Festival Taurino de Vila Franca

Num Domingo marcado por três festejos, Vila Franca de Xira enfrentou a permanente ameaça de aguaceiros e levou por diante o festival taurino agendado, tendo sido este, no final de contas, o único que não foi cancelado. Afinal, o octogésimo aniversário do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira só se festeja uma vez na vida, sem que necessário fosse outra justificação para a afronta ao mau tempo, estando cerca de sete dezenas de forcados em praça durante as cortesias.

Também a União Desportiva Vilafranquense comemorava o 55º aniversário, desfilados com a banda antes das cortesias e ocupando as bancadas durante o decorrer do festival.

Não deixam grandes saudades as seis actuações a cavalo, com somente um ferro aqui e outro acolá de destaque. O toureio a pé foi o mais entusiasmante, em especial o novilheiro Tiago Santos, que pelo pitón direito do oponente Canas Vigouroux, efectuou uma faena que arrancou calorosos aplausos das bancadas, compostas por pouco mais do que uma meia casa.

No total foram oito exemplares lidados em 3h10m de duração. Os seis que pertenciam à ganadaria de Santa Maria destinaram-se para os cavaleiros, que no geral deixaram-se, com maior ou menor dificuldade, lidar. Para o toureio a pé dois exemplares jaboneros da ganadaria de Canas Vigouroux, com o primeiro a surgir em praça tocado.

Filipe Gonçalves abriu praça perante um toiro negro que entrou com chispa, factor aproveitado pelo cavaleiro na ferragem comprida, em especial no segundo ferro. O exemplar evidenciava mansidão e iniciou passo de saída assim que viu a porta do pátio de quadrilhas abrir-se, para que Filipe Gonçalves trocasse de montada. Nos curtos, por entre alguns toques o Furacão Algarvio citou de largo e deu vantagens ao toiro, quando as características do oponente exigiam um encurtamento das distâncias. Assim, as sortes resultaram pescadas excepto no terceiro ferro, sorte que apesar da insistência nas distâncias, resultou bem colocada. Com o Xique (o cavalo bate-palmas) arrecadou o público, terminando a lide com os tradicionais violino e ferro de palmo em terrenos cambiados.

Brito Paes andou menos bem perante um negro que oscilou de comportamento durante a lide. No primeiro curto com o toiro a apalpar terreno, o cavaleiro de Torres Vedras aguentou bem o momento da reunião, efectuando a batida junto a tábuas e a sesgo, colocando um ferro de boa nota. A partir daqui as sortes resultaram a cilhas passadas e mal colocadas, dando a sensação que poderia ter feito mais.

Paulo Jorge Santos recebeu outro toiro negro, algo distraído e andarilho. O cavaleiro de Vila Franca preparou com labor as sortes com o oponente fixo na montada. Desenvolveu uma lide com base nos quiebros, resultando as sortes  aliviadas, com o toiro a aprender a viagem ao fim do segundo curto.

Nuno Casquinha recebeu o exemplar Canas Vigouroux tocado no posterior esquerdo, com nítidas dificuldades em apoiar-se, arrastando os posteriores ao locomover-se. No capote passou discreto. Na muleta andou esforçado, provando pelos dois lados, embora as dificuldades físicas do exemplar em praça impossibilitassem qualquer réstia de faena, o que desolou o matador Vilafranquense. Simulou estocada em sorte contrária.

Tiago Santos lanceou à verónica, com temple e graciosidade, o segundo jabonero Canas Vigouroux. De seguida, colocou três pares de bandarilhas, qual deles o melhor, com verdade, em especial o terceiro. Na muleta, o aluno da escola de toureio de José Falcão, tirou proveito do pitón direito do toiro, sacando boas séries de derechazos templados, em especial a segunda série, com o toiro a humilhar e a enganchar na muleta. Pelo lado esquerdo, o toiro não tinha o mesmo som e o novilheiro regressou à mão direita já sem o mesmo brilho, pois o toiro foi perdendo faculdades. Simulou a estocada em sorte contrária e teve a melhor actuação de toda a tarde.

Apesar de miudinha, a chuva passou de ameaça a realidade quando Duarte Pinto recebeu um oponente com pouca força. Bregou com qualidade, sem adornos desnecessários e como parece ser fácil a forma como consegue sempre preparar as sortes. O toiro arrancava a custo e sempre a apalpar terrenos, pondo Duarte Pinto em dificuldades em colocar a ferragem. Terminou com o seu melhor ferro junto a tábuas, ao estribo.

Tiago Carreiras recebeu um voluntarioso negro listão na saída, onde colocou sem percalços a ferragem comprida. Nos curtos, imprimiu uma lide frente um oponente que pouco incomodava e que procurava o refúgio das tábuas. Apesar da imprecisão na colocação da ferragem, efectuou nos dois últimos ferros da lide, sortes desenhadas por uma dupla batida ligeira, conquistando o público.

Marcelo Mendes fechou a tarde com uma lide em que o protagonismo esteve todo nos ladeios que efectuou como adornos nos remates. A ferragem foi sendo colocada, por entre alguns toques, a cilhas passadas. Quando escutou aviso para sair ainda colocou um violino e um ferro de palmo que nada acrescentaram ao que já tinha feito escutando ténues apupos do público. Mesmo assim, ainda quis pôr um par de bandarilhas, ouvindo de imediato uma evitável bronca das bancadas, que lhe recusou mais tempo de lide.

A tarde do Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira seria totalmente perfeita, não fosse o infortúnio de Pedro Faria por ter fracturado a perna na tentativa de pegar o primeiro toiro. Contudo, Vila Franca apresentou cerca de 70 forcados fardados em praça, das diversas gerações dos seus 80 anos de história.

António Faria foi dobrado por Rui Graça que pegou à primeira tentativa, numa reunião sem humilhar, num embate rijo e com o grupo a concretizar de imediato.

Diogo Pereira mandou no toiro e reuniu à barbela numa viagem sem problemas de maior, à primeira tentativa.

Vasco Dotti pegou igualmente ao primeiro intento. O antigo cabo do grupo fechou-se à barbela, num embate suave e numa viagem a direito para o grupo.

Caló efectuou uma rija pega à primeira tentativa, num cite em que mandou no toiro, reunindo com valentia à barbela, num embate violento e numa dura viagem atravessando o grupo, em que foi auxiliado por um imprescindível primeiro ajuda. Recebeu o aplauso da tarde, de uma praça que não o esquece.

Rogério Antunes viu o toiro partir mal este se virou para o forcado, reuniu à barbela sem complicações de maior e com o grupo a consumar mais uma pega à primeira tentativa.

João Tavares viu o toiro arrancar a apalpar terreno quase até tábuas. O forcado recuou e esperou ,até onde parecia já ser impossível, executando uma valorosa pega à primeira tentativa, com uma primeira ajuda a ser fundamental e com o grupo a fechar.