Uma Grande Tarde de Toiros em Montemor
05 de Setembro de 2011 - 21:33h | Crónica por: Sérgio Lavado - Fonte: - Visto: 3511 |
Quando numa corrida se anuncia a ganadaria de Pinto Barreiros: “mãe” das ganadarias portuguesas; os cavaleiros António Telles, Luís Rouxinol e Vítor Ribeiro: com estilos diferentes mas com o mesmo objectivo em todas as lides– o triunfo; e o Grupo de Forcados de Montemor: eternos conhecedores da arte de pegar toiros, não se pode esperar menos que uma tarde memorável! Se a isso juntarmos a emblemática praça de toiros de Montemor e a data que assinala a corrida da Feira da Luz, ainda as expectativas se tornam maiores. E, por sinal, desta vez as expectativas não só foram alcançadas, como foram ultrapassadas, coisa rara na festa dos toiros. Estranho foi Montemor não ser "praça cheia" mas sim praça a 3/4 fortes.
O curro de Pinto Barreiros apresentou-se bastante homogéneo quer de apresentação, quer de comportamento. Todos os toiros que saíram à arena estavam bem rematados e com cara, em termos comportamentais mostraram uma enorme fijeza, mobilidade, fundo e codícia. Sobrou-lhes toureabilidade e faltou-lhes agressividade, com excepção do último, que se viria a revelar o melhor da corrida. Ainda assim, qualquer destes toiros seria sem dúvida o melhor da maioria dos curros que têm saído este ano em Portugal. São sem dúvida o tipo de toiro que interessa à festa brava em Portugal já que permitem grandes lides a cavalo e pegas emocionantes. O que estão é já no limite do bom, porque quando há toureabilidade em demasia começa a faltar agressividade: sem agressividade não há perigo, sem perigo não há transmissão, e sem transmissão não há emoção. Esperamos que os “nossos” Pinto Barreiros não caiam neste abismo que tem levado algumas ganadarias a deixarem de ter toiros bravos e passarem a ter “bobas”.
António Telles abriu praça com uma importante actuação, frente a um castanho, nascido em 2007 e com 550Kg de peso. Ao seu estilo clássico, Telles cravou ferros de excelente nota e soube aproveitar da melhor forma a boa condição do toiro até ao fim da lide. Para a cara deste primeiro Pinto Barreiros da tarde partiu António Vacas de Carvalho que, depois de uma reunião onde o toiro travou e meteu a cara num derrote “seco”e alto, se fechou com valentia à córnea consumando ao primeiro intento. Mas foi frente ao segundo do seu lote (4º da corrida), que António Telles esboçou a sua melhor actuação em Montemor. Este Pinto Barreiros, colorado de pelagem, com 520Kg e nascido em 2007 foi bastante colaborador com o cavaleiro da Torrinha. Sempre pendente do cavalo, tomava a iniciativa no desenhar das sortes e perseguia a montada com codícia. Os pontos altos de actuação de Telles foi o segundo comprido, de praça a praça, o segundo curto, a dar vantagens ao toiro e a cravar junto às trincheiras, e os dois ferros de palmo no final da actuação que levantaram em aplausos os tendidos de Montemor. Francisco Borges, pegou à primeira tentativa numa pega fácil mas tecnicamente bem conseguida. No final o ganadeiro acompanhou o cavaleiro e o forcado numa calorosa volta ao ruedo.
Luís Rouxinol desenhou duas excelentes lides. A primeira frente a um negro mulato, nascido em 2007 e com 580Kg de peso, que começou com três emocionantes compridos, seguiu com curtos bem desenhados que rematou com bregas ajustadas e piruetas na cara do toiro e terminou com um de palmo que o público aplaudiu com força. E a segunda lide, onde teve por diante um colorado, nascido em 2007 e que deu na balança 540Kg, que recebeu com um magnífico comprido em sorte de gaiola. Quatro curtos: quatro ovações. Um de palmo: ovação; par: tendidos em pé; outro de palmo: e Montemor ao rubro! Foi chamado à cara deste quinto Pinto Barreiros da tarde Filipe Mendes, que numa pega dura, com o toiro a meter apenas um piton na reunião, se fechou à córnea e com grande poder consumou à primeira tentativa. O primeiro do lote de Rouxinol (2º da corrida) foi o que mais complicou a tarefa ao Grupo de Montemor. João Tavares, depois de quatro tentativas frustradas, pegou o toiro à meia volta e com as ajudas subidas ao quinto intento.
O terceiro do histórico cartel de Montemor foi Vítor Ribeiro, que também não quis deixar os créditos por mãos alheias. No seu primeiro, um colorado, nascido em 2007 e de 580Kg de peso, andou correcto, desenhando bastante bem as sortes e cravando “no sitio”. Mas pouco chegou aos tendidos esta primeira actuação de Vítor, salvo no quarto curto, que foi onde o toiro mais se empenhou, onde o cavaleiro mais carregou a sorte e onde a brega foi mais bem conseguida. João Romão Tavares partiu para a cara deste terceiro da tarde, que se arrancou a galope mal viu o forcado. A reunião não foi a mais feliz mas João acaba por se aguentar na cara do toiro e consumar à primeira, numa pega em que o toiro empurrou até às trincheiras.
O sexto da tarde, um colorado, de 530Kg de peso e nascido em 2007 viria a revelar-se o melhor toiro da tarde. Teve todas as qualidades dos seus irmãos de camada mas para além disso apresentou a agressividade que faltava aos outros. Frente a este excelente exemplar de bravura, Vítor Ribeiro não teve mais remédio que fazer a melhor actuação da tarde. Numa lide de menos a mais, Ribeiro aguardou o toiro à porta dos toriles e parou-o sem dificuldade no centro do ruedo. Mas foi no final da actuação, já com público “metido”, que Vítor crava dois ferros brilhantes. Um curto em curtas distâncias, carregando a sorte e cravando ao estribo e “en todo lo alto”, que arrancou uma forte ovação e um ferro de palmo com o qual encerrou a actuação e recebeu mais um forte aplauso. Numa pega em que as ajudas estiveram bastante bem, Frederico Manzarra consumou à primeira tentativa, depois de aguentar uma violenta reunião e a viagem pelo “grupo a dentro”. O ganadeiro foi novamente chamado à arena para receber uma calorosa ovação.