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Manzanares Indulta Arrojado e Escreve História em Sevilla

6ª Corrida da feira de Abril, em Sevilla
01 de Maio de 2011 - 16:17h Crónica por: - Fonte: - Visto: 3105
Manzanares Indulta Arrojado e Escreve História em Sevilla

             

 Sábado, 30 de Abril de 2011 

 

Curro de toiros de Nuñez del Cuvillo, bem apresentados quer de trapío quer de cara. Destacaram-se pela positiva o 1º (aplaudido no arraste), o 3º (indulto) e o 6º (2 orelhas e aplaudido no arraste).Vestiram-se de luces: Julio Aparicio, Morante de la Puebla e José María Manzanares.    

 

 

  

        Tarde memorável para quem assistiu à 6ª corrida da feira de Abril, em Sevilla. Não se pode pedir mais a um espectáculo taurino, viveram-se momentos de máxima emoção na praça de toiros da Real Maestranza, houve pormenores do inicio ao fim da corrida, não existiu um único instante em que não houvesse interesse no que se passava no ruedo. Os aficionados saíram da praça investindo na atmosfera e sacando verónicas e derechazos, todos sabiam que se tinham vivido momentos que dificilmente sairão da memória de quem os viu e de quem os sentiu. No final da corrida o bonito relógio da Real Maestranza indicava as 21h, mas na verdade, quis São Pedro que a emoção do espectáculo começasse muito antes das 18:30h e quis Arrojado, toiro nº 217 de Nuñez del Cuvillo, que o que se viveu ontem em Sevilla não terminasse às 21 horas, mas sim que se perpetuasse para sempre. Dificilmente haverá outra corrida desta categoria no que resta da feira de Abril!

         Começando não pelo inicio, mas sim pelo mais importante, quis a sorte que o 3º toiro da corrida, de seu nome Arrojado, um negro mulato, nascido em Abril de 2007 e que deu na balança 500kg certinhos, calhasse em sorte a um toureiro que está cada vez mais poderoso, que a cada corrida ganha partidários e que é cada vez mais adorado pela aficion sevillana: José Maria Manzanares. Depois de um recibo de capote por verónicas bastante bem templadas, que terminaram com uma media, assistiu-se a um correctíssimo tercio de varas, onde o toiro sem grandes “alaridos” investiu com prontidão (como aliás aconteceu com todo o curro), metendo a cara bem no cavalo. Aplausos para o picador. Seguiu-se um emocionante tercio de bandarilhas, com dois excelentes pares (1º e 3º - aplausos para o bandarilheiro) e um menos conseguido, onde o toiro continuou a revelar a sua boa condição, arrancando-se pronto e sem cortar terreno, avizinhava-se grande faena!

         E começa a aguardada faena de muleta, Manzanares com o engano planchado na mão direita aproxima-se do bonito mas sério Nuñez del Cuvillo. E é então que começa a loucura! Depois de três tandas pelo lado direito, onde o toiro parecia que estava a investir em câmara lenta, Manzanares agarra a muleta na mão da verdade. A Maestranza estava rendida aos encantos do toureio com verdade, com emoção e com temple! E ainda nem se tinha visto como investia o toiro pelo piton esquerdo, mas a verdade é que ninguém duvidava que seria igual ou melhor que pelo direito. E depois de um compasso de espera, que inteligentemente Manzanares ia fazendo entre cada série, começa o toureio de verdade, o toiro apenas via a muleta, nem deixava que acabasse um natural e já queria estar embebido no seguinte, sempre com a cara baixa e parecia que com o passar das tandas a faena tinha cada vez mais emoção. No final destes naturais os aficionados estavam arrepiados e já estremeciam por todos os lados, tal era a velocidade dos batimentos cardíacos.

         É então que o alicantino volta à mão direita, lado por onde saca do Nuñez del Cuvillo mais duas séries carregadíssimas de transmissão, que remata com um cambiado pela espalda e um passe de peito que aconteceu a uma velocidade de aproximadamente 0km/h. Aparecem os primeiros lenços brancos. A faena estava feita, mas não porque faltasse toiro ou porque o toureiro não se entendesse com ele, a verdade é que estava tudo visto. Era mais do que certo que Arrojado ia continuar a investir tantas vezes quantas as que Manzanares lhe apresentasse a muleta por diante e sempre com a mesma classe. O toureiro, perante a petição de indulto (que verdade seja dita, é bastante pouco vulgar na praça de Sevilla), partiu para mais uma série, onde se confirmaram as expectativas e o toiro continuou a perseguir o engano, tal como tinha feito nas primeiras tandas. A Maestranza volta a encher-se de lenços brancos e Manzanares sem saber o que fazer olha para o director de corrida que o manda entrar a matar, mas era tal a petição que o toureiro foi incapaz de o fazer e partiu para mais uma séria pela mão direita e o Nuñez del Cuvillo sempre igual a si mesmo, e dos tendidos os “olé’s” faziam estremecer a cidade de Sevilla. No final desta tanda, depois de 71 passes de muleta, cada um melhor que o anterior, não houve ninguém que no calor da emoção fosse capaz de deixar o lenço guardado no bolso e é então que aparece o memorável lenço laranja.

          E assim saiu com vida Arrojado pela porta dos currais da Maestanza, junto ao bonito jogo de cabrestos. D. Álvaro Núñez Benjumea, como não podia deixar de ser, acompanhou José María Manzanares numa calorosa volta à arena. Ganadeiro e toureiro viviam um sonho tornado realidade.

         E bastava isto para que a tarde tivesse sido extraordinária, mas a verdade é que saíram dos toriles mais dois toiros de excelente condição. Um deles (o 6º) de novo para o alicantino: um negro mulato, marcado com o nº53, nascido em Dezembro de 2006 e que levava sobre os aprumos 522kg. Bem cuidado pela quadrilha e com mais um óptimo tercio de bandarilhas, onde os bandarilheiros foram chamados ao ruedo para receberem uma forte ovação, chegou à muleta com imensa vontade de investir. Manzanares voltou a demonstrar o seu enorme poderio e conhecimento, desenhando uma faena bastante templada, deixando o toiro ganhar folgo entre as séries e com isso conseguindo realizar cinco tandas, quatro delas pelo piton direito e uma pelo esquerdo, com o toiro sempre a perseguir o engano com codícia, por direito e repetindo sempre fijo na muleta. Voltou a formar-se um alvoroço na praça. Na memória fica o final da 5ª série onde se desenhou um estupendo cambio de mano e um passe de peito que parecia não ter fim, já para não falar da enorme estocada (a única da corrida) que levou a que, depois de uma forte petição, o director concede-se duas orelhas. Palmas no arraste.

         O outro de excelente condição foi o 1º da corrida, um colorado, marcado com o número 185, nascido em Fevereiro de 2007 e que pesou 531kg. Pena que este encontrou um Aparício pouco inspirado na muleta. Foi neste Cuvillo que aconteceram os melhores lances de capote, tanto no recibo por verónicas, que arrancou a primeira ovação da tarde, como nos quites após a segunda vara, onde Aparicio desenhou mais verónicas de gosto e sentimento, que rematou com uma revolera lindíssima. Morante não quis ficar por atrás e foi também ele por mais um quite de verónicas templadisimas, deixando a Maestranza rendida aos encantos de dois artistas a manejar o capote. Depois de um tercio de bandarilhas onde o melhor alternou com o pior, sendo um dos bandarilheiros aplaudido e o outro colhido (felizmente sem gravidade) a faena de muleta, que muito prometia devido à boa condição do toiro, apenas teve duas séries de derechazos onde houve emoção, as duas primeiras. Daí em diante a faena arrefeceu cada vez mais, com o sevillano a não conseguir ligar os muletazos e sem lhe baixar a mão. Matou de uma meia estocada descaída, quando o toiro ainda tinha muito para dar. Toiro aplaudido no arraste, toureiro assobiado.

         Dos restantes três toiros da corrida, embora haja menos para contar, todos eles tiveram coisas interessantes. O segundo de Aparicio (4º da corrida), um negro mulato, de 504kg teve um comportamento estranho em varas, renunciando à batalha no primeiro puyazo mas entregando-se muitíssimo na segunda vara, arrancando-se com prontidão, investindo por baixo e empurrando por direito. Talvez este puyazo, que foi o mais emocionante da corrida, tenha reduzido em demasia as capacidades do toiro, não permitindo que se entregasse na faena de muleta, tornando-se impossível de tourear, chegando mesmo ao ponto de se querer deitar na arena. Aparicio estoqueou-o ao terceiro intento, depois de uma faena de muleta sem história. Assobios (injustos) para Aparicio, alguns assobios e algumas palmas para o Nuñez del Cuvillo.

         Quanto ao lote de Morante de la Puebla, à semelhança do de Julio Aparicio, teve um toiro “toureavel” e um impossível. O “toureavel” foi o sobreiro, que saiu após o 2º ter sido recolhido por perder as mãos. Neste Cuvillo, um negro, marcado com o número 148, nascido em Janeiro de 2007 e de 519kg, Morante fez o que o toiro lhe permitiu, escondendo alguns dos seus defeitos e conseguindo desenhar quatro boas séries de muleta pelo lado direito, no inicio da faena, com particular destaque para a segunda tanda, onde o toiro investiu a trote, deixando a Maestranza a respirar arte. Na quinta e na sexta série os ânimos foram-se resfriando, tornando-se assim numa faena que foi a menos, uma vez que começou a faltar toiro. O sevillano matou-o com o descabello depois de menos de meia estocada traseira. Palmas para Morante e algumas palmas para o toiro. O 5º da corrida não teve história. De pelagem colorado bragado, nº 105, nascido em Outubro de 2006 e de 516kg de peso, saiu com “chispa” dos toriles mas rapidamente revelou a sua mansidão. No cavalo não se entregou em nenhum dos puyazos, nas bandarilhas custava-lhe a arrancar-se e arreava para tábuas, na muleta revelou crenças, tinha meias investidas e descompostas. Morante descabelhou-o à 3ª tentativa, após menos de meia estocada. Silêncio.  

         E assim decorreu a 6ª corrida da feira de Abril, 7ª do abono. Quem a presenciou desfrutou do inicio ao fim, no final havia unanimidade de opiniões, coisa difícil no mundo dos toiros, e felizmente as opiniões eram bastante positivas. Corrida que seguramente vai ficar para a história da tauromaquia em geral e na historia de Manzanares, de Nuñez del Cuvillo e da Maestranza em particular, que já não presenciava um indulto desde o ano de 1965, quando um novilho de Marquês de Albacerrada saiu também pelo próprio pé. Festa dos toiros ao mais alto nível!        

         

 

 

 

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