Em Arruda só houve Festa, do lado de fora da praça.
17 de Agosto de 2011 - 15:49h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: - Visto: 2281 |
A primeira corrida em Arruda dos Vinhos, integrada nas festas em honra da Nossa Senhora da Conceição, registou três quartos de casa bem preenchidos quase a encher a lotação da praça. O ambiente de festa ladeava a praça de toiros de Arruda, com concertos ao vivo, os tradicionais carrosséis, comes e bebes e um público que compareceu interessado mas que demasiado cedo percebeu ao que ia...uma tremenda e calamitosa “mansada”. Sem matéria- prima, as bancadas queixaram-se do preço dos bilhetes e enviaram, para quem de direito, algumas piadas que me recuso a transpor para aqui. Os artistas inebriados pela mansidão, lá se deixaram contagiar e praticamente limitaram-se a despachar serviço.
A ganadaria de Manuel Coimbra destinou-se para os cavaleiros. No geral, saíram em praça quatro gatinhos sem bigodes mas com duas hastes, em particular os dois primeiros que logo iraram as bancadas.
Manuel Veiga enviou dois exemplares para o matador de toiros António Ferrera que foram ligeiramente melhores que os Coimbra. O último da noite foi o menos mau mas não o suficiente para salvar a péssima corrida a que se assistiu.
Mas vamos às actuações da corrida e desta vez vou ser breve, pouco ou nada vou descrever quanto à ferragem pois quase nada mais há para contar.
Luís Rouxinol recebeu o primeiro manso, um gatinho que queria somente enroscar-se no conforto das tábuas, sem mobilidade, com nítidas dificuldades visuais e muito desinteresse, lá foi colocando a ferragem sem grande brilho algum. O cavaleiro de Pegões aplicou-se, tentou que a lide fosse diferente mas sem êxito. O público aplaudiu uma volta à arena que não devia ter sido dada na esperança de em seguida ver toiros.
O segundo do lote era andarilho, bateu que se fartou no cavaleiro, empurrou com violência por duas vezes, numa delas ensanguentando a montada junto às tábuas do sector 1. Rouxinol colocou tudo à garupa e terminou a lide com uma rosa. No fim recusou-se e bem a dar a volta.
João Telles Júnior recebeu um gatinho carente de afectos que nunca quis saber de mais nada senão da porta de onde tinha saído, nem mesmo depois de dois compridos colocados nas suas costas para o espevitar. O público reagiu com muita força e o director de corrida lá ordenou a recolha do exemplar. Veio o segundo do lote que obrigou o cavaleiro a dar três voltas à praça com o toiro na garupa. O público entusiasmou-se, julgou que iria finalmente haver bravura à vista mas enganou-se. Após três compridos à tira, o toiro desistiu de lutar e a lide acabou logo ali, apesar do empenho de João Telles Júnior que foi ao centro da arena agradecer.
O cavaleiro da Torrinha ainda tinha de receber o “sobrero”, que era em apresentação e comportamento muito diferente dos anteriores. Havia mais força neste exemplar que nos antecessores e após mais três compridos à tira, efectuou uma série de cinco curtos em que o cavaleiro citou de praça a praça, esperando o arranque do toiro e cravando ao piton contrário. Foi a melhor lide das quatro a cavalo a que se assistiu e com tanta fome de toureio até se perdoa um empurrão para as tábuas que quase colocavam novamente Telles Júnior na trincheira.
António Ferrera goza de um estatuto ímpar em Portugal, quanto ao que de matadores diz respeito. As muitas actuações que tem por cá feito e a garra que sempre coloca em cada aparição sua, angariaram o carinho do público. Recebeu o primeiro do lote que apesar de humilhar apresentava uma investida desconjuntada. No capote passou sem arte. Nas bandarilhas faltou o poder do costume e na muleta, muitas dificuldades em sacar o que fosse.
O seu segundo tinha outro som, investia franco e repetia as investidas. No capote uma série de três “chicuelinas” é tudo o que há para contar. Nas bandarilhas colocou três pares já cheios de garra e que aqueceram as bancadas que de emoção careciam. Na muleta sentou-se no pedal das tábuas e depois de joelhos testou um toiro que via o engano, tinha som e vontade. Três boas séries de “derechazos“ com o toiro a repetir a gosto e com o público a levantar-se em aplausos. Uma curta série de naturais mostraram que por ali o toiro não era o mesmo e voltou para a mão direita para adornar em exagero uma faena que foi de mais a menos, tal como o toiro. Simulou a receber em sorte natural. No final duas voltas à arena.
Na forcadagem, dois grupos de forcados, Vila Franca e Aposento da Moita, que tiveram uma noite igual entre si. Ninguém pegou à primeira e a história é sempre a mesma, o toiro partiu, ensarilhou e ficaram sempre fora da cara. Apenas merece a pena ser de destaque, o 1º ajuda na primeira do Aposento da Moita que colocou o forcado na cara do toiro, quando parecia ser de todo impossível fazê-lo.
Que hoje em Arruda haja bravura!