente, sem alaridos popularuchos, nem qualquer tentativa de enganar as investidas do Ernesto de Castro. Aquele quarto de praça pediu e voltou a pedir ferros extra, de uma lide tão longa no tempo, tempo que Duarte Pinto parou sem ninguém dar conta da sua real extensão. No caminho de regresso a casa, vi e revi vezes sem conta aquela lide e aquele toiro, que foi ovacionado de pé pela Celestino Graça, obrigando o director de corrida a ordenar uma justa e merecida volta ao ruedo.
Obrigado Toureiro!
O Grupo de Forcados Amadores de Santarém enviou João Brito para a cara do primeiro da corrida. Viu o toiro medir até ao embate e reuniu à barbela, numa viagem dura que sacudiu o grupo, que apareceu para consumar.
Com o toiro sempre a raspar, António Imaginário citou a dar vantagens. Partiu a mando e com pata, numa reunião rija e à córnea, num crescendo de velocidade até ao grupo que consumou uma excelente pega ao primeiro intento.
Luís Sepúlveda pegou ao terceiro intento e com as ajudas muito carregadas, após uma primeira tentativa em que faltou grupo e de na segunda o toiro não ter humilhado e impossibilitado a reunião.
António Grave de jesus reuniu à barbela, numa viagem a desviar do grupo, que apareceu pronto para fechar à primeira tentativa.
João Goes pegou à segunda tentativa, frente a um oponente que não arrancava. Quando o fez, reuniu com violência à córnea, com o toiro a derrotar e sacudindo até se libertar, numa viagem muito dura, tendo surgido em praça mais elementos para ajudarem a consumar a pega.
João Torres Vaz Freire teve a honra de pegar o bravo e histórico Ernesto de Castro de 3 Junho em Santarém. Tal como na lide, o toiro arrancou franco e pronto, com o tranco de sempre. Reuniu vistoso à barbela, num viagem sempre em crescendo até tábuas com o grupo solidário e coeso, também a querer fazer parte da história, fechando a corrida com um pegão a um toiro histórico, à primeira tentativa.
No final da lide de Duarte Pinto, o cavaleiro de Paço D’Arcos chamou o ganadeiro para volta à arena. É certo que aquele toiro era digno de tal efeméride mas os restantes exemplares, principalmente os quatro primeiros não estiveram à altura de uma praça de primeira. Além disto, o director de corrida apresentou um critério estranho no que toca a atribuição de música. Valeram os três cavaleiros, que nunca quiseram sair de mãos a abanar da Monumental de Celestino Graça e os Amadores de Santarém que demonstraram atravessarem um bom momento. Porém há um triunfador natural nesta corrida, Duarte Pinto.