Faltou Bravura e Sobrou Toureio na Póvoa de São Miguel
02 de Outubro de 2011 - 14:12h | Crónica por: Sérgio Lavado - Fonte: - Visto: 2344 |
Foi com as bancadas a 3/4 que a praça de toiros da Póvoa de São Miguel recebeu a tradicional corrida integrada nas festas locais. Faltou à corrida a principal “matéria prima” da festa brava: toiros. Salvo o quinto da tarde, o curro de Dias Coutinho apresentou-se manso e com falta de casta. Viram-se toiros escandalosamente metidos em tábuas, a “jogarem à defesa” do inicio ao fim da lide, com falta de mobilidade, força e fijeza. De trapio, regra geral, estavam bonitos, destacando-se pela positiva o quarto que estava melhor armado de pitons.
O primeiro da tarde foi lidado a duo por Luís Rouxinol e Brito Paes, numa actuação que nunca chegou a “aquecer” as bancadas. Este Dias Coutinho, saiu dos toriles algo distraído e com falta de mobilidade, sendo recebido com quatro ferros compridos onde pouco ou nada há para contar. Com o decorrer da lide o toiro foi ganhando fijeza nas montadas mas também desenvolveu querenças nos médios. Nunca complicou a tarefa aos cavaleiros mas também nunca pôs emoção nas sortes. De realçar o primeiro ferro curto de Brito Paes, que foi bastante bem conseguido e um violino de Rouxinol, em terrenos de dentro, que encerrou esta primeira actuação.
O lote que estava reservado para Luís Rouxinol era composto por um negro bragado, perdido de manso e que a única coisa que procurava era o refúgio das trincehiras, e por um negro que permitiu lide mas que também de bravo tinha pouco. Frente a tais oponentes o cavaleiro de Pegões mostrou o porquê de ser uma das máximas figuras do toureio nacional e arrancou duas excelentes lides! A primeira foi uma lide de grande mérito, cravando a maioria dos ferros em terrenos de compromisso e arriscando por vezes uma barbaridade, já que o toiro não saia das suas querenças por nada deste mundo. Na segunda actuação teve a tarefa mais facilitada e arrancou mais palmas dos tendidos, mas de novo teve de ser o cavaleiro a meter emoção nas sortes, já que o toiro a isso não estava disposto.
A Brito Paes saiu-lhe em sorte um lote bastante desigual. O seu primeiro (3º da corrida), um negro bragado chorreado listón, investiu sempre para se defender e nunca para atacar. A coisa que mais interesse lhe despertava era o bonito vermelho das tábuas, nunca mostrou interesse pela montada e faltou-lhe sempre mobilidade. Com esta matéria-prima por diante, a única coisa positiva que há para realçar da actuação de Brito Paes é o enorme esforço que teve de fazer para conseguir cravar a ferragem da ordem. O seu segundo (5º do curro), viria a revelar-se o mais bravo da corrida. Teve melhor inicio que final mas ainda assim ofereceu muito mais possibilidades que os seus irmão de camada. Brito Paes aproveitou-o da melhor forma e desenhou a lide mais “redonda” da tarde. Começou com compridos de praça a praça, seguiu para os curtos com batidas ao piton contrário e terminou com dois violinos e um ferro de palmo que a afición povoense aplaudiu com força.
Fechava o cartel o Real Grupo de Forcados Amadores de Moura e o Grupo de Forcados Amadores da Póvoa de São Miguel. Pelos Amadores de Moura, foi chamado à cara do primeiro da tarde Nelson Borges que consumou ao primeiro intento numa pega em que a única dificuldade foi o toiro arrancar-se para o forcado. Gonçalo Caeiro foi encarregado de pegar o terceiro da tarde, um violento e complicado Dias Coutinho que apenas permitiu que a sorte se consumasse ao quarto intento. E o quinto do curro foi pegado por Fábio Santos ao primeiro encontro, numa sorte em tudo parecida à do primeiro toiro.
Pelos Amadores da Póvoa de São Miguel, André Batista foi chamado à cara do segundo da tarde. Um Dias Coutinho que também não se queria arrancar para o forcado, mas que quando finalmente o fez não dificultou em nada a tarefa ao grupo, consumando-se a sorte sem percalços ao primeiro intento. José André dos Santos foi o encarregado de ir à cara do quarto, efectuando uma pega rija à primeira tentativa. A reunião não foi a mais feliz mas José André conseguiu ficar na cara e aguentar uma dura viagem onde o toiro, ao tentar fugir ao grupo, dificultou a tarefa dos ajudas.
E para fechar a tarde com chave de ouro, estava reservada mais uma actuação de Rouxinol Júnior. O espectáculo estava integrado num festival taurino onde era lidado um utrero de Ascensão Vaz e em que pegava o Grupo de Forcados da Póvoa de São Miguel. Frente a um novilho que nunca lhe facilitou a lide, Rouxinol Jr. mostrou o seu impressionante poderio e “arrancou” uma lide muito acima do que é o nosso nível artístico nacional. Como não podia deixar de ser, foi a actuação mais aplaudida da tarde e a única em que o público esteve de verdade “metido” na lide do inicio ao fim. Deixou a afición povoense em êxtase quando, no final da actuação, crava um violino por terrenos de dentro e dois ferros de palmo que formaram um alvoroço nos tendidos! Também a pega deste Ascensão Vaz foi bastante aplaudida. Para a cara partiu Ruben Mestre, que com grande valentia aguentou uma dura viagem, carregada de derrotes e com o toiro a fugir ao grupo. Pena foi ter sido ao segundo intento, já que a primeira tentativa foi igualmente emocionante.