Quem triunfou da abertura do Campo Pequeno?
10 de Abril de 2010 - 01:50h | Crónica por: Sara Teles - Fonte: - Visto: 1967 |
Catedral do toureio equestre, bendita hora que renasceste!
Abriu a nossa grande temporada com um cartel atractivo que apesar da transmissão em directo para a RTP e dos quartos de final do Benfica da Liga Europa, quase encheu a praça.
A praça da capital abriu com emoção e cor e um absoluto triunfo de António Telles. O consagradíssimo cavaleiro esteve indescritível, foi pleno e perfeito.
Com um curro de toiros da Herdade de Pégoras, difíceis e sem bravura, que regra geral transmitiam somente nas reuniões, era preciso muita arte e muito domínio e só o maestro António Telles as dominou em ambas as lides, engrandecendo a festa e a arte marialva – claramente superior ao rejoneio. É que lhe saem as sortes com tal definição, sintéticas mas tão transcendentalmente delineadas que são em cada segundo uma arte unívoca. É um enorme conhecedor do comportamento dos toiros e atravessa um momento extraordinário na sua carreira que cumpre apreciar – apreciar com acuidade.
Apesar de ter sido brilhante na primeira lide, João Salgueiro não igualou e como vimos, recusou a volta no segundo. Houvesse Salgueiro repetido a explosão de emotividade que impôs no primeiro toiro e de certeza muitas opiniões se dividiriam na atribuição do triunfo. Sucede que Salgueiro mostrou nesta corrida o que têm sido os mais recentes anos da sua carreira: genialidade com irregularidade. E assim perdeu o que seria uma grande conquista na sua carreira que seria a vingança sobre toda a polémica que se gerou no passado ano naquele mesmo tauródromo. Mas ficam as imagens de um Salgueiro de antologia na brega poderosa, ferros cingidos frontais, recortes e espectacularidade.
De Leonardo Hernandez não há muito a dizer. É um rejoneador que busca o estilo marialva mas que encontra dificuldades em se situar. O toureio de frente que pratica, tem nos ruedos espanhóis um diferente temple. Não pode cá, com os toiros muito menos castigados, entrar com “tonteria” para as reuniões como o fez esta noite sob pena de lhe sucederem desgraças maiores que os vários toques que recebeu à montada. É dual a posição dos rejoneadores em Portugal, toiros menos castigados que são mais duros mas que estão embolados e permitem maior sujeição das montadas. Hernandez esteve mal no seu primeiro, andando nas sortes roçando a loucura e desajustado. Muito aplaudido na segunda lide, não deixou memórias de grande faena aos apaixonados desta arte. Foi adornado, recortou-se em terrenos apertados, deu brega e fez um espectáculo mas faltou-lhe o conteúdo naquilo que é verdadeiramente o toureio. Cada sorte foi executada com aparato mas sem perfeição com ferros pescados ou mal colocados. Saiu da catedral com o público de pé a aplaudir isso é que é certo.
Não é possível afirmar quem foi o triunfador absoluto sem comprar uma discussão. Cada sujeito subjectivo sentiu coisas diferentes em diferentes momentos; e é essa a variedade da festa.
Foi mesmo um espectáculo completo o desta noite na Catedral.
Fortes sentimentos assim que as numerosas jaquetas lisboetas pisaram a arena para a despedida de um dos cabos mais paradigmáticos da actualidade. Despediu-se José Luís Gomes, entregou a jaqueta ao filho – Pedro Maria Gomes, que personifica em hipérbole o que é ser forcado, olhando para o dramático percurso que a sua carreira quase tomou reencontrou-se com a que é a arte para que nasceu.
Esta noite, depois de uma importante pega do seu pai, Pedro Maria Gomes não teve o gosto de pegar à primeira tentativa, sendo contudo verdade que pegou o mais difícil e duro do curro.
Depois, o irmão Gonçalo, forcado de garra, foi a extraordinária da noite que levantou o conclave.
Ainda Francisco Mira, não foi perfeito mas esteve perto, concretizou a pega como lhe é hábito, fazendo parecer fácil o que não é.
E, se João Lucas não esteve bem, faltando a várias regras da ordem, terminou Pedro Miranda com garra ao primeiro intento.
Claro, aqui não há triunfos, todos eles triunfadores da longa tradição que vestem na jaqueta. O grupo de Lisboa viveu uma grande efeméride e à sua jaqueta um sonoro olé!