Vila Franca - Segunda da Feira Taurina de Aniversário dos 110 anos da Palha Blanco
03 de Outubro de 2011 - 20:34h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: - Visto: 2312 |
Perto de meia casa registou-se em Vila Franca para assistir à XXIII corrida CAP, a segunda da Feira Taurina de Aniversário dos 110 anos da Palha Blanco. Quem assistiu deu por bem empregue o valor dispendido na corrida e as cerca de duas horas de duração, com um calor abrasador e um muito bem apresentado curro de toiros de Falé Filipe, onde David Mora conquistou o troféu de melhor lide.
Victor Mendes vestido de ouro e verde garrafa, recebeu o primeiro exemplar da ordem bem apresentado e com 460Kg de peso, com uma série de cinco lances de verónica, bem executados e de elevado valor estético, rematados por uma não menos bem executada meia verónica. David Mora foi provar o exemplar com uma série de quatro verónicas, menos ligadas que a do alternante.
No tércio de bandarilhas, colocou dois magníficos pares de alto a baixo e bem na cara do toiro.
Na muleta, iniciou pela mão esquerda uma faena a um oponente com pouco recorrido mas de investida nobre. Sem humilhar em demasia mudou de mão e testou o comportamento do toiro sem os mesmos resultados. Volta de novo á mão esquerda para executar uma série de naturais ligados que receberam calorosos aplausos. Uma série de 3 molinetes e um farol secaram a matéria-prima e o matador luso simulou estocada em sorte contrária com precisão na colocação. Ovação e volta.
O seu segundo do lote foi o mais pesado da corrida, com 550Kg, não tinha som, possuia uma investida desconjuntada e sem nunca querer repetir, levou o Maestro de Vila Franca a mostrar na praça da sua terra de que raça é feito, com uma faena só ao alcance de uma figura. Recebeu o oponente com uma série de verónicas e outra de quatro chicuelinas cambiadas (em duas delas o piton direito passou a milímetros da sua cintura), rematadas com uma meia verónica. Na muleta emergiu a raça de Victor Mendes, que iniciou faena pela mão direita, a um toiro que não repetia e que necessitava de enorme incentivo para investir. Com perfeito entendimento do que tinha pela frente, inicia nova série de muletazos pela mão direita, a sacar todo o rendimento do toiro, havendo então ligação, repetição e muito suor. Se houve faena foi porque Victor Mendes a sacou, quando ao testar pela mão esquerda e ao tentar equilibrar o oponente, não obteve rendimento algum. A mão direita era a única possível para explorar e espremeu tudo o que havia até não haver mais. O toiro protestou e roubou-lhe a muleta. Foi a pedra de toque para acabar faena, uma faena de figura. Simulou a entrar em sorte natural novamente colocada com precisão. Enorme ovação seguida de volta, de um público que entendeu haver toureiro e não toiro. Não poderia haver melhor lição de um Maestro a comemorar os 30 anos da sua alternativa, que recebeu no final da volta uma lembrança dos alunos da Escola de Toureio de José Falcão.
David Mora vinha de triunfar em Madrid e apresentou-se na Palha Branco de ouro e pérola. Recebeu com uma bonita série de cinco verónicas o primeiro do seu lote, um “listón” (negro e de pelagem vermelha na coluna), com 465Kg de peso. Na muleta iniciou os trabalhos pela mão direita a um oponente que repetia com algum protesto. Nova série de cinco derechazos, três deles carregados de temple e com a mão bem em baixo. Executou de seguida uma série de quatro naturais sem o mesmo resultado da anterior, rematada com um primoroso passe de peito. Voltou à mão direita e nova série de quatro passes e dois deles bem templados. Ainda girou sobre a mão direita e executou nova série, com o toiro a protestar em demasia. Simulou a receber em sorte contrária. Ovação e volta.
O seu segundo tinha 545Kg, muita cara e escorrido de formas. O toiro empregou-se no capote, repetindo a gosto e respondendo ao toque, tanto que deu uma pirueta que se julgou poder comprometer faena. Após um tércio de bandarilhas discreto, David Mora deixou o seu oponente respirar e após duas séries de derechazos carregados de emoção, com o piton do oponente a roçar a “jaquetilla” do matador espanhol, mudou de mão e executou uma série de cinco magníficos naturais templados, com repetição, nobreza e brilho. Voltou de novo à mão direita sem nunca obter resultado idêntico ao da esquerda, sacando uma faena templada, deixando o oponente respirar, com recorrido, ritmo e passes onde a ligação foi uma certeza. Simulou a receber em sorte contrária. No final enorme ovação e duas voltas à arena. Recebu justamente o troféu em disputa para melhor faena da tarde.
António Ferreira, de branco e ouro, recebeu o primeiro da ordem, escasso em força e com 490Kg. No capote passou discreto e sem nenhum lance a merecer destaque. Brindou a lide a Victor Mendes e na muleta iniciou faena pela mão direita, obtendo dois lances templados e rematados por um exímio passe de peito. Executou uma série de quatro belos naturais cheios de largura, temple e com repetição. Pena ter pedido a ligação com o oponente ao ponto de este lhe retirar a muleta. Voltou então à mão direita frente a um exemplar sem força e sem mais réstia de lide possível. Simulou a entrar em sorte contrária. No final ovação e a merecida volta.
Fechou a corrida com o pior exemplar em comportamento que saiu em praça, que esbanjava nenhuma condição de lide para além dos 535Kg de peso. No capote voltou a passar sem nada a registar e na muleta tentou sacar faena por ambos os lados, expondo-se em permanência ao oponente mas sem nunca obter resultado que fosse. O toiro não tinha qualquer condição de lide e António Ferreira simulou estocada, entrando em sorte natural.
No final, os três matadores saíram em ombros.